Frases
""Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem"Robert Musil em O Homem sem Qualidades
"Strange times are these in which we live when old and young are taught in falsehoods school. And the one man that dares to tell the truth is called at once a lunatic and fool"
Platão.
=
"If you are neutral in situations of injustice, you have chosen the side of the oppressor. If an elephant has its foot on the tail of a mouse and you say that you are neutral, the mouse will not appreciate your neutrality."
Bishop Desmond Tutu
=
"He does not believe who does not live according to his belief." -
Thomas Fuller
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Be alert that dictators have always played on the natural human tendency to blame others and to oversimplify. And don't regard yourself as a guardian of freedom unless you respect and preserve the rights of people you disagree with to free, public, unhampered Expression:
Gerard K. O'Neill, 2081
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The greatest dangers to liberty lurk in insidious encroachment by men of zeal, well-meaning but without understanding:
Louis D. Brandeis
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Morality is the best of all devices for leading mankind by the nose:
Friedrich Nietzsche, The Antichrist
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The Framers of the Bill of Rights did not purport to "create" rights. Rather, they designed the Bill of Rights to prohibit our Government from infringing rights and liberties presumed to be preexisting:
Justice William J. Brennan, 1982
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We need a type of patriotism that recognizes the virtues of those who are opposed to us. We must get away from the idea that America is to be the leader of the world in everything. She can lead in some things. The old "manifest destiny" idea ought to be modified so that each nation has the manifest destiny to do the best it can - and that without cant, without the assumption of self-righteousness and with a desire to learn to the uttermost from other nations:
Francis John McConnell
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We will bankrupt ourselves in the vain search for absolute security:
Dwight David Eisenhower : 34th president of the United States, 1890-1969
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I have named the destroyers of nations: comfort, plenty, and security - out of which grow a bored and slothful cynicism, in which rebellion against the world as it is, and myself as I am, are submerged in listless self-satisfaction :
John Steinbeck: American novelist, Nobel Prize for Literature for 1962, 1902-1968
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The only security for the American people today, or for any people, is to be found through the control of force rather than the use of force :
Norman Cousins: American essayist and editor, long associated with the Saturday Review, 1912-1990
Power always has to be kept in check; power exercised in secret, especially under the cloak of national security, is doubly dangerous :
William Proxmire
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Military justice is to justice what military music is to music.:
Groucho Marx: American comedian, actor and singer, 1890-1977
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In war, there are no unwounded soldiers:
Jose Narosky
26 dezembro, 2014
08 novembro, 2014
Desemprego como empreendedorismo
“Caos” Weselsky, o maquinista que paralisou a Alemanha de Merkel
Frederico Füllgraf
sex, 07/11/2014 - 22:21
Atualizado em 08/11/2014 - 04:01
Frederico Füllgraf
Exclusivo para Jornal GGN
A Saxônia alemã foi berço de muitos luminares.
Lá nasceram e presentearam o mundo com suas obras sublimes, artistas como Clara e Robert Schumann, o mitológico Richard Wagner, mas também seu “melhor inimigo”, o ensaísta e filósofo Friedrich Nietzsche.
Povo altivo e não menos brioso, alguns saxões entraram para a História como a turma do barulho. Se Nietzsche foi considerado um arrogante iconoclasta pela pompa prussiana do séc. XIX terminal, seu conterrâneo e também celebridade internacional, Georg Baselitz, chocou os salões de belas artes nos idos de 1960, desvelando uma tela de dois metros por um e meio, na qual um garoto com pênis enorme se masturbava – espanto e ohs! entre os bem pensantes e bem vestidos. Sentindo-se insultados, o quadro “A grande noite vai pro brejo” foi rapidamente banido das galerias e Baselitz autuado por “incitação à pornografia”.
Mas enquanto Nietzsche e Baselitz sentiam apenas prazer em irritrar a burguesia, Karl Liebknecht – um saxão dissidente do partido socialdemocrático e co-fundador com Rosa Luxemburgo do partido comunista alemão, KPD – estava mesmo decidido a derrubá-la do poder. Não teve sorte: em janeiro de 1919, foi assassinado com Rosa pelos paramilitares de Gustav Noske, o chefão da polícia do SPD.
Foi nesse Zeitgeist do opróbio, quando a serpente nazista punha seus ovos, que cresceu Walter Ulbricht – este, sim, um saxão maldito! Não porque era comuna e primeiro-ministro da RDA, mas porque em 1963 mandou construir aquele Muro, nefando e feio, que ruiu em 9 de novembro de 1989, depois de dividir Berlim ao meio.
Weselksy, o bad boy
Naqueles dias, um jovem maquinista manobrava locomotivas na estação ferroviária de Kreischa, Saxônia profunda. Não-filiado ao estalinista SED no poder, prejudicara sua carreira e sonhava apenas aquele sonho circular dos perdedores, no qual não cabia qualquer utopia. Por exemplo, que em surdina, Mikhail Gorbatchev conspirava contra o fim daquele socialismo aborrecível, cujos súditos só assistiam e se reconheciam na TV do Ocidente capitalista, ou que, um belo dia, ele – o apagado maquinista – não paralisasse apenas um trem, mas a Alemanha toda, unificada.
A idiossincrasia de um país também se descreve com adágios, e da Alemanha se diz que lá os trens nunca atrasam. Não atrasavam, até entrar em cena Claus Weselsky, o ex-manobrista Ossie, apodo pejorativo dado aos orientais. Sua ironia foi desafiar seu empregador, a estatal Deutsche Bundesbahn (DB), e peitar a poderosa Angela Merkel, sua conterrânea na antiga RDA.
No comando do GDL – Sindicato dos Maquinistas Alemães, um dos mais antigos sindicatos do pais, fundado em 1919, e em greve pela segunda vez em 2014, Weselsky parou a Alemanha, fazendo jus ao trocadilho com seu nome, Claus, reverberado pelo país afora como sinônimo de caos.
Desafiando a República Neoliberal Merkeliana
Os 19.000 maquinistas comandados por Weselsky ganham em média 2.700 Euros (aprox. 8.100 Reais), e cobram 5% de aumento mais uma redução da jornada de 39 horas semanais; sobretudo em virtude do estresse adicional ocasionado pela parafernália de operações digitais que lhes são cobradas com a modernização das ferrovias e a operação do trem bala ICE, que mais voa do que desliza sobre os trilhos, com seus 350 km horários.
Além do aumento e da redução de jornada – que a mídia alardeia como inaceitável composição de 15% - Weselsky luta pela incorporação ao GDL dos 17.000 manobristas de estação e comissários de bordo dos trens de passageiros, representados pelo rival EVG – Sindicato de Transportes e de Ferrovias. Denunciando o EVG como “sindicato pelego”, o Ossie entrou em rota de colisão não apenas com as ferrovias federais, mas com a central sindical DGB, desde sempre comandada pelos socialdemocratas que dividem o governo com a democracia-cristã de Angela Merkel.
A briga é de cachorro grande e ataca o cerne da lógica neoliberal: durante a modernização e automação da malha ferroviária, iniciada pelos próprios socialdemocratas, a estatal DB - cuja missão estatutária é prestar serviços à cidadania e não privilegiar o lucro – incorporou o agressivo modelo de administração privada, desfez-se de diversos ramais “não lucrativos” e os entregou às empresas particulares Abellio, Arriva, Benex, Hessische Landesbahn, Keolis e Veolia. Espertas, aos seus 6.000 maquinistas estas pagam salários 30% inferiores ao piso da estatal, por isso também punidas com seus trens paralisados nas estações. Contudo, a dialética perversa que se expressa no conflito é que o arrocho praticado pelas ferrovias privadas encoraja a estatal ao jogo duro.
Estimando o estrago em 100 milhões de Euros/dia, a DB concordou com os 5% de aumento, mas escalonados ao longo de 30 meses, oferecendo ainda um vergonhoso cala-boca de 325 Euros na mão. Não houve acordo: nesta sexta-feira o conflito foi parar na Justiça.
Luta de classes: da rua para a mídia
Num país onde a distância máxima a percorrer – por exemplo, os 850 km de Munique a Hamburgo – desestimula a utilização do avião e faz milhões de profissionais optar pelo trem, confortável e seguro, a greve dos ferroviários foi enfrentada com hostilidade. No Twitter, o líder sindical foi provocado com a pergunta ameaçadora, se “por acaso tem um guarda-costas confiável”, e o tablóide sensacionalista “Bild” (tiragem: 2,43 milhões de exemplares diários vendidos) o apelidou de “megalotrem-maníaco”.
“Quando executivos perpetram seus ´ajustes na folha de pagamento´, nós damos de ombros”, escreve Jacob Augstein - maior acionista do semanário “Der Spiegel” e, curiosamente, a única pena que escreve à esquerda. E fulmina: “Já quando os menos favorecidos lutam por seus interesses, todo mundo se indigna. A greve dos ferroviários não é nenhum escândalo, mas um verdadeiro presente. Ela nos faz recordar o poder dos trabalhadores”.
Gloriosos os tempos em que a federação dos metalúrgicos IG-Metall paralisava os altos fornos e a indústria aumobilítistica nos idos de 1970. Ou quando os trabalhadores gráficos e jornalistas, agrupados na federação IG-Druck, paravam as redações de jornais e as rotativas!
O “efeito Merkel” da desindexação da Economia e “flexibilização” do mercado de trabalho, onde o homem voltou a ser o lobo do homem, contaminou a memória e intoxicou o velho instinto da solidariedade.
“Isso nós esquecemos”, prossegue Augstein: “O vendaval da opinião pública sopra de modo tão cortante na cara de Weselsky, porque com o andar da carruagem não poucas pessoas recomendam que os trabalhadores tratem de aceitar o que o chefe lhes paga, ou que calem o bico”.
Byung-Chul Han, filósofo alemão de origem coreana, escreveu:”O neoliberalismo faz do trabalhador oprimido um livre empreendedor, um empresário de si mesmo. Hoje em dia, todo mundo é um trabalhador auto-explorado por sua própria ´empresa´. Todo mundo é senhor e servo na mesma pessoa. Também a luta de classes transmuta-se em luta do homem consigo mesmo. Hoje em dia, quem fracassa, auto-acusa-se e sente vergonha. As pessoas questionam a si mesmas, ao invés da sociedade”.
A citação é credito de Augstein, que alerta: “A luta de classes não ocorre mais nas ruas e, sim, no foro íntimo. Margaret Thatcher teve que combater os sindicatos com violência policial – linchamento hoje plenamente assumido pela mídia”.
A segunda ironia: Weselsky é filiado ao partido democrata-cristão de Angela Merkel.http://jornalggn.com.br/blog/frederico-fuellgraf/“kaos”-weselsky-o-maquinista-que-paralisou-a-alemanha-de-merkel#.VF1iEIMSKzI.twitter
Frederico Füllgraf
sex, 07/11/2014 - 22:21
Atualizado em 08/11/2014 - 04:01
Frederico Füllgraf
Exclusivo para Jornal GGN
A Saxônia alemã foi berço de muitos luminares.
Lá nasceram e presentearam o mundo com suas obras sublimes, artistas como Clara e Robert Schumann, o mitológico Richard Wagner, mas também seu “melhor inimigo”, o ensaísta e filósofo Friedrich Nietzsche.
Povo altivo e não menos brioso, alguns saxões entraram para a História como a turma do barulho. Se Nietzsche foi considerado um arrogante iconoclasta pela pompa prussiana do séc. XIX terminal, seu conterrâneo e também celebridade internacional, Georg Baselitz, chocou os salões de belas artes nos idos de 1960, desvelando uma tela de dois metros por um e meio, na qual um garoto com pênis enorme se masturbava – espanto e ohs! entre os bem pensantes e bem vestidos. Sentindo-se insultados, o quadro “A grande noite vai pro brejo” foi rapidamente banido das galerias e Baselitz autuado por “incitação à pornografia”.
Mas enquanto Nietzsche e Baselitz sentiam apenas prazer em irritrar a burguesia, Karl Liebknecht – um saxão dissidente do partido socialdemocrático e co-fundador com Rosa Luxemburgo do partido comunista alemão, KPD – estava mesmo decidido a derrubá-la do poder. Não teve sorte: em janeiro de 1919, foi assassinado com Rosa pelos paramilitares de Gustav Noske, o chefão da polícia do SPD.
Foi nesse Zeitgeist do opróbio, quando a serpente nazista punha seus ovos, que cresceu Walter Ulbricht – este, sim, um saxão maldito! Não porque era comuna e primeiro-ministro da RDA, mas porque em 1963 mandou construir aquele Muro, nefando e feio, que ruiu em 9 de novembro de 1989, depois de dividir Berlim ao meio.
Weselksy, o bad boy
Naqueles dias, um jovem maquinista manobrava locomotivas na estação ferroviária de Kreischa, Saxônia profunda. Não-filiado ao estalinista SED no poder, prejudicara sua carreira e sonhava apenas aquele sonho circular dos perdedores, no qual não cabia qualquer utopia. Por exemplo, que em surdina, Mikhail Gorbatchev conspirava contra o fim daquele socialismo aborrecível, cujos súditos só assistiam e se reconheciam na TV do Ocidente capitalista, ou que, um belo dia, ele – o apagado maquinista – não paralisasse apenas um trem, mas a Alemanha toda, unificada.
A idiossincrasia de um país também se descreve com adágios, e da Alemanha se diz que lá os trens nunca atrasam. Não atrasavam, até entrar em cena Claus Weselsky, o ex-manobrista Ossie, apodo pejorativo dado aos orientais. Sua ironia foi desafiar seu empregador, a estatal Deutsche Bundesbahn (DB), e peitar a poderosa Angela Merkel, sua conterrânea na antiga RDA.
No comando do GDL – Sindicato dos Maquinistas Alemães, um dos mais antigos sindicatos do pais, fundado em 1919, e em greve pela segunda vez em 2014, Weselsky parou a Alemanha, fazendo jus ao trocadilho com seu nome, Claus, reverberado pelo país afora como sinônimo de caos.
Desafiando a República Neoliberal Merkeliana
Os 19.000 maquinistas comandados por Weselsky ganham em média 2.700 Euros (aprox. 8.100 Reais), e cobram 5% de aumento mais uma redução da jornada de 39 horas semanais; sobretudo em virtude do estresse adicional ocasionado pela parafernália de operações digitais que lhes são cobradas com a modernização das ferrovias e a operação do trem bala ICE, que mais voa do que desliza sobre os trilhos, com seus 350 km horários.
Além do aumento e da redução de jornada – que a mídia alardeia como inaceitável composição de 15% - Weselsky luta pela incorporação ao GDL dos 17.000 manobristas de estação e comissários de bordo dos trens de passageiros, representados pelo rival EVG – Sindicato de Transportes e de Ferrovias. Denunciando o EVG como “sindicato pelego”, o Ossie entrou em rota de colisão não apenas com as ferrovias federais, mas com a central sindical DGB, desde sempre comandada pelos socialdemocratas que dividem o governo com a democracia-cristã de Angela Merkel.
A briga é de cachorro grande e ataca o cerne da lógica neoliberal: durante a modernização e automação da malha ferroviária, iniciada pelos próprios socialdemocratas, a estatal DB - cuja missão estatutária é prestar serviços à cidadania e não privilegiar o lucro – incorporou o agressivo modelo de administração privada, desfez-se de diversos ramais “não lucrativos” e os entregou às empresas particulares Abellio, Arriva, Benex, Hessische Landesbahn, Keolis e Veolia. Espertas, aos seus 6.000 maquinistas estas pagam salários 30% inferiores ao piso da estatal, por isso também punidas com seus trens paralisados nas estações. Contudo, a dialética perversa que se expressa no conflito é que o arrocho praticado pelas ferrovias privadas encoraja a estatal ao jogo duro.
Estimando o estrago em 100 milhões de Euros/dia, a DB concordou com os 5% de aumento, mas escalonados ao longo de 30 meses, oferecendo ainda um vergonhoso cala-boca de 325 Euros na mão. Não houve acordo: nesta sexta-feira o conflito foi parar na Justiça.
Luta de classes: da rua para a mídia
Num país onde a distância máxima a percorrer – por exemplo, os 850 km de Munique a Hamburgo – desestimula a utilização do avião e faz milhões de profissionais optar pelo trem, confortável e seguro, a greve dos ferroviários foi enfrentada com hostilidade. No Twitter, o líder sindical foi provocado com a pergunta ameaçadora, se “por acaso tem um guarda-costas confiável”, e o tablóide sensacionalista “Bild” (tiragem: 2,43 milhões de exemplares diários vendidos) o apelidou de “megalotrem-maníaco”.
“Quando executivos perpetram seus ´ajustes na folha de pagamento´, nós damos de ombros”, escreve Jacob Augstein - maior acionista do semanário “Der Spiegel” e, curiosamente, a única pena que escreve à esquerda. E fulmina: “Já quando os menos favorecidos lutam por seus interesses, todo mundo se indigna. A greve dos ferroviários não é nenhum escândalo, mas um verdadeiro presente. Ela nos faz recordar o poder dos trabalhadores”.
Gloriosos os tempos em que a federação dos metalúrgicos IG-Metall paralisava os altos fornos e a indústria aumobilítistica nos idos de 1970. Ou quando os trabalhadores gráficos e jornalistas, agrupados na federação IG-Druck, paravam as redações de jornais e as rotativas!
O “efeito Merkel” da desindexação da Economia e “flexibilização” do mercado de trabalho, onde o homem voltou a ser o lobo do homem, contaminou a memória e intoxicou o velho instinto da solidariedade.
“Isso nós esquecemos”, prossegue Augstein: “O vendaval da opinião pública sopra de modo tão cortante na cara de Weselsky, porque com o andar da carruagem não poucas pessoas recomendam que os trabalhadores tratem de aceitar o que o chefe lhes paga, ou que calem o bico”.
Byung-Chul Han, filósofo alemão de origem coreana, escreveu:”O neoliberalismo faz do trabalhador oprimido um livre empreendedor, um empresário de si mesmo. Hoje em dia, todo mundo é um trabalhador auto-explorado por sua própria ´empresa´. Todo mundo é senhor e servo na mesma pessoa. Também a luta de classes transmuta-se em luta do homem consigo mesmo. Hoje em dia, quem fracassa, auto-acusa-se e sente vergonha. As pessoas questionam a si mesmas, ao invés da sociedade”.
A citação é credito de Augstein, que alerta: “A luta de classes não ocorre mais nas ruas e, sim, no foro íntimo. Margaret Thatcher teve que combater os sindicatos com violência policial – linchamento hoje plenamente assumido pela mídia”.
A segunda ironia: Weselsky é filiado ao partido democrata-cristão de Angela Merkel.http://jornalggn.com.br/blog/frederico-fuellgraf/“kaos”-weselsky-o-maquinista-que-paralisou-a-alemanha-de-merkel#.VF1iEIMSKzI.twitter
14 outubro, 2014
Orkut e a Crise dos antipobre
Rafael Castilho: Fim
do Orkut fecha a Praia Grande das redes sociais
publicado em 2 de
outubro de 2014 às 9:50
quinta-feira, 3 de
julho de 2014
O fim do Orkut e o
preconceito social na internet
por Rafael Castilho,
em seu blog
O fim do site de
relacionamentos Orkut poderia ser analisado tão somente como um
fenômeno do mercado da internet e da tecnologia. Seria possível
pensarmos em como é efêmero o sucesso nesta sociedade de consumo e
a velocidade com que as modas passam no mercado digital.
Mas existem outras
questões que colaboraram decisivamente para o ocaso instantâneo do
Orkut e seu inevitável fim.
Eu que não sou nada
atento às tendências da internet, ainda que tenha um blog muito
prosaico há quase quatro anos, certa vez cometi uma gafe que não
pensava ser tão grave. Ao ver duas amigas posando para uma foto com
uma belíssima paisagem ao fundo, exclamei:
– Olha só! Foto
para Orkut, heim?
A resposta foi seca
e amarga:
– Facebook, por
favor…
Fiquei intrigado em
tentar saber o porquê de o Orkut, outrora tão badalado, causava
agora constrangimento e embaraço.
Não sou do tipo que
se atualiza rápido. Demoro em perceber certas novidades cotidianas.
Parecia-me muito curioso me dar conta que as mesmas pessoas que até
outro dia se divertiam e se esbaldavam no Orkut, agora se mudavam
rapidamente para o Facebook. Uma debandada instantânea que parecia
dizer: “o último que sair é o mais brega”.
Na ocasião me
ocorreu dizer que o Orkut era a Praia Grande dos sites de
relacionamento. Todo mundo havia se divertido aos montes por lá. Mas
agora, algumas pessoas sentiam vergonha de dizer.
Entre outras coisas,
o Orkut
morreu porque as classes pobres que recém descobriam a internet
passaram a frequentar a rede social. Rapidamente, o site ficou
identificado como “coisa de pobre” na internet.
No Facebook
estaríamos mais protegidos dessa “gente de mau gosto”.
Imediatamente à
migração coletiva, muitos comentários na nova rede reclamavam de
uma suposta “orkutização” do Facebook.
O
Brasil é o país dos camarotes Vips. Seja nas baladas,
nos estádios de futebol, no carnaval, nos hospitais, nas escolas e
universidades. Não seria diferente na internet.
O
grande pavor que redundou no fim do Orkut é a igualdade social.
A desigualdade já faz parte da vida mental dos brasileiros.
Estar no mesmo “status” ou “comunidade” de gente considerada
“abaixo” nas classes sociais, faz com que as pessoas
ameaçadoramente pareçam iguais. E o brasileiro sente
horror à igualdade.
Na internet
circulavam, e de alguma maneira ainda circulam, as chamadas pérolas
do Orkut. São fotografias com pessoas se divertindo de maneira
supostamente ridícula. Coisa de pobre, diriam uns e outros.
A recente mobilidade
social, ainda que tímida, permitiu com que boa parte da população
pudesse desfrutar certos bens de consumo e frequentarem espaços onde
antes sequer poderiam entrar.
É absolutamente
compreensível que ao aspirar pertencer ao que
se entende por classe média, as pessoas incorporem certos códigos
socialmente identificados com o sucesso econômico.
A
foto de uma pessoa tomando uísque junto à piscina de plástico pode
parecer ridícula para quem está acostumado a frequentar locais de
veraneio. Do mesmo modo que para um
estrangeiro pode parecer curioso um brasileiro de classe média
voltando de viagem com uma dezena de malas cheias de mercadorias de
lojas que para eles são tão comuns.
O desejo de consumo
das classes pobres causa espanto em quem se acostumou a desfrutar uma
posição relativamente privilegiada na pirâmide social. Melhor
seria se os pobres dessem atenção às suas necessidades
consideradas básicas como educação e moradia. Porém, na prática
não é assim que funciona. Neste
país o prestígio está diretamente ligado ao poder de compra. À
aquisição de bens de consumo e de certos códigos de riqueza, que
na prática funcionam como crachás de distinção social.
Qual o triunfo mais
visível do neoliberalismo senão a construção de uma sociedade
individualista onde o desejo de consumo orienta, motiva e movimenta
as populações. Criamos uma sociedade em que
você vale o que você tem. Se assim funciona em todas as
esferas, por que então a população pobre desejaria coisas
diferentes do que é valorizado no conjunto da sociedade?
É bem verdade que
pode parecer esquisito uma pessoa ainda não acostumada a desfrutar
de certos bens de consumo ostentando isso na internet. Porém, mais
sofrível que isso é quando a indústria cultural se apropria de
certas expressões culturais das classes pobres brasileiras,
resignificando e colocando em nova embalagem para a classe média
consumir.
Daí surgem
aberrações
como o Baile Funk para “Patricinhas” e “Mauricinhos”, além
do Forró ou o Sertanejo “Universitários”.
Apropriam-se de expressões culturais originais, subtraindo um
sentimento genuíno que aparentemente é inconveniente do ponto de
vista estético e transformam num movimento que
embora se chame “universitário”, não tem nada de inteligente.
Ao contrário, serve
como expressão de exclusão e preconceito.
A menina que tira
foto de biquíni, tomando sol na laje de uma casa na periferia
brasileira pode parecer ridículo. Ora, o que falar então do
filhinho de papai que sai cantando por aí que “o Morro do Dendê é
ruim de invadir”?
O fim do Orkut nos
mostra que a inclusão daqueles que estavam “em baixo” na
sociedade, automaticamente exerce uma pressão para os que outrora
estavam “em cima” subam mais ainda. A simples promessa de
igualdade com quem antes estava abaixo na escala social, faz com que
alguns automaticamente se sintam mais pobres. Isso vai muito além
das redes sociais. É algo que se sente nas grandes cidades
brasileiras. Não
é à toa que vivemos uma crise de percepção de felicidade nas
classes médias urbanas e que exista uma insatisfação
crônica em certos setores. Muitos
sentem-se mais pobres ou com a necessidade de se tornarem mais ricos.
A classe média
sente pavor da pobreza. Até porque a classe média brasileira ainda
é muito recente. Na vida das pessoas ainda é muito viva a memória
de pobreza. São muito raras as famílias que têm três gerações
de abastados. Em geral, as lembranças ainda são de um passado em
que os avós eram retirantes ou imigrantes esfomeados. Esta é uma
lembrança que atormenta.
As
“pérolas do Orkut” causavam pavor porque as pessoas se viam
naquelas condições. Só achavam graça porque conhecem muito bem
aquela realidade.
A
classe média se alia politicamente e incorpora como seus os
interesses da elite. Tudo isso num enorme esforço de pertencimento.
Da mesma forma que
usam grifes de roupas caras costuradas por algum trabalhador
escravizado em alguma oficina clandestina escondida por aí.
Incorporam novos códigos para pertencer.
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/rafael-castilho-fechou-praia-grande-das-redes-sociais.html
Perfeito Idiota Brasileiro
Idiota à brasileira
Ele fura fila. Ele estaciona atravessado. Acha que pertence a uma casta privilegiada. Anda de metrô - mas só no exterior. Conheça o PIB (Perfeito Idiota Brasileiro). E entenda como ele mantém puxado o freio de mão do nosso país
por Adriano Silva* | Edição: Alexandre Versignassi
Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de "tigres" - porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras. O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas - nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d'água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto - transformar quem o cerca em seus otários particulares.
O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino - porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.
O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.
O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.
Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de "cheguei lá" e "eu posso". O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho - preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre.
O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.
E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.
Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo - enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.
Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres - não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos - e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.
*Adriano Silva, jornalista e publicitário, foi diretor de redação da SUPER entre 2000 e 2005.http://super.abril.com.br/historia/idiota-brasileira-804110.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super
Ele fura fila. Ele estaciona atravessado. Acha que pertence a uma casta privilegiada. Anda de metrô - mas só no exterior. Conheça o PIB (Perfeito Idiota Brasileiro). E entenda como ele mantém puxado o freio de mão do nosso país
por Adriano Silva* | Edição: Alexandre Versignassi
Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de "tigres" - porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras. O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas - nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d'água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto - transformar quem o cerca em seus otários particulares.
O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino - porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.
O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.
O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.
Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de "cheguei lá" e "eu posso". O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho - preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre.
O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.
E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.
Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo - enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.
Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres - não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos - e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.
*Adriano Silva, jornalista e publicitário, foi diretor de redação da SUPER entre 2000 e 2005.http://super.abril.com.br/historia/idiota-brasileira-804110.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super
Servindo aos reacionarios
Sininho e o dia seguinte na Terra do Nunca.
sex, 01/08/2014 - 21:15
Sergio Saraiva
Sininho como representação e o desencanto de uma geração adultescente que acreditou na inconsequência como ação de transformação revolucionária da realidade.
Não há como não se enternecer, de alguma forma, com a figura da personagem Sininho. Traz em si a figura da filha adolescente, frágil e radical.
Até o codinome – Sininho – lhe cai apropriadamente bem. Uma personagem que saiu da “Terra do Nunca” da internet e inspira a tropa dos “meninos perdidos” na sua tentativa de destruir o mundo real que lhes cobra o crescimento.
Sintomático dos dias atuais é que há Sininho e há meninos perdidos, mas não há um Peter Pan. Sininho é a líder dos meninos perdidos.
Mas Sininho é uma ficção. Não é professora, não é sindicalista, não é bailarina, não é socialite. É qualificada ora como “ativista”, ora como “produtora cultural”.
Seu cavalo, Elisa Quadros Sanzi, no entanto, chegou à casa dos trinta, muito provavelmente com formação superior e tendo recebido da família a estrutura necessária para ser, hoje, uma jovem adulta de quem se espera a consequência nas ações. E a consequência é o que se espera de adultos, mesmo, e talvez principalmente, em ações que busquem a transformação da realidade.
O oposto disso é a principal característica do que chama “movimento” – a inconsequência.
Quem forma esse movimento?
Anarquistas de internet, carbonários anacrônicos, incendiários da Academia, punheteiros imberbes, a criminalidade comum e os oportunistas de toda ordem.
Isso forma um movimento?
Lênin – Vladimir Ilitch Ulianov, já dizia que batatas dentro de um saco formam um saco de batatas, mas não formam uma organização.
Pena que Sininho e seus amigos não tenham lido “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”.
Teriam aprendido com um mestre revolucionário que a transformação do mundo se faz num passo-a-passo onde a revolução não é sequer o primeiro passo, quanto mais o último ou o fim.
A transformação do mundo não é nada divertida. Assemelha-se mais ao trabalho de operários.
Ao invés disso, Sininho e seus amigos retomaram o grito de “não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos”. E o que não queremos é o sistema – seja lá o que entendam como sendo “o sistema”.
Nada disso é novo. Quem empunhava essa bandeira aos dezoito anos hoje já está na terceira idade – é provavelmente um aposentado de 65 anos. Isso se sobreviveu a “sexo, drogas e rock in roll”.
Lutar contra o sistema traz em si um dilema a ser resolvido de antemão, quando não um paradoxo. Quando se destrói o sistema, algo deve ser colocado, ou se coloca por si próprio, em seu lugar. E, então, outro sistema se estabelece.
Essa é a lição de Lenin que Sininho e seus amigos não aprenderam.
Na Terra do Nunca não há dia seguinte, logo não há um sistema a ser substituído por outro sistema. Mas Sininho e seus amigos não estão mais na Terra do Nunca, foram trazidos a força à terra dos homens.
Não admira que estejam todos sem chão diante da responsabilização judicial. O que esses “revolucionários” esperavam das forças da repressão, das forças do partido da ordem? Que se se limitassem a fazer a segurança do playground e os deixassem brincar em paz?
Interessante também é notar que essa geração é ingênua a ponto de não ter percebido o quanto a sua ilusão de transformação radical foi instrumentalizada pelo reacionarismo.
Serviram a quem interessava criar um ambiente de instabilidade que ajudasse a enfraquecer o governo da esquerda democrática para facilitar o retorno ao poder do conservadorismo.
Sininho e os meninos perdidos não são mais úteis a essas forças. Podem ser descartados.
Aprenderão da pior forma que o Judiciário é o lixeiro do sistema ao qual serviram pensando que estavam o combatendo.http://jornalggn.com.br/blog/sergio-saraiva/sininho-e-o-dia-seguinte-na-terra-do-nunca-0#.U9wtj6ksIzE.twitter
sex, 01/08/2014 - 21:15
Sergio Saraiva
Sininho como representação e o desencanto de uma geração adultescente que acreditou na inconsequência como ação de transformação revolucionária da realidade.
Não há como não se enternecer, de alguma forma, com a figura da personagem Sininho. Traz em si a figura da filha adolescente, frágil e radical.
Até o codinome – Sininho – lhe cai apropriadamente bem. Uma personagem que saiu da “Terra do Nunca” da internet e inspira a tropa dos “meninos perdidos” na sua tentativa de destruir o mundo real que lhes cobra o crescimento.
Sintomático dos dias atuais é que há Sininho e há meninos perdidos, mas não há um Peter Pan. Sininho é a líder dos meninos perdidos.
Mas Sininho é uma ficção. Não é professora, não é sindicalista, não é bailarina, não é socialite. É qualificada ora como “ativista”, ora como “produtora cultural”.
Seu cavalo, Elisa Quadros Sanzi, no entanto, chegou à casa dos trinta, muito provavelmente com formação superior e tendo recebido da família a estrutura necessária para ser, hoje, uma jovem adulta de quem se espera a consequência nas ações. E a consequência é o que se espera de adultos, mesmo, e talvez principalmente, em ações que busquem a transformação da realidade.
O oposto disso é a principal característica do que chama “movimento” – a inconsequência.
Quem forma esse movimento?
Anarquistas de internet, carbonários anacrônicos, incendiários da Academia, punheteiros imberbes, a criminalidade comum e os oportunistas de toda ordem.
Isso forma um movimento?
Lênin – Vladimir Ilitch Ulianov, já dizia que batatas dentro de um saco formam um saco de batatas, mas não formam uma organização.
Pena que Sininho e seus amigos não tenham lido “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”.
Teriam aprendido com um mestre revolucionário que a transformação do mundo se faz num passo-a-passo onde a revolução não é sequer o primeiro passo, quanto mais o último ou o fim.
A transformação do mundo não é nada divertida. Assemelha-se mais ao trabalho de operários.
Ao invés disso, Sininho e seus amigos retomaram o grito de “não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos”. E o que não queremos é o sistema – seja lá o que entendam como sendo “o sistema”.
Nada disso é novo. Quem empunhava essa bandeira aos dezoito anos hoje já está na terceira idade – é provavelmente um aposentado de 65 anos. Isso se sobreviveu a “sexo, drogas e rock in roll”.
Lutar contra o sistema traz em si um dilema a ser resolvido de antemão, quando não um paradoxo. Quando se destrói o sistema, algo deve ser colocado, ou se coloca por si próprio, em seu lugar. E, então, outro sistema se estabelece.
Essa é a lição de Lenin que Sininho e seus amigos não aprenderam.
Na Terra do Nunca não há dia seguinte, logo não há um sistema a ser substituído por outro sistema. Mas Sininho e seus amigos não estão mais na Terra do Nunca, foram trazidos a força à terra dos homens.
Não admira que estejam todos sem chão diante da responsabilização judicial. O que esses “revolucionários” esperavam das forças da repressão, das forças do partido da ordem? Que se se limitassem a fazer a segurança do playground e os deixassem brincar em paz?
Interessante também é notar que essa geração é ingênua a ponto de não ter percebido o quanto a sua ilusão de transformação radical foi instrumentalizada pelo reacionarismo.
Serviram a quem interessava criar um ambiente de instabilidade que ajudasse a enfraquecer o governo da esquerda democrática para facilitar o retorno ao poder do conservadorismo.
Sininho e os meninos perdidos não são mais úteis a essas forças. Podem ser descartados.
Aprenderão da pior forma que o Judiciário é o lixeiro do sistema ao qual serviram pensando que estavam o combatendo.http://jornalggn.com.br/blog/sergio-saraiva/sininho-e-o-dia-seguinte-na-terra-do-nunca-0#.U9wtj6ksIzE.twitter
O Planeta dos Carros
A extinção do povo que considerava carro mais importante que gente10
Leonardo Sakamoto
08/01/2014 15:38
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Um dia, quando arqueólogos ETs forem estudar nossa civilização milhares de anos depois de termos sido extintos por conta de alguma burrada que certamente cometeremos, eles vão ter uma dificuldade gigantesca de entender como uma parcela considerável dos habitantes deste planeta considerava máquinas desenhadas para transportar como parte integrante de seus próprios corpos.
Perguntarão como muitos membros dessa estranha civilização dedicavam mais tempo à manutenção desses equipamentos do que à sua própria prole. Ficarão de queixo caído ao entenderem que, quanto mais aceleravam em velocidade, esses seres esqueciam a tristeza de empregos ruins, de casamentos que deram errado e da falta de perspectivas para a vida. E como esses habitantes mudavam repentinamente de humor e de comportamento quando utilizavam as máquinas! Nesse sentido, a futura redescoberta do vídeo “Pateta no Trânsito'', da Disney, poderá ser a cereja do bolo desse paradigma.
Ficarão intrigados, especialmente, ao perceberem que muitos homens não usavam carros como meios de locomoção mas, sim, como projeções de seus membros sexuais. Por compensação. Por frustração. Obedecendo à programação passada a eles por outra maquininha, a TV, não importa.
E decepcionados quando entenderem que havia um sentimento coletivo de que a dignidade das pessoas era menos importante do que a liberdade dessas máquinas.
Certamente ao acessar os registros dessa civilização extinta, chegarão ao dia 07 de janeiro de 2014, quando mais um ciclista foi morto em São Paulo, um frentista, de 42 anos. E, independentemente das causas e responsabilidades, se fizerem a besteira de lerem os comentários da notícia postados por leitores na época, terão um exemplo claro dessa simbiose homem-carro.
Ideias como “a rua é para carros – quer andar de bicicleta, vá a um parque'', “eu não sou contra bicicletas, até tenho uma, mas sou contra as pessoas as usarem para andar na rua'', “São Paulo não é para bicicletas e nunca será'', “ciclistas colocam em risco a vida de motoristas com sua imprudência'', “faixas de bicicletas é uma idiotice porque atrapalham o trânsito logo no domingo!''.
Daí, os ETs fecharão a página de comentários. E cancelarão imediatamente a pesquisa sobre as ruínas de nossa civilização, ordenando a destruição completa do que restou do planeta. E seguirão para Marte, porque lá as coisas fazem mais sentido
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/01/08/a-extincao-do-povo-que-considerava-carro-mais-importante-que-gente/
Leonardo Sakamoto
08/01/2014 15:38
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Um dia, quando arqueólogos ETs forem estudar nossa civilização milhares de anos depois de termos sido extintos por conta de alguma burrada que certamente cometeremos, eles vão ter uma dificuldade gigantesca de entender como uma parcela considerável dos habitantes deste planeta considerava máquinas desenhadas para transportar como parte integrante de seus próprios corpos.
Perguntarão como muitos membros dessa estranha civilização dedicavam mais tempo à manutenção desses equipamentos do que à sua própria prole. Ficarão de queixo caído ao entenderem que, quanto mais aceleravam em velocidade, esses seres esqueciam a tristeza de empregos ruins, de casamentos que deram errado e da falta de perspectivas para a vida. E como esses habitantes mudavam repentinamente de humor e de comportamento quando utilizavam as máquinas! Nesse sentido, a futura redescoberta do vídeo “Pateta no Trânsito'', da Disney, poderá ser a cereja do bolo desse paradigma.
Ficarão intrigados, especialmente, ao perceberem que muitos homens não usavam carros como meios de locomoção mas, sim, como projeções de seus membros sexuais. Por compensação. Por frustração. Obedecendo à programação passada a eles por outra maquininha, a TV, não importa.
E decepcionados quando entenderem que havia um sentimento coletivo de que a dignidade das pessoas era menos importante do que a liberdade dessas máquinas.
Certamente ao acessar os registros dessa civilização extinta, chegarão ao dia 07 de janeiro de 2014, quando mais um ciclista foi morto em São Paulo, um frentista, de 42 anos. E, independentemente das causas e responsabilidades, se fizerem a besteira de lerem os comentários da notícia postados por leitores na época, terão um exemplo claro dessa simbiose homem-carro.
Ideias como “a rua é para carros – quer andar de bicicleta, vá a um parque'', “eu não sou contra bicicletas, até tenho uma, mas sou contra as pessoas as usarem para andar na rua'', “São Paulo não é para bicicletas e nunca será'', “ciclistas colocam em risco a vida de motoristas com sua imprudência'', “faixas de bicicletas é uma idiotice porque atrapalham o trânsito logo no domingo!''.
Daí, os ETs fecharão a página de comentários. E cancelarão imediatamente a pesquisa sobre as ruínas de nossa civilização, ordenando a destruição completa do que restou do planeta. E seguirão para Marte, porque lá as coisas fazem mais sentido
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/01/08/a-extincao-do-povo-que-considerava-carro-mais-importante-que-gente/
22 setembro, 2014
Terroristas artificiais
O agente que entregou o ouro: Informantes armam ciladas para ‘produzir’ terroristas
Mike German foi agente secreto do FBI (Federal Bureau of Investigation) durante 16 anos. Trabalhou no combate ao terrorismo doméstico, às fraudes bancárias e à corrupção no setor público. Nos últimos anos de trabalho na organização, ele se dedicou ao terrorismo interno. Por exemplo, na infiltração de grupos suspeitos.
Aparentemente, este tipo de trabalho se tornou supervalorizado nos Estados Unidos depois de 11 de setembro de 2001, mas foi justamente depois dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono que os problemas de Mike começaram, a ponto de levá-lo a deixar o FBI. Hoje, Mike German trabalha para a ACLU – a União Americana para as Liberdades Civis.
Viomundo – Que tipo de mudanças o senhor percebeu que estavam acontecendo, dentro do FBI, depois dos ataques de 11 de setembro?
Mike German – As normas de conduta, criadas nos anos 70, em resposta aos abusos cometidos pelo FBI no programa de contra-inteligência, que espionou americanos que não eram suspeitos de nada, mudaram. Naquela época, usaram truques sujos para impedir as pessoas de divulgarem suas ideias políticas. Por isso, foram criadas as normas de conduta. Mas com o tempo, elas foram modificadas. Principalmente em 2002 quando o procurador-geral da Justiça, John Ashcroft [do governo de George W. Bush], alterou o grau das provas exigidas para permitir ao FBI começar a investigar alguém.
Viomundo – Pode nos dar exemplos de como essas regras mudaram?
Mike German – Eles expandiram o que se chamava antes de inquérito preliminar. Anteriormente, nos anos 70, este inquérito preliminar dava aos agentes do FBI, que tinham alguma informação ou alegação contra alguém, a oportunidade de investigar. Descobrir se era verdade ou não, se a pessoa que estava prestando informação era confiável. Se havia informação suficiente para abrir uma investigação. E isso tinha limites em matéria de tempo e de alcance. E as técnicas permitidas também eram limitadas, tinham que ser menos invasivas. Com as normas do Ashcroft, em 2002, expandiu-se o prazo que essas investigações poderiam durar e número de técnicas empregáveis, bem mais invasivas, mesmo que não houvesse base racional alguma para acreditar que uma pessoa havia feito algo de errado. Bastava uma alegação ou uma dica.
Viomundo – Que tipo de técnica passou a ser usada? Escuta telefônica, por exemplo?
Mike German – Não. Essas técnicas que exigem ordem da justiça, não. Mas passaram a vigiar de perto, entrevistar amigos e conhecidos… imagine o impacto que tem o FBI entrevistar o empregador de alguém a respeito da possibilidade dessa pessoa ter feito algo errado. Isso tem impacto na vida da pessoa, se ela for acusada por algo ou não. Portanto, estávamos muito preocupados com essa expansão. Mas em 2008, o procurador-geral Michael Mukasey ampliou ainda mais as regras e eliminou a necessidade de qualquer tipo de antecedente. Literalmente, os agentes do FBI passaram a ter o direito de investigar quem eles escolhessem. E expandiram os meios que podem ser empregados nessas investigações de forma muito preocupante. Por exemplo: de acordo com as normas antigas, o FBI podia receber dicas de um informante e incorporá-las em uma investigação. Mas não podia, jamais, recrutar alguém para levantar informações sobre alguém contra quem não existia base para se pensar que estivesse fazendo algo errado. De acordo com as novas normas, o FBI pode encontrar alguém e dizer: “Quero que você vá naquela igreja e encontre este tipo de informação”. Ou seja, mudou completamente a maneira como o FBI usa informantes. Eles criaram uma categoria de investigação ainda mais ampla, chamada informação étnica e demográfica, na qual listam o que chamam de comportamento racial e étnico. Estão transformando comunidades inteiras em alvo somente por causa da raça ou da etnia. Isso é um problema sério.
Viomundo – Que tipo de informantes eles estão contratando para os casos de terrorismo?
Mike German – Todo tipo. E todos são problemáticos porque você não sabe quais são as motivações reais da pessoa. E tem menos controle sobre eles, se compararmos com agentes secretos do FBI cujo salário e o tipo de caso em que podem trabalhar são monitorados. Além do que, os agentes têm interesse em subir na profissão e para isso, sabem que não podem violar as regras. Existem também os informantes que tiveram problemas, têm pena a cumprir, estão na cadeia e querem fazer um acordo para se livrar. Existem, também, pessoas que não gostam de alguém e querem causar problemas àquela pessoa. Antes da mudança nas regras, tivemos vários casos em que o informante se revelou ruim. Essa é uma das áreas mais perigosas no FBI.
Viomundo – E esse tipo de informante está sendo usado mais e mais?
Mike German – Mais e mais cedo. Agora, usam esses informantes quando não existe suspeito. Eles saem em expedições de caça. E é claro que a motivação do informante é encontrar algo. E se não existe nada, como você disse, eles podem inventar.
Viomundo – Não sei se o senhor concorda, mas me parece que depois do 11 de setembro se construiu uma imagem preconceituosa dos muçulmanos, o que pode ser usado de forma muito ruim…
Mike German – Existem vários casos em que esses informantes são enviados a mesquitas ou comunidades religiosas nessas expedições de caça. Para levantar informações de forma muito ampla. E existem fortes indícios de que esses informantes estão criando planos, são o centro de um plano de ataque. São eles que estão planejando e fornecendo o material. Eles é que são, supostamente, conectados com a Al Qaeda ou qualquer outro grupo terrorista, enquanto as pessoas recrutadas nunca tiveram qualquer contato com o terrorismo, nunca tiveram acesso ao tipo de arma que o informante do FBI deu a eles. Portanto, não haveria ameaça, não fosse pela intervenção do governo.
Viomundo – Há 20 anos um caso desses não seria levado a sério?
Mike German – Eu fiz esse trabalho por 10 ou 15 anos. Não. O FBI não aceitaria que eu estivesse envolvido em uma investigação de terrorismo na qual todas as armas tivessem sido fornecidas pelo FBI. Ou em que o FBI tivesse criado o plano. Pelo contrário. Essa é uma preocupação séria: você não pode armar uma cilada. Tem que ser um plano da pessoa e o agente do FBI, no máximo, vai dar apoio. Mas não vai sugerir alvos, nem fornecer armas. Muito menos aumentar o grau da ameaça.
Viomundo – Como assim ‘aumentar o grau da ameaça’?
Mike German – Se essas pessoas, em vários desses casos, tivessem dito algo errado e o FBI oferecesse um rifle e perguntasse “você quer atirar em alguém?” e a pessoa dissesse que sim, muito bem, prenda essa pessoa. Mas dar a essa pessoa um míssil cheio de explosivos, que ela nunca poderia comprar, me parece um teatro para convencer o júri de que essa pessoa é bem mais perigosa do que os fatos indicam. De acordo com a minha experiência, a ideia de que uma pessoa que não tem armas e não está fazendo planos de ataque — antes de aparecer alguém enviado pelo governo — é um terrorista, me parece um uso ilícito dos recursos do governo para envolver essas pessoas nesses planos. Não é lícito o governo tentar produzir um grande caso na imprensa. Aumentar a ameaça. Na verdade, isso é pior para o país porque promove suspeita a respeito de algumas comunidades e cria divisões perigosas na nossa sociedade.
Viomundo – Esse tipo de exagero vira manchete nos jornais, assusta o júri e pode também influenciar os juízes?
Mike German – Claro! E mais do que ninguém, eles [os juizes e o júri] preferem errar por terem sido super cuidadosos. Especialmente quando o governo pode apresentar um míssil [como prova, no tribunal]. Mesmo que eles achem errada a atitude do governo, temem pela comunidade se deixarem essa pessoa livre. Com esse tipo de teatro, o governo sempre aponta para esses casos como justificativa para ter ainda mais autoridade. Mais direito de usar escutas e informantes. Consideram casos de sucesso e não como algo que está prejudicando nosso sistema jurídico.
Viomundo – O senhor vê paralelos entre esses abusos do presente e outros momentos da história do país?
Mike German – Com certeza! O FBI e a ACLU [American Civil Liberties Union] foram criados nas mesmas circunstâncias, no começo do século XX, quando havia muita violência dos anarquistas nos Estados Unidos. Comparando com os dias de hoje, era muito pior. Bombas, assassinatos… E o governo respondeu pegando os suspeitos de sempre. Perseguiu pessoas que tinham as mesmas ideias. Foi atrás dos imigrantes e os deportou sem provas de que tivessem feito algo errado. E a ACLU foi formada para proteger esses imigrantes. Com certeza, já tivemos outros momentos de crise com reações exageradas.
Viomundo – O senhor compararia o que acontece agora com a era do macarthismo [de Joseph McCarthy, o caçador de comunistas que aterrorizou o país nos anos 50]?
Mike German – Claro! Eles promovem essa ideia de que existe um caminho típico para se tornar um terrorista. E todos os estudos sobre terroristas mostram que não é verdade. Não existe um caminho único ou um perfil do terrorista. E não existe conexão entre ideias ruins e conduta ruim. Ainda assim, essa teoria está sendo usada para transformar comunidades religiosas e ideológicas em alvos. Estamos assistindo, também, à infiltração de grupos de ativistas. De protestos. O que nos lembra muito a história do FBI nos anos 50, 60 e 70. Na época, tentavam barrar o trabalho dos movimentos sociais, das organizações de direitos civis e, com os truques sujos, não estavam defendendo a segurança nacional, mas simplesmente o status quo. E é o que estamos vendo novamente. Nós documentamos a infiltração e a obstrução de atividades garantidas pela Primeira Emenda à Constituição em 33 estados e no Distrito Federal, desde 11 de setembro [emenda que garante a liberdade de religião, de expressão, de imprensa, de associação, entre outras]. Portanto, não é um problema pequeno. E não é apenas o FBI. São as autoridades estaduais também, a comunidade de inteligência do governo federal. É uma ampla campanha que tem como alvo pessoas que não estão fazendo nada de errado, mas defendem mudanças políticas ou sociais que ameaçam o status quo.
Viomundo – Com a eleição do presidente Barack Obama existia muita esperança de que esse tipo de abuso seria barrado. Representantes da comunidade muçulmano-americana estão decepcionados.
Mike German – A oportunidade que esse governo teve de olhar para esse problema de forma diferente, infelizmente foi desperdiçada, porque as mesmas pessoas da comunidade de inteligência que adotaram essas mudanças foram mantidas [no governo]. E elas vão relutar muito em dizer que a política adotada, por eles, anos atrás, foi muito ineficiente.
Mike German foi agente secreto do FBI (Federal Bureau of Investigation) durante 16 anos. Trabalhou no combate ao terrorismo doméstico, às fraudes bancárias e à corrupção no setor público. Nos últimos anos de trabalho na organização, ele se dedicou ao terrorismo interno. Por exemplo, na infiltração de grupos suspeitos.
Aparentemente, este tipo de trabalho se tornou supervalorizado nos Estados Unidos depois de 11 de setembro de 2001, mas foi justamente depois dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono que os problemas de Mike começaram, a ponto de levá-lo a deixar o FBI. Hoje, Mike German trabalha para a ACLU – a União Americana para as Liberdades Civis.
Viomundo – Que tipo de mudanças o senhor percebeu que estavam acontecendo, dentro do FBI, depois dos ataques de 11 de setembro?
Mike German – As normas de conduta, criadas nos anos 70, em resposta aos abusos cometidos pelo FBI no programa de contra-inteligência, que espionou americanos que não eram suspeitos de nada, mudaram. Naquela época, usaram truques sujos para impedir as pessoas de divulgarem suas ideias políticas. Por isso, foram criadas as normas de conduta. Mas com o tempo, elas foram modificadas. Principalmente em 2002 quando o procurador-geral da Justiça, John Ashcroft [do governo de George W. Bush], alterou o grau das provas exigidas para permitir ao FBI começar a investigar alguém.
Viomundo – Pode nos dar exemplos de como essas regras mudaram?
Mike German – Eles expandiram o que se chamava antes de inquérito preliminar. Anteriormente, nos anos 70, este inquérito preliminar dava aos agentes do FBI, que tinham alguma informação ou alegação contra alguém, a oportunidade de investigar. Descobrir se era verdade ou não, se a pessoa que estava prestando informação era confiável. Se havia informação suficiente para abrir uma investigação. E isso tinha limites em matéria de tempo e de alcance. E as técnicas permitidas também eram limitadas, tinham que ser menos invasivas. Com as normas do Ashcroft, em 2002, expandiu-se o prazo que essas investigações poderiam durar e número de técnicas empregáveis, bem mais invasivas, mesmo que não houvesse base racional alguma para acreditar que uma pessoa havia feito algo de errado. Bastava uma alegação ou uma dica.
Viomundo – Que tipo de técnica passou a ser usada? Escuta telefônica, por exemplo?
Mike German – Não. Essas técnicas que exigem ordem da justiça, não. Mas passaram a vigiar de perto, entrevistar amigos e conhecidos… imagine o impacto que tem o FBI entrevistar o empregador de alguém a respeito da possibilidade dessa pessoa ter feito algo errado. Isso tem impacto na vida da pessoa, se ela for acusada por algo ou não. Portanto, estávamos muito preocupados com essa expansão. Mas em 2008, o procurador-geral Michael Mukasey ampliou ainda mais as regras e eliminou a necessidade de qualquer tipo de antecedente. Literalmente, os agentes do FBI passaram a ter o direito de investigar quem eles escolhessem. E expandiram os meios que podem ser empregados nessas investigações de forma muito preocupante. Por exemplo: de acordo com as normas antigas, o FBI podia receber dicas de um informante e incorporá-las em uma investigação. Mas não podia, jamais, recrutar alguém para levantar informações sobre alguém contra quem não existia base para se pensar que estivesse fazendo algo errado. De acordo com as novas normas, o FBI pode encontrar alguém e dizer: “Quero que você vá naquela igreja e encontre este tipo de informação”. Ou seja, mudou completamente a maneira como o FBI usa informantes. Eles criaram uma categoria de investigação ainda mais ampla, chamada informação étnica e demográfica, na qual listam o que chamam de comportamento racial e étnico. Estão transformando comunidades inteiras em alvo somente por causa da raça ou da etnia. Isso é um problema sério.
Viomundo – Que tipo de informantes eles estão contratando para os casos de terrorismo?
Mike German – Todo tipo. E todos são problemáticos porque você não sabe quais são as motivações reais da pessoa. E tem menos controle sobre eles, se compararmos com agentes secretos do FBI cujo salário e o tipo de caso em que podem trabalhar são monitorados. Além do que, os agentes têm interesse em subir na profissão e para isso, sabem que não podem violar as regras. Existem também os informantes que tiveram problemas, têm pena a cumprir, estão na cadeia e querem fazer um acordo para se livrar. Existem, também, pessoas que não gostam de alguém e querem causar problemas àquela pessoa. Antes da mudança nas regras, tivemos vários casos em que o informante se revelou ruim. Essa é uma das áreas mais perigosas no FBI.
Viomundo – E esse tipo de informante está sendo usado mais e mais?
Mike German – Mais e mais cedo. Agora, usam esses informantes quando não existe suspeito. Eles saem em expedições de caça. E é claro que a motivação do informante é encontrar algo. E se não existe nada, como você disse, eles podem inventar.
Viomundo – Não sei se o senhor concorda, mas me parece que depois do 11 de setembro se construiu uma imagem preconceituosa dos muçulmanos, o que pode ser usado de forma muito ruim…
Mike German – Existem vários casos em que esses informantes são enviados a mesquitas ou comunidades religiosas nessas expedições de caça. Para levantar informações de forma muito ampla. E existem fortes indícios de que esses informantes estão criando planos, são o centro de um plano de ataque. São eles que estão planejando e fornecendo o material. Eles é que são, supostamente, conectados com a Al Qaeda ou qualquer outro grupo terrorista, enquanto as pessoas recrutadas nunca tiveram qualquer contato com o terrorismo, nunca tiveram acesso ao tipo de arma que o informante do FBI deu a eles. Portanto, não haveria ameaça, não fosse pela intervenção do governo.
Viomundo – Há 20 anos um caso desses não seria levado a sério?
Mike German – Eu fiz esse trabalho por 10 ou 15 anos. Não. O FBI não aceitaria que eu estivesse envolvido em uma investigação de terrorismo na qual todas as armas tivessem sido fornecidas pelo FBI. Ou em que o FBI tivesse criado o plano. Pelo contrário. Essa é uma preocupação séria: você não pode armar uma cilada. Tem que ser um plano da pessoa e o agente do FBI, no máximo, vai dar apoio. Mas não vai sugerir alvos, nem fornecer armas. Muito menos aumentar o grau da ameaça.
Viomundo – Como assim ‘aumentar o grau da ameaça’?
Mike German – Se essas pessoas, em vários desses casos, tivessem dito algo errado e o FBI oferecesse um rifle e perguntasse “você quer atirar em alguém?” e a pessoa dissesse que sim, muito bem, prenda essa pessoa. Mas dar a essa pessoa um míssil cheio de explosivos, que ela nunca poderia comprar, me parece um teatro para convencer o júri de que essa pessoa é bem mais perigosa do que os fatos indicam. De acordo com a minha experiência, a ideia de que uma pessoa que não tem armas e não está fazendo planos de ataque — antes de aparecer alguém enviado pelo governo — é um terrorista, me parece um uso ilícito dos recursos do governo para envolver essas pessoas nesses planos. Não é lícito o governo tentar produzir um grande caso na imprensa. Aumentar a ameaça. Na verdade, isso é pior para o país porque promove suspeita a respeito de algumas comunidades e cria divisões perigosas na nossa sociedade.
Viomundo – Esse tipo de exagero vira manchete nos jornais, assusta o júri e pode também influenciar os juízes?
Mike German – Claro! E mais do que ninguém, eles [os juizes e o júri] preferem errar por terem sido super cuidadosos. Especialmente quando o governo pode apresentar um míssil [como prova, no tribunal]. Mesmo que eles achem errada a atitude do governo, temem pela comunidade se deixarem essa pessoa livre. Com esse tipo de teatro, o governo sempre aponta para esses casos como justificativa para ter ainda mais autoridade. Mais direito de usar escutas e informantes. Consideram casos de sucesso e não como algo que está prejudicando nosso sistema jurídico.
Viomundo – O senhor vê paralelos entre esses abusos do presente e outros momentos da história do país?
Mike German – Com certeza! O FBI e a ACLU [American Civil Liberties Union] foram criados nas mesmas circunstâncias, no começo do século XX, quando havia muita violência dos anarquistas nos Estados Unidos. Comparando com os dias de hoje, era muito pior. Bombas, assassinatos… E o governo respondeu pegando os suspeitos de sempre. Perseguiu pessoas que tinham as mesmas ideias. Foi atrás dos imigrantes e os deportou sem provas de que tivessem feito algo errado. E a ACLU foi formada para proteger esses imigrantes. Com certeza, já tivemos outros momentos de crise com reações exageradas.
Viomundo – O senhor compararia o que acontece agora com a era do macarthismo [de Joseph McCarthy, o caçador de comunistas que aterrorizou o país nos anos 50]?
Mike German – Claro! Eles promovem essa ideia de que existe um caminho típico para se tornar um terrorista. E todos os estudos sobre terroristas mostram que não é verdade. Não existe um caminho único ou um perfil do terrorista. E não existe conexão entre ideias ruins e conduta ruim. Ainda assim, essa teoria está sendo usada para transformar comunidades religiosas e ideológicas em alvos. Estamos assistindo, também, à infiltração de grupos de ativistas. De protestos. O que nos lembra muito a história do FBI nos anos 50, 60 e 70. Na época, tentavam barrar o trabalho dos movimentos sociais, das organizações de direitos civis e, com os truques sujos, não estavam defendendo a segurança nacional, mas simplesmente o status quo. E é o que estamos vendo novamente. Nós documentamos a infiltração e a obstrução de atividades garantidas pela Primeira Emenda à Constituição em 33 estados e no Distrito Federal, desde 11 de setembro [emenda que garante a liberdade de religião, de expressão, de imprensa, de associação, entre outras]. Portanto, não é um problema pequeno. E não é apenas o FBI. São as autoridades estaduais também, a comunidade de inteligência do governo federal. É uma ampla campanha que tem como alvo pessoas que não estão fazendo nada de errado, mas defendem mudanças políticas ou sociais que ameaçam o status quo.
Viomundo – Com a eleição do presidente Barack Obama existia muita esperança de que esse tipo de abuso seria barrado. Representantes da comunidade muçulmano-americana estão decepcionados.
Mike German – A oportunidade que esse governo teve de olhar para esse problema de forma diferente, infelizmente foi desperdiçada, porque as mesmas pessoas da comunidade de inteligência que adotaram essas mudanças foram mantidas [no governo]. E elas vão relutar muito em dizer que a política adotada, por eles, anos atrás, foi muito ineficiente.
www.viomundo.com.br/falatorio/ex-agente-do-fbi.html
03 setembro, 2014
Obama invoca Deus contra Deus Muculmano
Bombardeamentos? Falar
de Deus? Obama está a seguir o guião dos jihadistas
24 de Agosto, 2014 -
16:11h | Robert Fisk
Barack Obama, antes de
voltar ao campo de golfe, informou ao mundo que nenhum Deus justo
permitiria (ao EIIL) fazer o que o grupo faz diariamente
O califado tem
produtores teatrais bastante estritos. Escreveram um sórdido e
selvagem guia. O nosso trabalho é responder a
cada uma das suas frases. Compreendem-nos o suficiente para saber o
que diremos. Assim, decapitaram James Foley e ameaçam fazer o
mesmo com um dos seus colegas. Que fazemos?
Exatamente o que previ há 24 horas: converter a morte de Foley numa
nova razão para continuar a bombardear o califado do EIIL.
E que mais nos
provocaram a fazer, ou pelo menos ao presidente norte-americano de
férias? Uma guerra em estritos termos
religiosos, que é exatamente o que eles queriam.
Barack Obama,
antes de voltar ao campo de golfe, informou ao
mundo que nenhum Deus justo permitiria (ao EIIL) fazer o que o grupo
faz diariamente.
Aí têm: Obama
converteu a barbárie do califado numa batalha inter-religiosa entre
deuses rivais; o nosso (ocidental) e o deles (o Deus dos muçulmanos,
claro). Isto é o mais que Obama se aproximou para rivalizar
com a néscia reação de George W. Bush quando, ao referir-se ao 11
de setembro, afirmou que nos bateríamos numa cruzada.
Agora, claro, Obama não
se referiu ao Deus muçulmano da mesma forma que Bush não tinha a
intenção de mandar milhares de guerreiros cristãos a cavalo às
terras bíblicas do Médio Oriente. De facto, Bush só enviou
guerreiros em tanques e helicópteros.
Obama mencionou
também que as vítimas do califado são “muçulmanas na sua imensa
maioria”, com o que deu a entender que o califado nem sequer é
muçulmano, apesar do seu entusiasmo em intervir no Iraque no
princípio deste mês não ter sido para ajudar esses milhares de
pobres muçulmanos, mas porque o preocupava que cristãos e yazidis
fossem perseguidos. E, então, existia o perigo potencial de que
houvesse vítimas norte-americanas, facto que os homens de Abú Bakr
Bagdadi compreenderam muito bem. Por isso assassinaram o pobre James
Foley. Não por ser jornalista, mas por ser norte-americano; um dos
norte-americanos que Obama prometeu defender no Iraque.
Independentemente de
Obama se esquecer que tinha reféns de nacionalidade norte-americana
na Síria, a tentativa de resgate levada a cabo pelo exército dos
Estados Unidos pelo menos prova que sabiam que Foley estava na Síria.
Mas, porque é que o EIIL está na Síria? Pois para derrotar o
governo de Assad, claro, que é o mesmo que nós tentamos fazer,
certo?
“
Por
que raio Obama achou que pode dizer aos muçulmanos o que um Deus
justo pode ou não pode fazer? O presidente lamentou a guerra
de Bush no Iraque, mas não se dá conta de que
milhões de muçulmanos no Iraque não acham que um Deus justo aceite
a invasão norte-americana ao seu país em 2003, ou
que dezenas de milhares de iraquianos tenham sido assassinados pelas
mentiras de Bush e de Blair
Por
que raio Obama achou que pode dizer aos muçulmanos o que um Deus
justo pode ou não pode fazer? O presidente lamentou a guerra
de Bush no Iraque, mas não se dá conta de que milhões de
muçulmanos no Iraque não acham que um Deus justo aceite a invasão
norte-americana ao seu país em 2003, ou que dezenas de milhares de
iraquianos tenham sido assassinados pelas mentiras de Bush e de
Blair.
Fiquei
chocado quando ouvi Obama dizer: Algo em que todos nós (sic) podemos
estar de acordo é que um grupo como o EIIL não tem lugar no século
XXI.
É o mesmo
discurso pedante que o velho malandro do Bill Clinton usou para
se dirigir ao Parlamento jordano após o impopular tratado do rei
Hussein com Israel; quando afirmou que todos os
grupos muçulmanos que se opuseram ao acordo eram formados por homens
do passado.
Por alguma razão, na
verdade achamos que os muçulmanos do Médio
Oriente precisam que lhes contemos a sua história e lhes expliquemos
o que os beneficia ou os prejudica.
Os muçulmanos
que estão de acordo que o assassinato de Foley foi um repugnante
crime contra a humanidade foram insultados por um cristão que lhes
disse o que um Deus justo aprovaria ou desaprovaria. E os que
apoiaram o assassinato estarão ainda mais convencidos de que os
Estados Unidos são, muito justificadamente, inimigos de todos os
muçulmanos.
Quanto ao sinistro
verdugo britânico John, inclino-me a pensar que viveu entre
Newcastle, Tyne ou Gateshead, pois dado que passei algum tempo em
Tyne achei que escutei uma pitada do sotaque característico dessa
região.
Mas John
bem pode ser francês, russo ou espanhol. Não é isso que
está mal na sua cabeça; trata-se de um fenómeno que afeta muitos
outros jovens, e milhares farão o mesmo que ele.
Como foi que, por
exemplo, um australiano permitiu que o seu filho posasse com a cabeça
decapitada de um soldado sírio? (Um militar que servia no exército
de Assad, cujo governo jurámos derrotar).
E como responderam os
nossos serviços de segurança? Com as suas tolices habituais, dando
a entender que o simples facto de ver esses horríveis vídeos de
execuções poderia constituir um crime terrorista. Que tipo de
idiotice é esta?
Pessoalmente, acho
igualmente ofensivo filmar – para depois mostrar na televisão –
o assassinato em massa de seres humanos mediante bombardeamentos. Mas
apesar disso mostramo-los, não é assim? Repetidamente
convidam-nos a observar nos nossos ecrãs de televisão os aviões e
drones a apontar ao alvo nas supostas posições dos combatentes do
EIIL e a imaginar a sua morte dentro da bola de fogo que calcina os
seus veículos. Que não possamos ver os seus rostos não torna isso
menos obsceno. Claro, as suas atividades são o oposto daquilo
por que lutava Foley, mas na verdade todos são militantes? Ainda não
ouvimos essa aberrante maldição linguística: dano colateral, mas
estou certo de que em breve ouviremos.
Que farão os nossos
chefes de segurança? Converter em crime terrorista ver os vídeos
das ações militares norte-americanas? Duvido, a não ser que nas
filmagens se mostre o sangrento assassinato de muitos civis. Então
sim poderiam argumentar, com justa razão, que ao vê-los se alimenta
o terrorismo. E então teríamos que deixar de cobrir as guerras.
Artigo de Robert Fisk,
publicado por “The Independent”, traduzido por Gabriela Fonseca
para o jornal mexicano La Jornada e por Carlos Santos para
esquerda.net
Sobre o/a autor(a)
Robert Fisk
Jornalista inglês,
correspondente do jornal “The Independent” no Médio Oriente.
Vive em Beirute, há mais de 30
anoshttp://www.esquerda.net/artigo/bombardeamentos-falar-de-deus-obama-esta-seguir-o-guiao-dos-jihadistas/33852
24 agosto, 2014
Assedio no ambiente academico.
Assédio sexual impede o progresso feminino no mundo científico
Publicado há 2 dias - em 22 de agosto de 2014 » Atualizado às 10:55
Categoria » Violência contra Mulher
1.61k
17
Levantamentos feitos com cientistas e jornalistas que cobrem ciência apontou que a maioria já foi vítima de algum tipo de assédio por parte de professores, orientadores e fontes
Quando cursava biologia, passei várias semanas de verão na Costa Rica com um estudante mais velho num projeto de pesquisa nas profundezas da floresta. Éramos somente nós dois e, ao chegar ao local, descobri que ele havia reservado um quarto só para nós dois, com uma cama.
Atormentada, mas com medo de ser chamada de pudica ou difícil, não criei caso. Puxei o dono do hotel de lado no dia seguinte e solicitei uma cama. O problema terminou ali, e meu chefe estudante nunca tentou nada fisicamente.
Pensando melhor, fico surpresa em como eu estava despreparada para lidar com esse tipo de situação, principalmente aos 19 anos. Indubitavelmente, minha faculdade tinha uma polícia contra assédio, mas tais recursos estavam a milhares de quilômetros de distância. Eu estava sozinha num país estrangeiro e nunca fora ensinada sobre meus direitos e recursos nessa área.
Eu havia me esquecido dessa experiência de duas décadas atrás até que li um relatório publicado em julho no periódico “PLOS One”. Kathryn Clancy, antropóloga da Universidade de Illinois, campus de Urbana-Champaign, e três colegas usaram e-mail e a mídia social para convidar cientistas a preencher um questionário online a respeito de suas experiências com assédio e agressão durante pesquisas de campo; eles receberam 666 respostas, três quartos delas de mulheres, de 32 disciplinas, inclusive antropologia, arqueologia, biologia e geologia.
Quase dois terços dos participantes disseram que sofreram assédio sexual durante pesquisas de campo. Mais de 20% relataram agressões sexuais. Estudantes ou alunos de pós-doutorado e mulheres mostravam maior probabilidade de serem vítimas dos superiores. Poucos participantes afirmaram que o local da pesquisa tinha um código de conduta ou política relativa a assédio sexual, e das 78 pessoas que ousaram relatar incidentes, menos de 20% se deram por satisfeitas com o resultado.
Os resultados são depressivamente parecidos aos dados que colegas e eu coletamos neste ano com um questionário online enviado a divulgadores científicos. Nós recebemos respostas de 502 redatores, a maioria composta por mulheres, e apresentamos os resultados no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em junho, durante conferência sobre mulheres que trabalham com jornalismo científico, com patrocínio da associação nacional que nos representa.
Mais da metade das mulheres que responderam afirmaram que não foram levadas a sério por causa do seu gênero, uma a cada três sofreu percalços no progresso na carreira e praticamente metade sustentou não ter recebido crédito por suas ideias. Quase metade disse ter sido paquerada ou ter ouvido comentários sexuais, e uma em cada cinco sofreu contato físico indesejado.
Em função da natureza voluntária, não se pode esperar que nenhum dos relatórios nos conte a verdadeira incidência da discriminação sexual e do assédio entre cientistas e jornalistas científicos. Ainda assim, o volume de respostas nos passa um recado inconfundível: após quatro décadas desde a lei que proibiu discriminação sexual na educação pública nos Estados Unidos e 23 anos após Anita Hill ter colocado o assédio sexual sob os holofotes, a parcialidade e o assédio continuam a impedir o progresso feminino.
Clancy afirma que decidiu coletar os dados depois de ser esmagada pelas respostas a uma postagem que publicou em seu blog na revista “Scientific American” em 2012. Uma estudante, “Neblina”, recontou sua vida durante a faculdade:
“Meu corpo e minha sexualidade eram discutidos abertamente pelo meu professor e os alunos”, escreveu a mulher. “Seguiam-se comentários sobre o tamanho grande de meus seios, e ouviam-se especulações sobre minha história sexual.” O professor “costumava brincar que somente mulheres bonitas podiam trabalhar com ele, o que me levou a indagar se meu intelecto e capacitação tinham relevância”.
Os comentários e e-mails jorraram, disse Clancy. “Uma história logo virou duas e, rapidamente, pareceu serem cem”.
Igualmente, nossa pesquisa com redatoras nasceu das conhecidas acusações de assédio contra um famoso editor que foi mentor de muitas jornalistas. Os incidentes levaram as mulheres a revelar suas histórias de discriminação no decorrer da profissão.
Segundo Clancy, no meio acadêmico, acusações de assédio sexual e estupro costumam ser administradas internamente, criando incentivos poderosos para encobrir o mau comportamento, principalmente entre agressores com influência e poder.
“Escutei muitas histórias sobre o professor que não tem permissão de estar no mesmo recinto com fulana ou beltrana”, ela contou. Às vezes, os agressores se beneficiam se livrando de tarefas de aprendizado desagradáveis sem perder o emprego.
O assédio entre jornalistas científicos gerou uma hashtag, #ripplesofdoubt, para descrever como ele enfraquece as mulheres. Mulheres ignoradas para cargos se questionam se foram rejeitadas em função do visual e não pelo trabalho. Outras temiam não ter alcançado a posição por mérito.
De fato, os dados sugerem parcialidade em decisões de orientação. De acordo com estudo publicado neste ano, uma equipe de pesquisadores liderada por Katherine L. Milkman, da Universidade da Pensilvânia, enviou cartas idênticas, supostamente de estudantes, a mais de 6.500 professores de 259 universidades pedindo para discutir oportunidades de pesquisa. Os professores estavam mais propensos a responder ao e-mail de “Brad Anderson” do que de candidatas fictícias com nomes como Claire Smith ou Juan Gonzalez. Esse tipo de parcialidade perpetua a discriminação.
“Nosso mundo é pequeno e os recursos, escassos”, disse outra autora do relatório publicado em “PLOS One” Julienne Rutherford, bióloga e antropóloga da Universidade de Illinois, campus de Chicago. Para ela, se mulheres são dissuadidas ou excluídas de algumas oportunidades, as perdas para a ciência são enormes.
Ano passado, na conferência anual de jornalistas científicos, juntei-me a cinco importantes jornalistas mulheres para apresentar os dados que havíamos coletado sobre as disparidades de gênero em autoria, cargos de nível elevado, prêmios e salários, e para recontar histórias da época em que nosso gênero atrapalhou nossas carreiras.
A seguir, longas filas se formaram aos microfones enquanto pessoas na plateia se levantavam para contar suas histórias. Mulheres jovens contaram ter sido assediadas pelas fontes. Jornalistas tarimbadas recordaram de chefes de mãos inquietas.
Homens se levantaram para oferecer apoio. O diretor de um famoso programa de jornalismo científico disse que da próxima vez que uma aluna confidenciasse ter sido assediada durante estágio, ele iria intervir; aparentemente, a ideia não lhe ocorrera antes.
Em sua maioria, os homens não são sorrateiros, mas têm um papel poderoso a desempenhar aqui. Durante viagem a uma conferência de jornalismo alguns anos trás, tive uma conversa envolvente com um dos principais palestrantes. Quando nos despedimos, ele me disse, diante de dois outros homens, “seu marido não deveria deixar você sair de casa”.
Os dois observadores consideraram essa fala insultuosa um elogio. Foi mais fácil para eles ignorarem do que chamar a atenção de um amigo, e seu comportamento mostrou que não havia problemas em me tratar assim.
Quer o assédio ou a discriminação aconteça num local de pesquisa na Costa Rica ou na sala de conferência, o problema não será solucionado com novas regras arquivadas em sites não lidos. A responsabilidade de resistir não deveria ficar somente a cargo das vítimas. As soluções exigem uma mudança de cultura que somente pode começar de dentro.
Será preciso que os diretores-presidentes, chefes de departamento, diretores de laboratório, professores, editores e redatores-chefes tomem uma posição e digam: pode ir parando com isso. Não me importa se você é meu amigo ou colega preferido; nós não tratamos mulheres assim.
* Por Christie Aschwanden
http://www.geledes.org.br/assedio-sexual-impede-o-progresso-feminino-mundo-cientifico/#axzz3B84Mtv4y
Publicado há 2 dias - em 22 de agosto de 2014 » Atualizado às 10:55
Categoria » Violência contra Mulher
1.61k
17
Levantamentos feitos com cientistas e jornalistas que cobrem ciência apontou que a maioria já foi vítima de algum tipo de assédio por parte de professores, orientadores e fontes
Quando cursava biologia, passei várias semanas de verão na Costa Rica com um estudante mais velho num projeto de pesquisa nas profundezas da floresta. Éramos somente nós dois e, ao chegar ao local, descobri que ele havia reservado um quarto só para nós dois, com uma cama.
Atormentada, mas com medo de ser chamada de pudica ou difícil, não criei caso. Puxei o dono do hotel de lado no dia seguinte e solicitei uma cama. O problema terminou ali, e meu chefe estudante nunca tentou nada fisicamente.
Pensando melhor, fico surpresa em como eu estava despreparada para lidar com esse tipo de situação, principalmente aos 19 anos. Indubitavelmente, minha faculdade tinha uma polícia contra assédio, mas tais recursos estavam a milhares de quilômetros de distância. Eu estava sozinha num país estrangeiro e nunca fora ensinada sobre meus direitos e recursos nessa área.
Eu havia me esquecido dessa experiência de duas décadas atrás até que li um relatório publicado em julho no periódico “PLOS One”. Kathryn Clancy, antropóloga da Universidade de Illinois, campus de Urbana-Champaign, e três colegas usaram e-mail e a mídia social para convidar cientistas a preencher um questionário online a respeito de suas experiências com assédio e agressão durante pesquisas de campo; eles receberam 666 respostas, três quartos delas de mulheres, de 32 disciplinas, inclusive antropologia, arqueologia, biologia e geologia.
Quase dois terços dos participantes disseram que sofreram assédio sexual durante pesquisas de campo. Mais de 20% relataram agressões sexuais. Estudantes ou alunos de pós-doutorado e mulheres mostravam maior probabilidade de serem vítimas dos superiores. Poucos participantes afirmaram que o local da pesquisa tinha um código de conduta ou política relativa a assédio sexual, e das 78 pessoas que ousaram relatar incidentes, menos de 20% se deram por satisfeitas com o resultado.
Os resultados são depressivamente parecidos aos dados que colegas e eu coletamos neste ano com um questionário online enviado a divulgadores científicos. Nós recebemos respostas de 502 redatores, a maioria composta por mulheres, e apresentamos os resultados no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em junho, durante conferência sobre mulheres que trabalham com jornalismo científico, com patrocínio da associação nacional que nos representa.
Mais da metade das mulheres que responderam afirmaram que não foram levadas a sério por causa do seu gênero, uma a cada três sofreu percalços no progresso na carreira e praticamente metade sustentou não ter recebido crédito por suas ideias. Quase metade disse ter sido paquerada ou ter ouvido comentários sexuais, e uma em cada cinco sofreu contato físico indesejado.
Em função da natureza voluntária, não se pode esperar que nenhum dos relatórios nos conte a verdadeira incidência da discriminação sexual e do assédio entre cientistas e jornalistas científicos. Ainda assim, o volume de respostas nos passa um recado inconfundível: após quatro décadas desde a lei que proibiu discriminação sexual na educação pública nos Estados Unidos e 23 anos após Anita Hill ter colocado o assédio sexual sob os holofotes, a parcialidade e o assédio continuam a impedir o progresso feminino.
Clancy afirma que decidiu coletar os dados depois de ser esmagada pelas respostas a uma postagem que publicou em seu blog na revista “Scientific American” em 2012. Uma estudante, “Neblina”, recontou sua vida durante a faculdade:
“Meu corpo e minha sexualidade eram discutidos abertamente pelo meu professor e os alunos”, escreveu a mulher. “Seguiam-se comentários sobre o tamanho grande de meus seios, e ouviam-se especulações sobre minha história sexual.” O professor “costumava brincar que somente mulheres bonitas podiam trabalhar com ele, o que me levou a indagar se meu intelecto e capacitação tinham relevância”.
Os comentários e e-mails jorraram, disse Clancy. “Uma história logo virou duas e, rapidamente, pareceu serem cem”.
Igualmente, nossa pesquisa com redatoras nasceu das conhecidas acusações de assédio contra um famoso editor que foi mentor de muitas jornalistas. Os incidentes levaram as mulheres a revelar suas histórias de discriminação no decorrer da profissão.
Segundo Clancy, no meio acadêmico, acusações de assédio sexual e estupro costumam ser administradas internamente, criando incentivos poderosos para encobrir o mau comportamento, principalmente entre agressores com influência e poder.
“Escutei muitas histórias sobre o professor que não tem permissão de estar no mesmo recinto com fulana ou beltrana”, ela contou. Às vezes, os agressores se beneficiam se livrando de tarefas de aprendizado desagradáveis sem perder o emprego.
O assédio entre jornalistas científicos gerou uma hashtag, #ripplesofdoubt, para descrever como ele enfraquece as mulheres. Mulheres ignoradas para cargos se questionam se foram rejeitadas em função do visual e não pelo trabalho. Outras temiam não ter alcançado a posição por mérito.
De fato, os dados sugerem parcialidade em decisões de orientação. De acordo com estudo publicado neste ano, uma equipe de pesquisadores liderada por Katherine L. Milkman, da Universidade da Pensilvânia, enviou cartas idênticas, supostamente de estudantes, a mais de 6.500 professores de 259 universidades pedindo para discutir oportunidades de pesquisa. Os professores estavam mais propensos a responder ao e-mail de “Brad Anderson” do que de candidatas fictícias com nomes como Claire Smith ou Juan Gonzalez. Esse tipo de parcialidade perpetua a discriminação.
“Nosso mundo é pequeno e os recursos, escassos”, disse outra autora do relatório publicado em “PLOS One” Julienne Rutherford, bióloga e antropóloga da Universidade de Illinois, campus de Chicago. Para ela, se mulheres são dissuadidas ou excluídas de algumas oportunidades, as perdas para a ciência são enormes.
Ano passado, na conferência anual de jornalistas científicos, juntei-me a cinco importantes jornalistas mulheres para apresentar os dados que havíamos coletado sobre as disparidades de gênero em autoria, cargos de nível elevado, prêmios e salários, e para recontar histórias da época em que nosso gênero atrapalhou nossas carreiras.
A seguir, longas filas se formaram aos microfones enquanto pessoas na plateia se levantavam para contar suas histórias. Mulheres jovens contaram ter sido assediadas pelas fontes. Jornalistas tarimbadas recordaram de chefes de mãos inquietas.
Homens se levantaram para oferecer apoio. O diretor de um famoso programa de jornalismo científico disse que da próxima vez que uma aluna confidenciasse ter sido assediada durante estágio, ele iria intervir; aparentemente, a ideia não lhe ocorrera antes.
Em sua maioria, os homens não são sorrateiros, mas têm um papel poderoso a desempenhar aqui. Durante viagem a uma conferência de jornalismo alguns anos trás, tive uma conversa envolvente com um dos principais palestrantes. Quando nos despedimos, ele me disse, diante de dois outros homens, “seu marido não deveria deixar você sair de casa”.
Os dois observadores consideraram essa fala insultuosa um elogio. Foi mais fácil para eles ignorarem do que chamar a atenção de um amigo, e seu comportamento mostrou que não havia problemas em me tratar assim.
Quer o assédio ou a discriminação aconteça num local de pesquisa na Costa Rica ou na sala de conferência, o problema não será solucionado com novas regras arquivadas em sites não lidos. A responsabilidade de resistir não deveria ficar somente a cargo das vítimas. As soluções exigem uma mudança de cultura que somente pode começar de dentro.
Será preciso que os diretores-presidentes, chefes de departamento, diretores de laboratório, professores, editores e redatores-chefes tomem uma posição e digam: pode ir parando com isso. Não me importa se você é meu amigo ou colega preferido; nós não tratamos mulheres assim.
* Por Christie Aschwanden
http://www.geledes.org.br/assedio-sexual-impede-o-progresso-feminino-mundo-cientifico/#axzz3B84Mtv4y
16 agosto, 2014
Impostos e serviços publicos
O ator sueco e a sonegação da Globo
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Stellan Skarsgard é um ator sueco.
Aos 63 anos, um dos favoritos do cineasta Lars von Trier, tem uma carreira vitoriosa que lhe trouxe fama e dinheiro. Recentemente, ele concedeu uma entrevista na qual reafirmou seu amor pela Suécia.
“Vivo na Suécia porque o imposto é alto, e assim ninguém passa fome. A saúde é boa e gratuita, assim como as escolas e as universidades”, disse ele. “Você prefere pagar imposto alto?”, lhe perguntaram. “Claro. Se você ganha muito dinheiro, como eu, você tem que pagar taxas maiores. Assim, todo mundo tem a oportunidade de ir para a escola e para a universidade. Todos têm também acesso a uma saúde pública de qualidade.”
Skarsgard nasceu e cresceu numa cultura que valoriza o pagamento de impostos. Por isso a Suécia é tão avançada socialmente. Impostos, como lembrou ele, constroem hospitais, escolas, universidades. Pagam professores e médicos da rede pública, além de tantas outras coisas positivas para qualquer sociedade.
Essa cultura vigora também na Alemanha. Recentemente, o presidente do Bayern foi para a cadeia por sonegar imposto. Quando o caso eclodiu, as autoridades alemãs fizeram questão de puni-lo exemplarmente sob um argumento poderoso: nenhum país funciona quando as pessoas acreditam que podem sonegar impostos impunemente.
Agora, vejamos o Brasil. Há anos, décadas a mídia alimenta uma cultura visceralmente oposta. Imposto, você lê todo dia, é um horror. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo (o que é mentira). Imposto é uma coisa injusta. Bem, a mensagem é: sonegue, se puder. Parabéns, caso consiga.
Não poderia haver coisa mais danosa para os cidadãos do que esta pregação diuturna da mídia. Você os deforma moralmente. Tira-lhes o senso de solidariedade presente em pessoas como o ator sueco citado neste artigo.
Além de tudo, a cultura da sonegação acaba chancelando os truques praticados pelas grandes companhias de mídia para escapar dos impostos. Considere o caso célebre da sonegação da Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.
Nestes dias, vazou toda a documentação relativa ao caso. Uma amostra já tinha vindo à luz – na internet, naturalmente – algum tempo atrás, num furo do site Cafezinho. Só a cultura da sonegação pode explicar o silêncio sinistro que cerca este escândalo fiscal.
Até aqui, a Globo não deu uma única satisfação à sociedade. Não se desculpou, não se justificou. É como se nada houvesse ocorrido. Também a Receita Federal, até aqui, não disse nada. Mais uma vez, é como se nada houvesse ocorrido no âmbito da receita. Nenhuma autoridade econômica, igualmente, se pronunciou. De novo, é como se nada houvesse ocorrido numa área tão vital para a economia como a arrecadação de tributos.
E a mídia?
Bem, a mídia finge que não está acontecendo nada. Contei já: quando o Cafezinho publicou os documentos, falei com o editor executivo da Folha, Sérgio Dávila. Ponderei que era um caso importante, e ele aparentemente concordou porque logo a Folha fez uma reportagem sobre o assunto. Uma e apenas uma. Em seguida, a sonegação da Globo sumiu da Folha para nunca mais retornar.
Se conheço as coisas como funcionam nas redações, um telefonema de um Marinho para um Frias – as famílias são sócias no Valor — pôs fim à cobertura. Volto a Stellan Skarsgard. Em todo país socialmente desenvolvido, pagar impostos é uma coisa sagrada. E sonegá-los é um ato de lesa sociedade, passível de punição exemplar.
O Brasil sofreu uma lavagem cerebral da mídia. Uma das tarefas prementes de uma administração sábia é desfazer essa lavagem. Quando as palavras do ator sueco encontrarem eco no Brasil, seremos uma sociedade desenvolvida.http://www.viomundo.com.br/denuncias/paulo-nogueira-globo-e-o-mal-que-cultura-da-sonegacao-faz-ao-brasil.html
O ator sueco e a sonegação da Globo
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Stellan Skarsgard é um ator sueco.
Aos 63 anos, um dos favoritos do cineasta Lars von Trier, tem uma carreira vitoriosa que lhe trouxe fama e dinheiro. Recentemente, ele concedeu uma entrevista na qual reafirmou seu amor pela Suécia.
“Vivo na Suécia porque o imposto é alto, e assim ninguém passa fome. A saúde é boa e gratuita, assim como as escolas e as universidades”, disse ele. “Você prefere pagar imposto alto?”, lhe perguntaram. “Claro. Se você ganha muito dinheiro, como eu, você tem que pagar taxas maiores. Assim, todo mundo tem a oportunidade de ir para a escola e para a universidade. Todos têm também acesso a uma saúde pública de qualidade.”
Skarsgard nasceu e cresceu numa cultura que valoriza o pagamento de impostos. Por isso a Suécia é tão avançada socialmente. Impostos, como lembrou ele, constroem hospitais, escolas, universidades. Pagam professores e médicos da rede pública, além de tantas outras coisas positivas para qualquer sociedade.
Essa cultura vigora também na Alemanha. Recentemente, o presidente do Bayern foi para a cadeia por sonegar imposto. Quando o caso eclodiu, as autoridades alemãs fizeram questão de puni-lo exemplarmente sob um argumento poderoso: nenhum país funciona quando as pessoas acreditam que podem sonegar impostos impunemente.
Agora, vejamos o Brasil. Há anos, décadas a mídia alimenta uma cultura visceralmente oposta. Imposto, você lê todo dia, é um horror. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo (o que é mentira). Imposto é uma coisa injusta. Bem, a mensagem é: sonegue, se puder. Parabéns, caso consiga.
Não poderia haver coisa mais danosa para os cidadãos do que esta pregação diuturna da mídia. Você os deforma moralmente. Tira-lhes o senso de solidariedade presente em pessoas como o ator sueco citado neste artigo.
Além de tudo, a cultura da sonegação acaba chancelando os truques praticados pelas grandes companhias de mídia para escapar dos impostos. Considere o caso célebre da sonegação da Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.
Nestes dias, vazou toda a documentação relativa ao caso. Uma amostra já tinha vindo à luz – na internet, naturalmente – algum tempo atrás, num furo do site Cafezinho. Só a cultura da sonegação pode explicar o silêncio sinistro que cerca este escândalo fiscal.
Até aqui, a Globo não deu uma única satisfação à sociedade. Não se desculpou, não se justificou. É como se nada houvesse ocorrido. Também a Receita Federal, até aqui, não disse nada. Mais uma vez, é como se nada houvesse ocorrido no âmbito da receita. Nenhuma autoridade econômica, igualmente, se pronunciou. De novo, é como se nada houvesse ocorrido numa área tão vital para a economia como a arrecadação de tributos.
E a mídia?
Bem, a mídia finge que não está acontecendo nada. Contei já: quando o Cafezinho publicou os documentos, falei com o editor executivo da Folha, Sérgio Dávila. Ponderei que era um caso importante, e ele aparentemente concordou porque logo a Folha fez uma reportagem sobre o assunto. Uma e apenas uma. Em seguida, a sonegação da Globo sumiu da Folha para nunca mais retornar.
Se conheço as coisas como funcionam nas redações, um telefonema de um Marinho para um Frias – as famílias são sócias no Valor — pôs fim à cobertura. Volto a Stellan Skarsgard. Em todo país socialmente desenvolvido, pagar impostos é uma coisa sagrada. E sonegá-los é um ato de lesa sociedade, passível de punição exemplar.
O Brasil sofreu uma lavagem cerebral da mídia. Uma das tarefas prementes de uma administração sábia é desfazer essa lavagem. Quando as palavras do ator sueco encontrarem eco no Brasil, seremos uma sociedade desenvolvida.http://www.viomundo.com.br/denuncias/paulo-nogueira-globo-e-o-mal-que-cultura-da-sonegacao-faz-ao-brasil.html
Corrupção , sonegaçao e Serviços publicos
Carga tributária, corrupção, senso comum e serviços públicos
17 de julho de 2013
Existe uma forma de pensar os problemas existentes nos serviços oferecidos pelo Estado, especialmente em Educação e Saúde, que está disseminada entre as pessoas e é sistematicamente reproduzida pela mídia: a absurda carga tributária brasileira gera uma quantidade enorme de recursos que, em função de desvios, fraudes ou afins – ou seja, da corrupção generalizada – não chegam onde deveriam chegar, explicando a insuficiência e má qualidade dos serviços públicos.
Na verdade, este raciocínio traz consigo uma série de distorções e esconde a real dimensão das questões que se colocam para o país.
Dados consolidados de 2011 mostram que a carga tributária brasileira naquele ano foi de 33,5% do PIB. Numa amostra com 30 países, este percentual coloca o Brasil numa posição intermediária, na 17ª colocação. De fato, estamos à frente de países como Chile (20,1%), EUA (24,8%) e Portugal (31,3%). No topo do ranking estão os países notoriamente conhecidos pela excelência nos serviços públicos: Dinamarca (48,2%) e Suécia (45,8%), sendo a carga tributária brasileira inferior a de países como Itália (43,0%), Eslovênia (37,6%) e Hungria (36,7%).
Ao contrário do senso comum, os dados mostram que o Brasil não tem a maior carga tributária do mundo. Mostram também que os impostos, como se vê pelos países escandinavos, são fontes imprescindíveis de recursos. A questão é que a “ira nacional” contra os impostos deveria ser dirigida aquilo que realmente importa: a) a composição da nossa carga tributária; b) a sonegação de impostos c) a destinação dos recursos.
Sobre o primeiro aspecto, dados também de 2011 revelam que quase 50% da nossa carga tributária provem da taxação de bens e serviços (consumo). Parcela relevante, aproximadamente 25%, da tributação sobre a folha salarial e os outros 25% dividem-se entre tributos sobre a renda (19%), sobre a propriedade (3%) e sobre as transações financeiras (2%). Evidencia-se o problema da regressividade do sistema tributário brasileiro, que incide proporcionalmente mais sobre os mais pobres (já que estes comprometem boa parte de sua renda com o consumo). Ao mesmo tempo, o patrimônio e a riqueza são preservados pelos tributos no Brasil.
Em relação à sonegação fiscal, estimativa do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional mostra que, no período de um ano, cerca de R$ 400 bilhões (10% do PIB) deixam de ser arrecadados. A permanência de parcela significativa da população na economia informal, as debilidades da fiscalização e brechas ou artifícios utilizados para não pagar impostos, essencialmente por grandes empresas e os mais ricos, explicariam este resultado.
No que tange à destinação dos recursos, ao contrário do que reza o senso comum, não é a corrupção que provoca os maiores problemas. Em artigo recente, o economista Samuel Pessoa da FGV, que não pode ser acusado de governista, menciona estudos que estimam um desperdício de R$ 6 bilhões por ano com a corrupção. De fato, esta é uma estimativa difícil, mas mesmo que não seja exatamente isso, trata-se de uma questão de ordem de grandeza. Os grandes escândalos de corrupção, isoladamente, envolvem montantes de milhões de reais, enquanto o orçamento público ou PIB se estabelecem em termos de bilhões de reais.
Parênteses: a constatação anterior, de forma alguma, justifica a corrupção, que é moralmente condenável se envolver um ou um milhão de reais (aliás, é curioso como alguns se mostram intransigentes ao condenar políticos e governantes, mas facilmente praticam “pequenos desvios” em suas vidas pessoais). Mas o fato é que, como fonte responsável pela drenagem de recursos públicos, a corrupção é bem menos significativa do aquilo que deixa de ser arrecadado com a sonegação ou, como veremos a seguir, com o que se gasta com outros itens do orçamento público.
Entre 2002 e 2011, o país gastou, em média, 6,3% do PIB para o pagamento com juros e despesas financeiras, algo em torno de R$ 300 bilhões anuais em valores de hoje (Amir Khair, Carta Maior). Ao mesmo tempo, na peça orçamentária de 2013 os gastos previstos pela União com Educação e Saúde são de R$ 71,7 bilhões e R$ 87,7 bilhões, respectivamente. Comparações internacionais não deixam dúvidas quanto ao sub-financiamento dos nossos sistemas de Educação e Saúde (o que não exclui problemas de gestão, ligados à forma de funcionamento da máquina pública no Brasil).
Resumindo alguns pontos: aquilo que deixa de ser arrecado pela sonegação fiscal é quase que 70 vezes mais do que o montante desviado pela corrupção, enquanto o gasto com juros, que se direciona para uma minoria detentora de títulos públicos, é 3,5 vezes maior do que o orçamento da Saúde, supostamente para 190 milhões de brasileiros.
Portanto, a ideia de que todos os problemas se resumem à corrupção dos governos é, na verdade, simplista e totalmente insuficiente para dimensionar os reais desafios do país em oferecer serviços públicos de qualidade. Reforma tributária de caráter progressivo, retomada do crescimento econômico a partir da melhora da relação entre cambio e juros e da recuperação industrial, aumento dos investimentos em infraestrutura e reestruturação da máquina pública e das formas de gestão. São temas essenciais e complexos, ou seja, a vida seria bem mais simples se dependêssemos apenas do bom comportamento dos políticos.http://vggarciatrestemas.wordpress.com/2013/07/17/carga-tributaria-corrupcao-senso-comum-e-servicos-publicos/
Carga tributária, corrupção, senso comum e serviços públicos
17 de julho de 2013
Existe uma forma de pensar os problemas existentes nos serviços oferecidos pelo Estado, especialmente em Educação e Saúde, que está disseminada entre as pessoas e é sistematicamente reproduzida pela mídia: a absurda carga tributária brasileira gera uma quantidade enorme de recursos que, em função de desvios, fraudes ou afins – ou seja, da corrupção generalizada – não chegam onde deveriam chegar, explicando a insuficiência e má qualidade dos serviços públicos.
Na verdade, este raciocínio traz consigo uma série de distorções e esconde a real dimensão das questões que se colocam para o país.
Dados consolidados de 2011 mostram que a carga tributária brasileira naquele ano foi de 33,5% do PIB. Numa amostra com 30 países, este percentual coloca o Brasil numa posição intermediária, na 17ª colocação. De fato, estamos à frente de países como Chile (20,1%), EUA (24,8%) e Portugal (31,3%). No topo do ranking estão os países notoriamente conhecidos pela excelência nos serviços públicos: Dinamarca (48,2%) e Suécia (45,8%), sendo a carga tributária brasileira inferior a de países como Itália (43,0%), Eslovênia (37,6%) e Hungria (36,7%).
Ao contrário do senso comum, os dados mostram que o Brasil não tem a maior carga tributária do mundo. Mostram também que os impostos, como se vê pelos países escandinavos, são fontes imprescindíveis de recursos. A questão é que a “ira nacional” contra os impostos deveria ser dirigida aquilo que realmente importa: a) a composição da nossa carga tributária; b) a sonegação de impostos c) a destinação dos recursos.
Sobre o primeiro aspecto, dados também de 2011 revelam que quase 50% da nossa carga tributária provem da taxação de bens e serviços (consumo). Parcela relevante, aproximadamente 25%, da tributação sobre a folha salarial e os outros 25% dividem-se entre tributos sobre a renda (19%), sobre a propriedade (3%) e sobre as transações financeiras (2%). Evidencia-se o problema da regressividade do sistema tributário brasileiro, que incide proporcionalmente mais sobre os mais pobres (já que estes comprometem boa parte de sua renda com o consumo). Ao mesmo tempo, o patrimônio e a riqueza são preservados pelos tributos no Brasil.
Em relação à sonegação fiscal, estimativa do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional mostra que, no período de um ano, cerca de R$ 400 bilhões (10% do PIB) deixam de ser arrecadados. A permanência de parcela significativa da população na economia informal, as debilidades da fiscalização e brechas ou artifícios utilizados para não pagar impostos, essencialmente por grandes empresas e os mais ricos, explicariam este resultado.
No que tange à destinação dos recursos, ao contrário do que reza o senso comum, não é a corrupção que provoca os maiores problemas. Em artigo recente, o economista Samuel Pessoa da FGV, que não pode ser acusado de governista, menciona estudos que estimam um desperdício de R$ 6 bilhões por ano com a corrupção. De fato, esta é uma estimativa difícil, mas mesmo que não seja exatamente isso, trata-se de uma questão de ordem de grandeza. Os grandes escândalos de corrupção, isoladamente, envolvem montantes de milhões de reais, enquanto o orçamento público ou PIB se estabelecem em termos de bilhões de reais.
Parênteses: a constatação anterior, de forma alguma, justifica a corrupção, que é moralmente condenável se envolver um ou um milhão de reais (aliás, é curioso como alguns se mostram intransigentes ao condenar políticos e governantes, mas facilmente praticam “pequenos desvios” em suas vidas pessoais). Mas o fato é que, como fonte responsável pela drenagem de recursos públicos, a corrupção é bem menos significativa do aquilo que deixa de ser arrecadado com a sonegação ou, como veremos a seguir, com o que se gasta com outros itens do orçamento público.
Entre 2002 e 2011, o país gastou, em média, 6,3% do PIB para o pagamento com juros e despesas financeiras, algo em torno de R$ 300 bilhões anuais em valores de hoje (Amir Khair, Carta Maior). Ao mesmo tempo, na peça orçamentária de 2013 os gastos previstos pela União com Educação e Saúde são de R$ 71,7 bilhões e R$ 87,7 bilhões, respectivamente. Comparações internacionais não deixam dúvidas quanto ao sub-financiamento dos nossos sistemas de Educação e Saúde (o que não exclui problemas de gestão, ligados à forma de funcionamento da máquina pública no Brasil).
Resumindo alguns pontos: aquilo que deixa de ser arrecado pela sonegação fiscal é quase que 70 vezes mais do que o montante desviado pela corrupção, enquanto o gasto com juros, que se direciona para uma minoria detentora de títulos públicos, é 3,5 vezes maior do que o orçamento da Saúde, supostamente para 190 milhões de brasileiros.
Portanto, a ideia de que todos os problemas se resumem à corrupção dos governos é, na verdade, simplista e totalmente insuficiente para dimensionar os reais desafios do país em oferecer serviços públicos de qualidade. Reforma tributária de caráter progressivo, retomada do crescimento econômico a partir da melhora da relação entre cambio e juros e da recuperação industrial, aumento dos investimentos em infraestrutura e reestruturação da máquina pública e das formas de gestão. São temas essenciais e complexos, ou seja, a vida seria bem mais simples se dependêssemos apenas do bom comportamento dos políticos.http://vggarciatrestemas.wordpress.com/2013/07/17/carga-tributaria-corrupcao-senso-comum-e-servicos-publicos/
19 fevereiro, 2014
A Recolonizacao e seus agentes
A recolonizacao e suas faces multiplas
Denúncias
Rodrigo Vianna: No Brasil e na Venezuela, a guerra da desinformação
publicado em 17 de fevereiro de 2014 às 18:35
Black Bloc venezuelano, na concepção de Vitor Teixeira
A batalha da América Latina
Brasil e Venezuela: a guerra da informação
publicada domingo, 16/02/2014 às 21:16 e atualizada segunda-feira, 17/02/2014 às 14:00
por Rodrigo Vianna, em seu blog
São tristes, preocupantes, mas não chegam a surpreender as cenas de violência e confronto aberto na Venezuela. Nos últimos 6 anos, estive lá cinco vezes
– sempre na função de jornalista. Há um clima permanente de conflagração.
As TVs privadas, com amplo apoio das classes médias e altas, tentaram dar um golpe em 2002 contra Hugo Chavez (sobre isso, há umdocumentário
excelente – “A Revolução Não Será Televisionada”). Chavez resistiu ao golpe com apoio dos pobres de Caracas – que desceram os morros para apoiá-lo – e
de setores legalistas do Exército. Desde então, o chavismo se organizou mais, criou uma rede de TVs públicas para se contrapor ao “terror midiático”
(como dizem os chavistas), e se organizou no PSUV (ainda que o Partido Comunista, também chavista, tenha preferido manter sua autonomia
organizacional).
Jornais e meios de comunicação jamais tramaram golpes no Brasil com apoio da CIA…
É preciso lembrar que TVs e revistas brasileiras (Globo e Veja) comemoraram o golpe contra Chavez em 2002 – e se deram mal porque ele voltou ao poder
2 dias depois.
Nas ruas de Caracas, ano a ano, só senti o clima piorar. Confronto permanente. Acompanhei na região de Altamira, em Caracas, o ódio da classe média
pelos chavistas. Com a câmera ligada, eles não se atrevem a tanto, mas em conversas informais surgiam sempre termos racistas para se referir a Chavez –
que tinha feições indígenas, mestiças, num país desde sempre dominado por uma elite (branca) que controlava o petróleo.
O chavismo tinha e tem muitos problemas: dependia excessivamente da figura do “líder”, a gestão do Estado é defeituosa, há problemas concretos (coleta
de lixo, segurança etc). Mas mesmo assim o chavismo significou tirar o petróleo das maõs da elite que quebrou o país nos anos 80. Além disso, enfrenta o
boicote econômico permanente de uma burguesia que havia se apropriado da PDVSA (a gigante do Petróleo venezuelana).
O chavismo sobreviveu à morte de Chavez. O chavismo, está claro, não é uma “loucura populista” ou uma “invenção castrista” – como querem fazer crer
certos comentaristas na imprensa brasileira. O chavismo é o resultado de contradições e lutas concretas do povo venezuelano – lutas que agora seguem
sob o comando de Nicolas Maduro, que evidentemente não tem o mesmo carisma do líder original.
Vejo muita gente dizer que o “populismo” chavista quebrou a Venezuela. Esquecem-se que a economia venezuelana cambaleava muito antes de Chavez.
Esquecem-se também que o tenente-coronel Hugo Chavez Frias não inventou a multidão nas ruas. A multidão é que inventou Chavez. A multidão
precedeu Chavez. Em 89, o governo neoliberal de Andres Perez ameaçou subir as tarifas públicas – seguindo receituário do FMI. O povo foi pra rua, sem
nenhuma liderança, noCaracazo (uma rebelião impressionante que tomou as ruas da capital).
O chavismo foi a resposta popular à barbárie liberal, foi uma tentativa de dar forma a essa insatisfação diante do receituário que vinha do Norte. Os
responsáveis pela barbárie liberal tentam agora retomar o poder – com apoio dos velhos sócios do Norte. E nada disso surpreende…
O que assusta é o nível dos comentários sobre a Venezuela nos portais de notícia brasileiros.
Há pouco, eu lia uma postagem do “Opera Mundi” (sítio de esquerda, mas hospedado no UOL). Quem tiver estômago pode conferir as pérolas dos
leitores… Resumo abaixo algumas delas:
– “A VENEZUELA SERÁ PALCO DA PRIMEIRA GUERRA CIVIL PLANEJADA PARA A TOMADA DO PODER COMUNISTA NA AMÉRICA LATINA.”
– “O chavismo conseguiu levar a Venezuela à falência. Um país sem papel higiênico e muita lambança comunista para limpar.”
– “Aquele pais virou um verdadeiro lixo, podia ser uma potencia de tanto petroleo que tem, mas o socialismo acabou com tudo. O que sobrou foi uma
latrina gigante.”
– “Vai morar na Venezuela então , por mim os venezuelanos tem que matar o maduro.”
– “É fácil quando a eleição é manipulada. Maduro ganhou pq roubou a eleição como foi comprovado.”
Envenenados pela “Veja”, “Globo” e seus colunistas amestrados, esses leitores são incapazes de pensar por conta própria. Repetem chavões
anticomunistas, e seriam capazes de implorar pela invasão da Venezuela pelos EUA.
Desconhecem a história da Venezuela pré-Chavez… Não sabem o que é a luta pela integração da América Latina – diariamente combatida pelos Estados
Unidos.
Se Maduro sofrer um golpe, se os marines desembarcarem em Caracas, muitos brasileiros vão aplaudir e comemorar. Não são ricos, não são da “elite”. São
pobres. Miseráveis, na verdade. Indigentes em formação. Vítimas da maior máquina de desinformação montada no Brasil: o consórcio midiático
(Globo/Veja/Folha e sócios minoritários) que Dilma pretende enfrentar na base do “controle remoto”.
A América Latina pode virar, nos próximos anos, mais um laboratório das técnicas de ocupação imperialista adotadas no século XXI. Terror midiático,
ataques generalizados à “política”, acompanhados de ações concretas de boicote e medo – sempre que isso for necessário.
Não é à toa que movimentos “anarquistas” e “contra o poder” tenham se espalhado justamente pelos países que de alguma forma se opõem aos interesses
dos Estados Unidos.
O imperialismo não explica, claro, todos os problemas de Venezuela, Brasil, Argentina. Temos nossas mazelas, nossa história de desigualdade e
iniquidade. Mas o imperialismo explica sim as seguidas tentativas de bloquear o desenvolvimento independente de nossos países.
A morte de Vargas no Brasil em 1954, a derrubada de Jacobo Arbenz na Guatemala no mesmo ano, e depois a sequência de golpes no Brasil, Uruguai,
Argentina e Chile (anos 60 e 70) são exemplos desse bloqueio permanente. Não é “teoria conspiratória”. É a História, comprovada pelos documentos que
mostram envolvimento direto da CIA e da Casa Branca nos golpes.
A Venezuela não precisou de golpes. Porque tinha uma elite absolutamente domesticada. Com Chavez, essa história mudou. A vitória de Chavez foi o
começo da “virada” na América do Sul.
Os Estados Unidos e seus sócios locais empreendem agora um violento contra-ataque. Na Venezuela, trava-se nas ruas um combate tão importante
quanto o que se vai travar nas urnas brasileiras em outubro. Duas batalhas da mesma guerra. E pelo que vemos e lemos por aí, o terror midiático fez seu
trabalho de forma eficiente: há milhares de latino-americanos dispostos a trabalhar a favor da “reocupação”, da “recolonização” de nossos países.
Por isso, essa é uma guerra que se trava nas ruas, nas urnas e também nos meio de Comunicação. Uma guerra pelo poder nunca deixa de ser também uma
guerra pelos símbolos, uma guerra pela narrativa e pela informação.http://www.viomundo.com.br/denuncias/rodrigo-vianna-no-brasil-e-na-
venezuela-a-guerra-da-desinformacao.html
Denúncias
Rodrigo Vianna: No Brasil e na Venezuela, a guerra da desinformação
publicado em 17 de fevereiro de 2014 às 18:35
Black Bloc venezuelano, na concepção de Vitor Teixeira
A batalha da América Latina
Brasil e Venezuela: a guerra da informação
publicada domingo, 16/02/2014 às 21:16 e atualizada segunda-feira, 17/02/2014 às 14:00
por Rodrigo Vianna, em seu blog
São tristes, preocupantes, mas não chegam a surpreender as cenas de violência e confronto aberto na Venezuela. Nos últimos 6 anos, estive lá cinco vezes
– sempre na função de jornalista. Há um clima permanente de conflagração.
As TVs privadas, com amplo apoio das classes médias e altas, tentaram dar um golpe em 2002 contra Hugo Chavez (sobre isso, há umdocumentário
excelente – “A Revolução Não Será Televisionada”). Chavez resistiu ao golpe com apoio dos pobres de Caracas – que desceram os morros para apoiá-lo – e
de setores legalistas do Exército. Desde então, o chavismo se organizou mais, criou uma rede de TVs públicas para se contrapor ao “terror midiático”
(como dizem os chavistas), e se organizou no PSUV (ainda que o Partido Comunista, também chavista, tenha preferido manter sua autonomia
organizacional).
Jornais e meios de comunicação jamais tramaram golpes no Brasil com apoio da CIA…
É preciso lembrar que TVs e revistas brasileiras (Globo e Veja) comemoraram o golpe contra Chavez em 2002 – e se deram mal porque ele voltou ao poder
2 dias depois.
Nas ruas de Caracas, ano a ano, só senti o clima piorar. Confronto permanente. Acompanhei na região de Altamira, em Caracas, o ódio da classe média
pelos chavistas. Com a câmera ligada, eles não se atrevem a tanto, mas em conversas informais surgiam sempre termos racistas para se referir a Chavez –
que tinha feições indígenas, mestiças, num país desde sempre dominado por uma elite (branca) que controlava o petróleo.
O chavismo tinha e tem muitos problemas: dependia excessivamente da figura do “líder”, a gestão do Estado é defeituosa, há problemas concretos (coleta
de lixo, segurança etc). Mas mesmo assim o chavismo significou tirar o petróleo das maõs da elite que quebrou o país nos anos 80. Além disso, enfrenta o
boicote econômico permanente de uma burguesia que havia se apropriado da PDVSA (a gigante do Petróleo venezuelana).
O chavismo sobreviveu à morte de Chavez. O chavismo, está claro, não é uma “loucura populista” ou uma “invenção castrista” – como querem fazer crer
certos comentaristas na imprensa brasileira. O chavismo é o resultado de contradições e lutas concretas do povo venezuelano – lutas que agora seguem
sob o comando de Nicolas Maduro, que evidentemente não tem o mesmo carisma do líder original.
Vejo muita gente dizer que o “populismo” chavista quebrou a Venezuela. Esquecem-se que a economia venezuelana cambaleava muito antes de Chavez.
Esquecem-se também que o tenente-coronel Hugo Chavez Frias não inventou a multidão nas ruas. A multidão é que inventou Chavez. A multidão
precedeu Chavez. Em 89, o governo neoliberal de Andres Perez ameaçou subir as tarifas públicas – seguindo receituário do FMI. O povo foi pra rua, sem
nenhuma liderança, noCaracazo (uma rebelião impressionante que tomou as ruas da capital).
O chavismo foi a resposta popular à barbárie liberal, foi uma tentativa de dar forma a essa insatisfação diante do receituário que vinha do Norte. Os
responsáveis pela barbárie liberal tentam agora retomar o poder – com apoio dos velhos sócios do Norte. E nada disso surpreende…
O que assusta é o nível dos comentários sobre a Venezuela nos portais de notícia brasileiros.
Há pouco, eu lia uma postagem do “Opera Mundi” (sítio de esquerda, mas hospedado no UOL). Quem tiver estômago pode conferir as pérolas dos
leitores… Resumo abaixo algumas delas:
– “A VENEZUELA SERÁ PALCO DA PRIMEIRA GUERRA CIVIL PLANEJADA PARA A TOMADA DO PODER COMUNISTA NA AMÉRICA LATINA.”
– “O chavismo conseguiu levar a Venezuela à falência. Um país sem papel higiênico e muita lambança comunista para limpar.”
– “Aquele pais virou um verdadeiro lixo, podia ser uma potencia de tanto petroleo que tem, mas o socialismo acabou com tudo. O que sobrou foi uma
latrina gigante.”
– “Vai morar na Venezuela então , por mim os venezuelanos tem que matar o maduro.”
– “É fácil quando a eleição é manipulada. Maduro ganhou pq roubou a eleição como foi comprovado.”
Envenenados pela “Veja”, “Globo” e seus colunistas amestrados, esses leitores são incapazes de pensar por conta própria. Repetem chavões
anticomunistas, e seriam capazes de implorar pela invasão da Venezuela pelos EUA.
Desconhecem a história da Venezuela pré-Chavez… Não sabem o que é a luta pela integração da América Latina – diariamente combatida pelos Estados
Unidos.
Se Maduro sofrer um golpe, se os marines desembarcarem em Caracas, muitos brasileiros vão aplaudir e comemorar. Não são ricos, não são da “elite”. São
pobres. Miseráveis, na verdade. Indigentes em formação. Vítimas da maior máquina de desinformação montada no Brasil: o consórcio midiático
(Globo/Veja/Folha e sócios minoritários) que Dilma pretende enfrentar na base do “controle remoto”.
A América Latina pode virar, nos próximos anos, mais um laboratório das técnicas de ocupação imperialista adotadas no século XXI. Terror midiático,
ataques generalizados à “política”, acompanhados de ações concretas de boicote e medo – sempre que isso for necessário.
Não é à toa que movimentos “anarquistas” e “contra o poder” tenham se espalhado justamente pelos países que de alguma forma se opõem aos interesses
dos Estados Unidos.
O imperialismo não explica, claro, todos os problemas de Venezuela, Brasil, Argentina. Temos nossas mazelas, nossa história de desigualdade e
iniquidade. Mas o imperialismo explica sim as seguidas tentativas de bloquear o desenvolvimento independente de nossos países.
A morte de Vargas no Brasil em 1954, a derrubada de Jacobo Arbenz na Guatemala no mesmo ano, e depois a sequência de golpes no Brasil, Uruguai,
Argentina e Chile (anos 60 e 70) são exemplos desse bloqueio permanente. Não é “teoria conspiratória”. É a História, comprovada pelos documentos que
mostram envolvimento direto da CIA e da Casa Branca nos golpes.
A Venezuela não precisou de golpes. Porque tinha uma elite absolutamente domesticada. Com Chavez, essa história mudou. A vitória de Chavez foi o
começo da “virada” na América do Sul.
Os Estados Unidos e seus sócios locais empreendem agora um violento contra-ataque. Na Venezuela, trava-se nas ruas um combate tão importante
quanto o que se vai travar nas urnas brasileiras em outubro. Duas batalhas da mesma guerra. E pelo que vemos e lemos por aí, o terror midiático fez seu
trabalho de forma eficiente: há milhares de latino-americanos dispostos a trabalhar a favor da “reocupação”, da “recolonização” de nossos países.
Por isso, essa é uma guerra que se trava nas ruas, nas urnas e também nos meio de Comunicação. Uma guerra pelo poder nunca deixa de ser também uma
guerra pelos símbolos, uma guerra pela narrativa e pela informação.http://www.viomundo.com.br/denuncias/rodrigo-vianna-no-brasil-e-na-
venezuela-a-guerra-da-desinformacao.html
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