17 outubro, 2009

O Que é o Centrismo?
Leão Trotsky
28 de Maio de 1930

Primeira Edição: Publicado em La Verité, em 27 de junho de 1930, França.


Em Le Cri du Peuple (O grito do povo), publicado pelo bloco de monattistas [1N] e a camarilha "municipal" do POP, Chambelland [2N] dirige uma carta aberta aos dirigentes "centristas" da Federação de Professores. Não me ocuparei da carta em si, totalmente desprovida de idéias revolucionárias. Há um só ponto de interesse. Chambelland chama os comunistas de "centristas". Sua idéia – porque creio, de todo modo, que aqui se expressa uma idéia – é provavelmente a seguinte: num extremo do espectro político está os que apóiam a autonomia sindical, ou seja, os amigos de Monatte junto com o POP; no outro estão os que apóiam a subordinação dos sindicatos ao partido, ou seja, a direção oficial da CGTU [3N]. E num ponto intermediário estão os comunistas da Oposição, que lutam timidamente pela "autonomia" mas não querem se arriscar a romper com o comunismo.

Estes, pois, são centristas, porque se localizam no centro. Agora que a Oposição de Esquerda acaba de sair de uma guerra contra o centrismo, Chambelland anuncia uma contradição interna que, à primeira vista, parece lhe outorgar a vitória sem ao menos lutar.

Para um naturalista, não há nada insignificante no mundo da natureza. Para um marxista, os conceitos políticos não se definem por suas características formais mas sim por seu conteúdo de classes, enfocado desde um ponto de vista ideológico e metodológico. As três tendências do movimento operário contemporâneo – reformismo, comunismo e centrismo – derivam inexoravelmente da situação objetiva do proletariado sob o regime imperialista da burguesia.

O reformismo é a corrente surgida dos extratos superiores e privilegiados do proletariado, que reflete os interesses desses extratos. Especialmente em alguns países, aristocracia e a burocracia operárias conformam uma camada muito importante e poderosa com uma mentalidade que na maioria dos casos é pequeno-burguesa, em virtude de suas condições de existência e formas de pensar; porém, devem se adaptar ao proletariado, sobre cujas costas se elevam. Os mais elevados destes elementos chegam ao poder e bem-estar supremos, pelos canais parlamentares burguês.

Um Thomas, um Macdonald [4N], um Hermann Müeller [5N] ou um Paul Bouncour [1*] encarnam o grande burguês conservador que mantém em parte uma mentalidade pequeno-burguesa e, mais freqüentemente, a atitude hipócrita do pequeno burguês diante da base operária. Em outras palavras, temos, num tipo social único, o produto dos sedimentos de três classes diferentes. A relação entre as mesmas é a seguinte: o grande burguês dá ordens ao pequeno burguês e este fustiga os operários. O fato de saber se o grande burguês permite a Thomas que vá visitá-lo – entrando pela porta de serviço – em sua casa, seu banco ou seu ministério, ou se, ao contrário, lhe dá participação em sua riqueza e em suas idéias é um fator que, ainda que secundário, não carece de importância. A etapa imperialista da evolução, que agrava constantemente as contradições, freqüentemente obriga a burguesia a transformar os principais grupos reformistas em verdadeiros ativistas de seus monopólios e manobras governamentais. Esta é a característica do novo – e muito maior – grau de dependência dos reformistas diante da burguesia imperialista e lhe dá um signo muito mais particular a sua psicologia e a sua política, tornando-os aptos para tomar diretamente o timão dos assuntos do estado burguês.

A esta camada superior de "reformistas" é a quem menos se aplica a frase "não têm nada a perder senão suas cadeias". Ao contrário: para todos estes primeiros-ministros, ministros, prefeitos, deputados e líderes sindicais, a revolução significaria a expropriação de suas posições privilegiadas. Estes guardiões do capital não protegem unicamente a propriedade em geral, mas principalmente sua propriedade. São os inimigos encarniçados da revolução de liberação do proletariado.

Contra o reformismo, uma política revolucionária e proletária (comunista marxista) traz em si, para nós, um sistema de luta ideológica e metodológica que aponta primeiro para a derrubada revolucionária do estado burguês com o método de unir o proletariado sob o signo da ditadura e reorganizar depois a sociedade de maneira socialista.

Somente minoria mais avançada – o setor mais consciente e audaz da classe operária – pode tomar a iniciativa do cumprimento desta tarefa, minoria que – baseando-se num programa claramente definido e cientificamente elaborado, possuidora de uma grande experiência de luta operária – concentra em torno de si uma maioria sempre crescente do proletariado com a perspectiva de fazer a revolução socialista. Enquanto durar o capitalismo, que impõe idéias perniciosas ao proletariado, não se pode esperar que desapareçam as diferenças entre o partido – produto da seleção ideológica – e a classe – produto automático do processo de produção. Apenas depois da vitória do proletariado – caracterizada por um autêntico renascimento econômico e cultural das massas, isto é, pelo processo de liquidação das classes – o partido poderá dissolver-se pouco a pouco nas massas trabalhadoras até que, tal qual o estado, desaparecerá. Somente os charlatões ou os chefetes de seitas estéreis podem falar de revolução proletária e, por sua vez, negar o papel da vanguarda comunista.

Assim, as duas correntes fundamentais da classe operária mundial são o social-imperialismo, por um lado, e o comunismo revolucionário, por outro. Entre estes dois pólos há uma série de correntes e agrupações de transição que mudam constantemente de roupa e se encontram sempre em estado de transformação e oscilação: às vezes oscilam do reformismo ao comunismo, outras do comunismo ao reformismo. Estas correntes centristas não têm, e sua natureza não lhes permite ter, uma base social bem definida. Enquanto o comunismo é o porta-voz da classe operária e o reformismo representa os interesses da cúpula privilegiada da mesma, o centrismo reflete o processo transicional no interior do proletariado, as distintas ondas dentro de suas distintas camadas e as dificuldades que estorvam o avanço a posições revolucionárias definitivas.

Justamente por isso as organizações centristas de massas jamais são estáveis nem viáveis.

É certo que sempre haverá na classe operária uma camada de centristas crônicos, que não querem seguir com o reformismo até as últimas conseqüências mas que são organicamente incapazes de se converter em revolucionários. Um exemplo deste tipo de operário centrista, honesto, foi, na França, o velho Bourderon [2*]. Outro exemplo mais brilhante e notável foi – desta vez na Alemanha – o velho Ledebour [3*]. Por sua parte, as massas jamais permanecem muito tempo nesta etapa transicional: unem-se conjunturalmente aos centristas e logo avançam para unir-se aos comunistas ou voltam aos reformistas, a não ser que caiam, por um tempo, na indiferença.

Foi assim como a ala esquerda do Partido Socialista francês se converteu num partido comunista, abandonando seus dirigentes centristas no caminho. O Partido Social-democrata Independente da Alemanha, de outra parte, desapareceu e seus militantes foram todos para o comunismo ou a social-democracia.

Da mesma maneira, a Internacional "Dois e Meio" desapareceu da face da terra [4*].

Pode-se observar o mesmo fenômeno no terreno do sindicalismo: a "independência" centrista dos sindicatos britânicos que se filiaram a Amsterdam [6N] se transformou no amsterdamismo mais "amarelo" (pelego) com a política traidora do momento da greve geral.

Porém, o desaparecimento das organizações que citamos, a modo de exemplo, não significa, de modo algum, que o centrismo tenha dito sua última palavra, como afirma a burocracia comunista, cuja própria ideologia é muito afim à do centrismo. Certas organizações ou correntes de massas bem definidas ficaram reduzidas a nada, no imediato pós-guerra, quando a mobilização operária européia caiu em refluxo. O agravamento atual da crise mundial e a inquestionável radicalização das massas provocarão inexoravelmente o surgimento de novas tendências centristas no interior da social-democracia, dos sindicatos e das massas não organizadas.

Não é de descartar que as novas correntes centristas façam ressurgir alguns velhos dirigentes centristas. Porém, novamente, não será por muito tempo. Os políticos centristas do movimento operário se parecem muito à galinha que choca ovos de pato e depois se lamenta amargamente às margens do lago: que desavergonhados são estes meninos que abandonam sua galinha "autônoma" para nadar nas águas do reformismo ou do comunismo! Se Chambelland quer sofrer da moléstia, será fácil encontrar em seu redor várias galinhas respeitáveis agrupadas neste momento a chocar ovos reformistas.

No passado, a burocracia operária, sempre e em todas as partes, cobria-se com o princípio da "autonomia", "independência" etc., para assegurar sua própria independência em relação aos operários; como poderia o operário controlar a burocracia se esta tomasse como consigna algum princípio? Como é sabido, durante muito tempo os sindicatos alemães e britânicos proclamaram sua independência de todos os partidos; os sindicatos norte-americanos continuam se orgulhando disso. Porém, como demonstramos anteriormente, a evolução do reformismo, que lhe tem atado definitivamente ao imperialismo, impede os reformistas de empregar o rótulo da "autonomia" com tanta facilidade como antes. Os centristas, que se agarram mais que nunca a esse rótulo, provavelmente aproveitam esta circunstância. Acaso sua característica não é a de conservar zelosamente a "autonomia" de suas vacilações e sua hipocrisia frente ao reformismo e ao comunismo? [5*]

Assim é como a idéia da autonomia, que na história dos movimentos operários do mundo tem sido principalmente atributo do reformismo, hoje é a marca do centrismo.

Porém, de que tipo de centrismo?

Já demonstramos que o centrismo sempre muda de posição: oscila à esquerda e ao comunismo, ou à direita e ao reformismo.

Se Chambelland olhasse a história de seu grupo – mesmo que não seja além do começo da guerra imperialista –, lhe seria fácil descobrir a confirmação do que estou dizendo. Na atualidade, os sindicatos "autônomos" trasladam da esquerda à direita, do comunismo ao reformismo, inclusive rechaçando o nome de comunistas. Isso lhes assemelha com o POP, que segue a mesma evolução, todavia de maneira mais desorganizada.

Quando se oscila à esquerda e afasta as massas do reformismo, o centrismo cumpre uma função progressiva; não falta dizer que isso não nos impedirá, chegado o caso, de continuar denunciando a hipocrisia do centrismo, já que a galinha progressiva acabará abandonada, cedo ou tarde, nas margens do lago. Quando, por outra parte, o centrismo trata de distanciar os operários dos objetivos comunistas para facilitar – sob a máscara da autonomia – sua evolução ao reformismo, cumpre uma tarefa que já não é progressiva e sim reacionária. Esse é, na atualidade, o papel que desempenha o Comitê pela Independência Sindical.

"Mas, essas são quase as mesmas palavras empregadas pelos estalinistas", repetirá Chambelland; já o escreveu. Seria inútil perguntar quem desenvolve uma luta mais séria e implacável contra a política mentirosa dos estalinistas: o grupo de Chambelland ou a Oposição Internacional de Esquerda comunista. Todavia, um fato é certo: a orientação de nossa luta é diametralmente oposta à da "luta" dos "autonomistas", porque nós seguimos a trilha marxista, enquanto que Chambelland e seus amigos seguem a trilha reformista. Com certeza não o fazem conscientemente: jamais! Porém, por regra geral, o centrismo nunca segue uma política consciente. Acaso uma galinha consciente se sentaria para chocar ovos de pato? Claro que não.

Em tal caso – poder-se-ia perguntar –, como se pode acusar de centrismo a dois antípodas como Chambelland e Monmousseau? [7N] Entretanto, isso somente pode parecer paradoxo a quem não compreende a natureza paradoxal do centrismo: nunca é igual a si mesmo e nem se reconhece no espelho, ainda que bata o nariz contra o mesmo.

Há muitos anos os centristas do comunismo oficial vêm oscilando violentamente da direita à esquerda, enquanto Monatte e seus amigos o fazem da esquerda à direita. Os dirigentes da Internacional Comunista e da Internacional Sindical Vermelha têm atuado cegamente para conter a onda que eles mesmos iniciaram. Atingidos pelos seus saltos aventureiros, os centristas da linhagem de Chambelland se preparam para fazer fortes barreiras à onda que se está formando no horizonte. Nesse período de transição, entre duas marés, o primeiro que se precipita na praia é o centrismo, do qual nascem os mais diversos movimentos que partem em direções distintas. Não é menos certo que Chamberlland ou, para aproximarmo-nos mais da realidade, Monatte e Monmousseau, são duas faces de uma mesma moeda.

Aqui, acredito ser necessário recordar como os atuais dirigentes da CGTU e do Partido Comunista concebiam o problema sindical, há apenas seis anos quando já estavam à frente do partido oficial e haviam iniciado – digamos, de passagem – sua luta contra o "trotskismo". No mês de janeiro de 1924, depois da lamentável e sangrenta reunião na Maison dês Syndicats (Casa Sindical), os dirigentes da CGTU, pressionados para dissociar-se de toda responsabilidade pela ação do partido e além do próprio partido, redigiram a solene Declaração da CGTU, que dizia:

"Como a preocupação que sentem pela autonomia orgânica e administrativa dos partidos e seitas é tão grande como a que sentem pela autonomia da Confederação (CGTU), os organismos responsáveis da CGTU não tiveram necessidade de discutir sobre a assembléia que a Confederação do Sena e a Juventude do Partido Comunista organizaram sob sua própria responsabilidade. Seja qual for o caráter dos encontros organizados ou atividades realizadas pelos partidos, seitas e grupos, o Comitê Executivo e o Birô da Confederação, hoje como ontem, não têm a menor intenção de abdicar de seu poder diante de quem ou o que seja. Saberão manter o controle e o domínio da atividade da Confederação diante de todos os ataques exteriores [...] A CGTU não tem o direito nem o poder de censurar a nenhum grupo de fora, seus programas e seus objetivos; não pode aplicar restrições a nenhum deles sem violar sua indispensável neutralidade e demonstrar favoritismo para com algum dos partidos em luta. Monmousseau, Semard, Racamond, Dudilieux, Berrar."

Este é o documento – realmente incomparável – que perdurará eternamente como monumento à clareza comunista e à coragem revolucionária! E, ao pé deste documento, lemos as assinaturas de Monmousseau, Semard, Racamond, Dudilieux e Berrar.

Creio que a Oposição de Esquerda francesa não apenas deveria publicar o texto completo desta "declaração", mas também lhe dar a publicidade que merece. Porque não se sabe quais surpresas nos reserva o futuro!

Durante os anos que nos separam da assinatura da "declaração", na qual Monmousseau, Semard e Cia. anunciaram sua absoluta neutralidade diante do Partido Comunista e todas as demais seitas, estes dirigentes comunistas conseguiram não poucas façanhas de heroísmo oportunista. Por exemplo, aplicaram com muita sensatez a política do Comitê Anglo-Russo, baseada totalmente na ficção da autonomia: o partido de Macdonald e Thomas é uma coisa – ensinava Stalin –, mas os sindicatos de Thomas e Purcell [8N] são outra muito distinta. Depois que Thomas, com a ajuda de Purcell, transformou os centristas comunistas em asnos, estes começaram a ter medo de si mesmos.

Ontem Monmousseau exigia que os sindicatos fossem independentes, tanto das seitas como dos partidos. Hoje quer que os sindicatos sejam uma mera sombra do partido, transformando-os, assim, em seitas! Quem é o Monmousseau atual, o Monmousseau número dois? É o Monmousseau número um, o que por medo a si mesmo virou-se de dentro para fora como se vira uma luva. Quem é Chambelland? É um ex-comunista que, aterrorizado pelo Monmousseau número dois, se lançou aos braços do Monmousseau número um.

Não salta à vista que estamos diante de duas variedades da mesma espécie, ou duas etapas da mesma confusão? Monmousseau trata de assustar os operários com o fantasma de Chambelland; Chambelland trata de assustar os operários com o Monmousseau. Todavia, na realidade, cada um não faz mais que contemplar-se no espelho com o punho estendido.

Esse é o centro do assunto, se olhamos mais próximo que Le Cri du Peuple... – onde há mais grito que povo.

O comunismo é a vanguarda da classe operária, unificada pelo programa da revolução socialista. Não existe esta organização na França. Apenas existem alguns elementos e certa quantidade de escombros. Quem se atrever a afirmar que os operários não necessitam dessa organização, que a classe operária é auto-suficiente, que é madura o bastante para prescindir da direção de sua vanguarda é um miserável adulador, um cortesão do proletariado, um demagogo, jamais um revolucionário. Embelezar a realidade é um ato criminoso. Tem que dizer a verdade aos operários, e eles devem se acostumar a amar a verdade.

Chambelland se engana terrivelmente se acredita que os comunistas estão no "centro", entre Monmousseau e... Chambelland. Não, os comunistas estão acima de ambos. A posição do marxismo está muito acima de todas as variantes do centrismo e de seus erros. Existe somente uma corrente na classe operária capaz de transformar os sindicatos em organismos das massas e dotá-los de uma autêntica direção revolucionária, e é a que estuda cada problema de todos os ângulos, cujo sangue e medula estão imbuídos da compreensão marxista da relação entre a classe e sua vanguarda revolucionária. Nesta questão fundamental não cabe a menor concessão ou silêncio.

Aqui, mais que em qualquer outro terreno, necessita-se de clareza.

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Notas:

[1N] Monattistas: partidários de Pierre Monatte, sindicalista revolucionário que, em 1909, fundou Vie Ouvrière. Foi um dos primeiros a opor-se à Primeira Guerra Mundial. Em 1923, uniu-se ao Partido Comunista Francês, deixando-o um ano mais tarde, em 1924, tendo, neste mesmo ano, fundado o jornal Révolution Prolétarienne. Em 1926 fundou a Liga Sindicalista. (retornar ao texto)

[2N] Chambelland, Maurice (1901-1966) Em 1922 participou da redação do Vie Ouvrière, em 1923 ingressou no Partido Comunista. Foi membro da redação do L'Humanité. Renunciou ao partido em 1924. Pertenceu ao grupo Révolution Prolétarienne, tendo sido o ajudante mais próximo de Monatte. (retornar ao texto)

[3N] CGTU - Confédération Générale du Travail Unitare: nome adotado pela confederação sindical de esquerda francesa. (retornar ao texto)

[4N] MacDonald, James Ramsay (1866-1937) Socialista pacifista durante a Primeira Guerra Mundial. Primeiro-ministro da Grã-bretanha (1924). (retornar ao texto)

[5N] Müller, Hermann  (18 de maio de 1876 – 20 de março de 1931): social democrata alemão; Ministro de Relações Exteriores no período 1919-1920; tendo sido duas vezes Chanceler (em 1920 e em 1928-1930) na República de Weimar. (retornar ao texto)

[1*] Boncour, Joseph Paul  (1873-1972): socialista de direita até 1931, foi ministro nos governos de Sarraut e Blum, na década de 30, e retornou ao OS no fim da Segunda Guerra Mundial. (retornar ao texto)

[2*] Bourderon, Albert  (1859-1930): socialista francês, membro do PS, que se opôs à Primeira Guerra Mundial e participou da Conferência de Zimmerwald. (retornar ao texto)

[3*] Ledebour, Georg  (1850-1937): social-democrata alemão que se opôs à Primeira Guerra Mundial e foi um dos fundadores do USPD - Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD): fundado em 1917 pelos elementos centristas que romperam com a social-democracia. A maioria de seus membros se filiou ao PC em 1920. A minoria continuou existindo como grupo independente filiado à Internacional Dois e Meio até 1922, quanto todos, salvo o pequeno grupo de Ledebour, voltaram à social-democracia. Esteve contra que o USPD se filiasse à Terceira Internacional e que voltasse à social-democracia e fundou seu próprio grupo, um novo USPD. Ingressou no grupo centrista SAP, em 1931, e esteve contra sua adesão à Oposição de Esquerda. (retornar ao texto)

[4*] Internacional Dois e Meio (Associação Internacional de Partidos Socialistas): fundada em fevereiro de 1921 por partidos e grupos centristas que haviam rompido com a Segunda Internacional sob a pressão das massas revolucionárias. Se bem que seus dirigentes criticassem a Segunda Internacional, sua política não era essencialmente distinta, e em 1923 se reunificaram. (retornar ao texto)

[6N] Amsterdam - Federação Operária Internacional reformista ("amarela")

[5*]No movimento sindicalista francês de 1906-1914 se chamava "independência" à ruptura com o oportunismo parlamentar. Por esta razão – por sua própria natureza – o sindicalismo revolucionário francês criou um partido, mas este não se desenvolveu plenamente e, portanto, antes de que começasse a guerra já havia entrado em decadência. [Nota de Leon Trotsky.]

[7N] Monmousseau,  Gaston (1883-1960), antigo sindicalista revolucionário, transformou-se em comunista e dirigente da CGTU e num stalinista ferrenho.

[8N] Purcell, Albert A. (1872-1935): dirigente do Conselho Geral do Congresso Sindical Britânico e do Comitê Sindical Anglo-Russo na época da traição à greve geral britânica de 1926. http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/05/28.htm
Por que os Marxistas se Opõem ao Terrorismo Individual (Leon Trotsky -Novembro de 1911)

Primeira Edição: Novembro 1911 no Der Kampf, mensário teórico da Social Democracia Austríaca.


Nossos inimigos de classe têm o costume de queixar-se de nosso terrorismo. Eles gostariam de por o rótulo de terrorismo a todas as ações do proletariado dirigidas contra os interesses do inimigo de classe. Para eles, o método principal de terrorismo é a greve. A ameaça de uma greve, a organização de piquetes de greve, o boicote econômico a um patrão super explorador, o boicote moral a um traidor de nossas próprias filas: tudo isso e muito mais é qualificado de terrorismo. Se por terrorismo se entende qualquer coisa que atemorize o prejudique o inimigo, então a luta de classes não é outra coisa senão terrorismo. E o único que resta considerar é se os políticos burgueses têm o direito de proclamar sua indignação moral acerca do terrorismo proletário, quando todo seu aparato estatal, com suas leis, polícia e exército não é senão um instrumento do terror capitalista.

No entanto, devemos assinalar que quando nos jogam na cara o terrorismo, tratam, ainda que nem sempre de forma consciente, de dar-lhe a esta palavra uma sentido mais estrito, menos indireto. Por exemplo, a destruição das máquinas por parte dos trabalhadores é terrorismo neste sentido estrito do termo. A morte de um patrão, a ameaça de incendiar uma fábrica ou matar o seu dono, o atentado a mão armada contra um ministro: todos estes são atos terroristas no sentido estrito do termo. Não obstante, qualquer um que conheça a verdadeira natureza da social-democracia internacional deve saber que ela tem se colocado em oposição da maneira mais irreconciliável a esta classe de terrorismo.

Por que? O "terror" mediante a ameaça ou a ação grevista é patrimônio dos operários industriais ou agrícolas. O significado social de uma greve depende, em primeiro lugar, do tamanho da empresa ou ramo da indústria afetada; em segundo lugar, do grau de organização, disciplina e disposição para a ação dos operários que participam. Isto é certo tanto em uma greve econômica ou política. Segue sendo o método de luta que surge diretamente do lugar que na sociedade moderna ocupa o proletariado no processo de produção.

Para desenvolver-se, o sistema capitalista requer uma superestrutura parlamentar. Porém ao não poder confinar o proletariado em um gueto político, deve permitir cedo ou tarde, sua participação no parlamento. Nas eleições se expressa o caráter de massa do proletariado e seu nível de desenvolvimento político, qualidades determinadas por seu papel social, sobretudo por seu papel na produção.

Do mesmo modo que numa greve, nas eleições o método, objetivos e resultado da luta dependem do papel social e da força do proletariado como classe. Somente os operários podem fazer greve. Os artesãos arruinados pela fábrica, os camponeses cuja água envenena a fábrica, os lumpen-proletários em busca de um bom botim, podem destruir as máquinas, incendiar a fábrica ou assassinar o dono.

Somente a classe operária consciente e organizada pode enviar uma forte representação ao parlamento para cuidar dos interesses proletários. No entanto, para assassinar a um funcionário do governo não é necessário contar com as massas organizadas. A receita para fabricar explosivos é acessível a todo o mundo, e qualquer um pode conseguir uma pistola.

No primeiro caso, há uma luta social, cujos métodos e vias se desprendem da natureza da ordem social imperante; no segundo, uma reação puramente mecânica que é idêntica em todo o mundo, desde a China até a França: assassinatos, explosões, etc., porém totalmente inócua em relação ao sistema social.

Uma greve, inclusive uma modesta, tem conseqüências sociais: fortalecimento da auto-confiança dos operários, crescimento do sindicato, e, com não pouca freqüência, uma melhora na tecnologia produtiva. O assassinato do dono da fábrica provoca apenas efeitos policiais, ou uma troca de proprietário desprovida de toda significação social.

Para que um atentado terrorista, mesmo um que obtenha "êxito", crie confusão na classe dominante, depende da situação política concreta. Seja como for, a confusão terá vida curta; o estado capitalista não se baseia em ministros de estado e não é eliminado com o desaparecimento deles. As classes a que servem sempre encontrarão pessoas para substituí-los; o mecanismo permanece intacto e em funcionamento.

Todavia, a desordem que produz um atentado terrorista nas filas da classe operária é muito mais profunda. Se para alcançar os objetivos basta armar-se com uma pistola, para que serve esforçar-se na luta de classes? Se um pouco de pólvora e um pedaço de chumbo bastam para perfurar a cabeça de um inimigo, que necessidade há de organizar a classe? Se tem sentido aterrorizar os altos funcionários com o ruído das explosões, que necessidade há de um partido? Para que fazer passeatas, agitação de massas, eleições, se é tão fácil alvejar um ministro desde a galeria do parlamento?

Para nós o terror individual é inadmissível precisamente porque apequena o papel das massas em sua própria consciência, as faz aceitar sua impotência e volta seus olhos e esperanças para o grande vingador e libertador que algum dia virá cumprir sua missão.

Os profetas anarquistas da "propaganda pelos fatos" podem falar até pelos cotovelos sobre a influência estimulante que exercem os atos terroristas sobre as massas. As considerações teóricas e a experiência política demonstram o contrário. Quanto mais "efetivos" forem os atos terroristas, quanto maior for seu impacto, quanto mais se concentra a atenção das massas sobre eles, mais se reduz o interesse das massas por eles , mais se reduz o interesse das massas em organizar-se e educar-se.

Porém a fumaça da explosão se dissipa, o pânico desaparece, um sucessor ocupa o lugar do ministro assassinado, a vida volta à sua velha rotina, a roda da exploração capitalista gira como antes: só a repressão policial se torna mais selvagem e aberta. O resultado é que o lugar das esperanças renovadas e da excitação artificialmente provocada vem a ser ocupado pela desilusão e a apatia.

Os esforços da reação para por fim às greves e ao movimento operário de massas tem culminado, geralmente, sempre e em todas as partes, no fracasso. A sociedade capitalista necessita um proletariado ativo, móvel e inteligente; não pode, portanto, ter o proletariado com os pés e mão atados por muito tempo. Por outro lado, a "propaganda pelos fatos" dos anarquistas tem demonstrado cada vez mais que o estado é muito mais rico em meios de destruição física e repressão mecânica que todos os grupos terroristas juntos.

Se assim é, o que acontece com a revolução? Fica negada ou impossibilitada? De maneira nenhuma. A revolução não é uma simples soma de meios mecânicos. A revolução somente pode surgir da intensificação da luta de classes, sua vitória e garantida somente pela função social do proletariado. A greve política de massas, a insurreição armada, a conquista do poder estatal; tudo está determinado pelo grau de desenvolvimento da produção, a alienação das forças de classe, o peso social do proletariado e, por último, pela composição social do exército, posto que são as forças armadas o fator que decide o problema do poder no momento da revolução.

A social-democracia é bastante realista para não desconhecer a revolução que está surgindo das circunstâncias históricas atuais; pelo contrário, vai ao encontro da revolução com os olhos bem abertos. Porém, diferentemente dos anarquistas e em luta aberta com eles, a social-democracia rechaça todos os métodos e meios cujo objetivo seja forçar o desenvolvimento da sociedade artificialmente e substituir a insuficiente força revolucionária do proletariado com preparações químicas.

Antes de elevar-se à categoria de método para a luta política, o terrorismo faz sua aparição sob a forma de ato individual de vingança. Assim foi na Rússia, pátria do terrorismo. O açoitamento dos presos políticos levaram Vera Zasulich a expressar o sentimento de indignação geral com um atentado contra o general Trepov. Seu exemplo repercutiu entre a intelectualidade revolucionária, desprovidas do apoio das massas. O que começou como um ato de vingança perpetrado em forma inconsciente foi elevado a todo um sistema em 1879-1881. As ondas de atentados anarquistas na Europa Ocidental e América do Norte sempre se produzem depois de alguma atrocidade cometida pelo governo: fuzilamentos de grevistas ou execuções de opositores políticos. A fonte psicológica mais importante do terrorismo é sempre o sentimento de vingança que busca uma válvula de escape.

Não há necessidade de insistir que a social-democracia nada tem a ver com esses moralistas a soldo, que, em resposta a qualquer ato terrorista, falam somente do "valor absoluto" da vida humana. São os mesmos que em outras ocasiões, em nome de outros valores absolutos, por exemplo, a honra nacional ou o prestígio do monarca estão dispostos a levar milhões de pessoas ao inferno da guerra. Hoje, seu herói nacional é o ministro que dá a ordem de abrir fogo contra os operários desarmados, em nome do sagrado direito à propriedade privada; amanhã, quando a mão desesperada do operário desempregado cerre o punho ou se apodere de uma arma, falarão sandices sobre o inadmissível que é a violência em qualquer de suas formas.

Digam o que digam os eunucos e fariseus morais, o sentimento de vingança tem seus direitos. Fala muito bem a favor da moral da classe operária a não contemplação indiferente do que ocorre neste, o melhor dos mundos possíveis. Não extinguir o insatisfeito desejo proletário de vingança, mas, pelo contrário, avivá-lo uma e outra vez, aprofundá-lo, dirigi-lo contra a verdadeira causa da injustiça e a baixeza humanas: essa é a tarefa da social-democracia.

Nos opomos aos atentados terroristas porque a vingança individual não nos satisfaz. A conta que nos deve pagar o sistema capitalista é demasiado elevada para ser apresentada a um funcionário chamado ministro. Aprender a considerar os crimes contra a humanidade, todas as humilhações a que se vêem submetidos o corpo e o espírito humanos como excrescências e expressões do sistema social imperante, para empenhar todas nossas energias em uma luta coletiva contra este sistema: essa é a causa na qual o ardente desejo de vingança pode encontrar sua maior satisfação moral

Fonte: http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1911/11/terrorismo.htm