Os cogumelos venenosos
Por Fernando Brito
· 16/09/2017
Não costumo
dar muita atenção – e não darei a ele, pessoalmente – a este personagem Jair
Bolsonaro, que anda lá por Belo Horizonte propondo
levar mar para Minas, dar licença para matar para policiais e reduzir a
maioridade penal para 14 anos (possivelmente a idade emocional de
muitos dos seus seguidores barbados).
Sociopatas deste
tipo sempre existiram, aqui e por toda parte do mundo; não chega a ser
novidade.
O que
interessa para o raciocínio é porque esta sociopatia, que normalmente permanece
enquistada em grupelhos relativamente inofensivos, espalhou-se por cada canto
deste país.
Os
processos são muitos.
Brotou
por toda parte, em situações onde a mídia e histeria os alimentaram.
Por
exemplo: uns bandidecos traficantes do Flamengo acorrentam um rapaz negro
num poste e arranjam uma moça bem-posta ma TV para “explicar” seu crime com o
suposto crime alheio: “leva ele pra casa”, não é?
Perde-se
o pudor de dar ao “justiceiro” o apoio social que, com bons
– ou nem tão bons – modos começam a promover o “fim da roubalheira”.
Mas isso
se sofistica.
De um
lado, uma legião de energúmenos, com caras que dariam razão a Lombroso, tamanha
a idiotia que expressam. Como são úteis ao projeto golpista, que depois da
derrota de 2014 passou a ser a porta de reconquista do poder absoluto para os
sistemas de dominação excludente que marcam a história do Brasil.
E tome de
aparecerem figuras esdrúxulas, alçadas à TV, às revistas, ao jornais, que
ninguém sabe de onde vieram, com o que ganham a vida (comércio de canecas?) e
comanda(vam) séquitos de babacas na internet, que afinal os trocaram por aquele
com cujas asneiras iniciei o post.
De outro,
autoridades de ternos e expressões bem alinhavadas, com teses jurídicas
que “amarram no poste” da execração pública os personagens selecionados
na política e no empresariado.
Como não
há muitos santos em nenhum dos dois campos, a confissões arrancadas alguma
coisa acabam por mostrar e deu-lhes munição para avançarem, sob o
estrondoso fogo de artilharia da mídia. Na sua infantaria, as
“subcelebridades”, todas com os “projetos sociais” e louvor ao “sucesso
pessoal” das suas vidas cheias de brilho e vazio, onde sacodem iates,
chamapgnes e rolex, como os chefões da traficância chacoalham seus
cordões de ouro.
Não
importa, ainda há o lugar de santo a ocuparem em seus altares.
Entram aí
os subjuristas do interior, quase todos praticantes verbais da boa fé
religiosa, alçados à fama nacional, exibem em escala continental a empáfia, a
“importância” e a onipotência própria das pequenas comarcas, onde os
salões do coronelato lhes tão sempre abertos para que desfilem, contidamente, a
sua vaidade, braços dados com suas “senhoras”.
A crise,
o desespero, a angústia de uma população sofrida, que não entende como se foram
os dias de bom tempo e caiu uma chuva quente e abafada, a sufocar-lhes,
produzindo esta brotação de cogumelos, faz com que parte dela, justo pela
desesperança, não perceba como, embora vistosos, são venenosos, tóxicos,
mortais para a vida e para as liberdades.
Mesmo
diante deste quatro dantesco, que a cada dia vem ganhando pinceladas de horror
– fecham-se exposições, recolhem-se quadros, santificam-se surras de fio
elétrico e tosa à força de cabelos de meninas que perderam a virgindade –
há esperanças.
Porque a
esta gente, à qual não falta pretensão e poder para dizer quem serve e quem não
serve, o que podemos ver, ouvir e escrever, falta algo essencial para que sobreviva:
um país e um povo, porque este não lhes pertence, ainda que o dominem, porque
não o tem dentro de si.
Cogumelos
que são, não tem raízes profundas. Apenas pequenos liames, os micélios, que os
ligam à matéria orgânica em decomposição. Bastam alguns dias de sol para que
murchem, deixando apenas seus esporos, para que brotem quando algo em
podridão lhes servir de alimento.
http://www.tijolaco.com.br/blog/os-cogumelos/
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