15 outubro, 2015

Supremacista revela fragilidades da ideologia


Ex-supremacista branco relata transformação pela 'bondade de quem odiava'"Bondade de quem eu odiava mudou minha vida". Ex-supremacista tocava canções racistas e tinha prazer em agredir pessoas desconhecidas que não fossem brancas. Arno Michaelis chegou a machucar muita gente gravemente. Hoje, ele lidera uma organização que trabalha para melhorar a relação entre as raças. Confira a seguir o seu relato (arno skinhead supremacista branco)


Como integrante da banda de “hate-metal” Centurion na década de 1980, o skinhead americano Arno Michaelis subia aos palcos para cantar canções racistas. Fora dos palcos, durante sua juventude em Milwaukee, Wisconsin, nos Estados Unidos, Arno feriu gravemente várias pessoas inocentes.
No entanto, sua vida começou a mudar e, em 2012, um massacre em um templo da religião sikh em Wisconsin fez com que ele abandonasse seu passado de ódio.
Hoje, aos 44 anos, Arno Michaelis lidera a ONG Serve 2 Unite, que trabalha para melhorar as relações entre as raças – atuando, inclusive, no Brasil.
Em depoimento ao programa Outlook, da BBC, ele compartilhou sua história.
“Meus pais brigavam muito porque havia problemas de alcoolismo na família”, disse Arno. “Mas os dois me amavam muito e fizeram (por mim) tudo o que puderam. Acho que a violência emocional, combinada com um certo vício nato em adrenalina, me levaram a agredir as pessoas.”
Arno contou que sempre que podia, escapava de casa e saía em busca de emoções perigosas.
“Quando me comportava de forma antissocial e agredia as pessoas, sentia um certo frisson.”
E foi também em busca dessa adrenalina que Arno aderiu ao movimento dos supremacistas brancos.
“Uma das coisas que me davam essa sensação era provocar raiva nas pessoas. E se você procura um jeito de fazer as pessoas ficarem com raiva, experimente uma suástica.”
supremacista branco
Arno com as crianças do projeto do qual participa hoje; ‘a bondade (de pessoas diferentes) me assombrava e me lembrava de que eu estava fazendo algo errado’
“Fiz minha primeira tatuagem de suástica aos 17 anos. Eu entendia a ideologia por trás daquilo, mas o frisson daquela coisa proibida era o que mais me motivava.”
Aos poucos, explicou Arno, seu ódio se estendeu de minorias étnicas –negros, latinos, asiáticos – aos próprios brancos.
‘Traidores da raça’

“À medida que você se aprofunda na narrativa dos supremacistas brancos, começam a surgir as teorias conspiratórias. No final, eu acreditava que os judeus tinham colocado em ação um plano contra os brancos. Coloquei os judeus no topo da minha lista dos ‘não favoritos’. E mais acima nessa lista estavam os brancos que não eram violentamente racistas”, disse.
“Eram vistos como traidores da raça e estavam definitivamente no topo da lista das pessoas que eu odiava.”
Às vezes, pessoas que ele supostamente deveria odiar o tratavam com bondade. Nessas horas, disse Arno, era particularmente difícil continuar sentindo raiva delas.
“Era exaustivo ter pessoas que eu tentava odiar me tratando com bondade. Aquilo fazia buracos nas justificativas que eu criava para poder odiá-las.”
Esse foi o caso, por exemplo, de um judeu dono de uma estamparia de camisetas que deu emprego a Arno. “Apesar de eu estar portando uma suástica dentro da fábrica dele, e apesar de eu tentar recrutar todos os brancos que trabalhavam comigo, (o chefe) se recusava a me demitir e insistia que eu era um menino bom e só precisava de uma chance.”
“Saber disso, quando eu tentava promover essa narrativa antissemita era exaustivo. A bondade que ele demonstrava, a bondade de negros e latinos, isso me assombrava e me lembrava de que o que eu estava fazendo era errado.”
Arno contou que machucou gravemente muita gente.
“Atacávamos mais brancos, no final. Apesar da nossa conversa de durões, éramos covardes e não queríamos ir aos guetos, onde corríamos o risco de puxar uma briga de verdade. Então, acabávamos indo às partes mais afluentes da cidade. Mas se encontrávamos um negro ou um latino em uma área mais escondida, onde podíamos atacá-los, fazíamos isso.”
supremacista branco skinhead
O grupo supremacista do qual Arno fazia parte: ‘Quando você se aprofunda na narrativa dos supremacistas, começam a surgir as teorias conspiratórias’
“Feri muita gente com minhas próprias mãos e vou ter de viver com isso para o resto da minha vida. Ainda penso no que fiz – ou no que lembro de ter feito. Eu bebia muito na época. Não quero usar isso como desculpa, mas muitas das minhas lembranças são vagas por causa disso.”
A virada na vida de Arno Michaelis aconteceu, literalmente, porque ele se cansou de odiar.
“(Foi) exaustão. Era exaustivo me fechar para o resto do mundo, algo que é necessário para se manter uma visão de mundo baseada em uma teoria conspiratória fundamentalista. Você tem de bloquear todas as informações que não sustentam a narrativa da supremacia branca.”
Arno contou que dentro de um ano passou de skinhead a raver. Agora, passava as noites dançando house music em festas underground, cercado de gays, lésbicas, pessoas transgênero, bissexuais – pessoas de todas as etnias possíveis, ele disse.
“Todos me aceitaram de forma incondicional e sem fazer perguntas. Mas eu continuava com um comportamento muito autodestrutivo. Além do álcool, usava muitas drogas.”
Um empreendimento que não deu certo e o fim de um relacionamento levaram Arno ao fundo do poço.
“Meu passado voltou para me assombrar . Sentia que merecia todas aquelas coisas ruins. Passei um ano me sentindo suicida. Minha filha me ajudou a sair daquilo. Se não fosse por ela, acho que teria me matado.”
Pacifista

Em 2012, um homem cometeu um massacre em um templo sikh em Wisconsin. Seis pessoas foram mortas. Mais tarde, descobriu-se que ele era membro do grupo supremacista branco que Arno havia integrado. O caso teve um efeito profundo sobre a vida de Arno.
“Foi devastador. Passei a noite acordado, me perguntando se seria alguém que eu tinha recrutado. No dia seguinte, descobri que eu não conhecia o atirador, mas ele tinha a minha idade, era membro da gangue de skinheads que eu tinha ajudado a fundar e também era cantor de uma banda de White Power, como eu tinha sido”, disse Arno.
supremacista branco skinhead arno
Na ONG, Michaelis realiza ações contra o preconceito e a violência racial
“Então, de várias formas, esse era o homem que eu tinha sido. Ele tinha se colocado em uma situação de tanta infelicidade que só o homicídio seguido de suicídio pareciam fazer sentido para ele.”
Naquele mesmo ano, Pardeep Kaleka, que perdeu o pai, Satwant Kaleka, no massacre, entrou em contato com Arno. “Conversamos por quatro horas sem parar e, desde então, somos irmãos”, disse.
Hoje, o pacifista Arno Michaelis trabalha com várias ONGs, entre elas a Serve 2 Unite, fazendo palestras e mediando uma revista online.
Quando perguntado se existe alguma coisa que poderia ter evitado que ele seguisse pelo caminho que seguiu, ele respondeu:
“Bondade foi o que mudou o rumo da minha vida.”
“Ninguém teria sido capaz de se livrar do nazista que existia em mim na base da pancada. Eu apanhava com a mesma frequência com que batia nas pessoas. Foram as pessoas que me trataram com bondade, e que tiveram a coragem verdadeira de não devolver minha agressão, que ajudaram a mudar o rumo da minha vida.”
BBC Outlookhttp://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/10/ex-supremacista-branco-relata-transformacao-pela-bondade-de-quem-odiava.html

13 julho, 2015

Pregacao do Odio

Dilma reagiu tarde aos golpistas

Por Antonio Barbosa Filho

O Blog do Miro publicou excelente texto do blogueiro Bepe Damasco, do qual ousarei discordar, ou melhor, ao qual oporei alguns reparos que julgo pertinentes. Discordo de uma de suas premissas: “Bastou a presidenta Dilma enfrentar pela primeira vez os golpistas na entrevista à Folha de S. Paulo, para a atmosfera golpista ficar um pouco menos carregada”.

Penso, ao contrário, que a presidenta só resolveu apontar o dedo para os inimigos do seu governo e, pela maneira de agirem contra o processo democrático, muito depois que membros do PT, do PCdoB, intelectuais e internautas já estavam no campo de batalha. Louvo que ela tenha começado a falar a respeito, mas lamento dizer que deveria tê-lo feito muito antes. Na verdade, esta dívida com o Brasil o PT tem desde o governo Lula, igualmente condescendente com os discursos golpistas e de ódio. Os resultados que vemos hoje, com grupelhos e indivíduos querendo agredir petistas e democratas nas ruas ou ameaçando-os de morte pelas redes sociais, devem-se à inação e ao silêncio covarde dos dois governos e do PT na questão da regulação da mídia.

A inoculação do veneno do ódio é processo lento, que poderia ter sido inibido desde o início. Vejo suas origens bem lá atrás no tempo, mas poderíamos citar a gritaria histérica de um Datena e seus imitadores, relativizando a violência, criminalizando os pobres, aterrorizando a população e estimulando a violência policial. São anos e anos desta pregação do terror, que só resultou em mais e mais violência, de ambos os lados: marginais e policiais. Enriqueceram-se os que promovem este festival na TV, e os que realmente controlam o crime organizado, o tráfico, a corrupção policial, o Judiciário tendencioso.

Nas pessoas que receberam este tratamento midiático, especialmente os mais jovens, a violência incorporou-se ao mundo como algo natural, e que violentos são os “outros”, os “diferentes” (cada um escolha os seus: brancos, negros, homossexuais, ateus, petistas, etc). Sheherazade é alunas de Datena, e acha o linchamento aldo “compreensível”. De fato, é.

Defendo todo o direito do Datena dizer as besteiras que quiser, mas acho que um governo progressista deveria, ao menos, oferecer um contraponto. Nunca houve. Experiências bem sucedidas de redução da criminalidade pela prevenção, e pela inteligência policial, jamais aparecem na TV, e os governos responsáveis não têm meios de divulgá-las.

Isso é, digamos, o caldo de cultura. Aí aparecem os radicais de direita, os ministros pop-stars do tipo Joaquim Barbosa ou Sérgio Moro, pastores das teologias estelionatárias da “prosperidade”, setores da Polícia Federal, do Ministério Público e, óbvio, a mídia cartelizada e anti-nacional de sempre, para completarem o serviço: “bandido merece apanhar e morrer” + “o PT só tem bandidos, é uma ‘organização criminosa ”como repete a rádio Jovem Pan a cada 15 minutos). Logo, eliminar o PT, como ensina Olavo de Carvalho à sua seita de fanáticos, é uma necessidade social, uma limpeza igual a que Hitler qualificou a extinção dos judeus, ou a Ku-Klux-Klan, aos negros.Olavo diz que esquerdista é sub-humano – e penso em como se esmaga uma barata.

As falas da presidenta Dilma são essenciais, mas não bastam se não forem seguidas do cumprimento rigoroso das leis que defendem a sociedade e a Democracia. Ou seja; identificar, processar e denunciar publicamente os autores de atos terroristas, das calúnias nas redes ao xingamento da presidenta num hotel de Nova Iorque, dos que ameaçaram Jô Soares, Fernando Morais, Eduardo Guimarães, aos que dizem que o filho de Lula é o homem mais rico do Brasil.

A ABIN deve ter (se não tiver é muito incompetente, no que não creio) a “ficha” dos que pregam o ódio e a violência. A Polícia Federal não precisa de ordem do ministro ( que diz não querer controlá-la, abdicando da hierarquia que a lei estabelece) para prender em flagrante quem premedita ou prega em qualquer espaço um magnicídio ou o assassinato de qualquer cidadão brasileiro.

Antes da presidenta falar sobre o assunto, o ex-ministro Guido Mantega já tomara a necessária attitude de processar um elemento (mais um confessadamente da seita de Olavo de Carvalho, um olavete) pelos insultos que recebeu num restaurante. O ex-presidente Lula também interpela na Justiça um deputado que o chamou de ladrão.

Se houverem dezenas de processos como esses, ou seja, um para cada acusação ou ameaça, talvez retornemos ao curso normal do Sistema Democrático, no qual todos temos direitos, mas também limites e responsabilidades.

Bepe conclui seu texto com uma frase que eu assinaria: “Se quiserem derrotar os golpistas, governo e Dilma serão forçados a subir o tom, dando nomes aos bois e denunciando para a população os atores envolvidos na conspiração pelo rompimento da ordem constitucional do país. Não há outra saída”.

* Antonio Barbosa Filho é jornalista de Taubaté-SP e Delft-Holanda, e acaba de lançar seu quarto livro, “O Brasil na ‘era dos imbecis’- o discurso de ódio da Direita”, pelo Clube de Autores.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/07/dilma-reagiu-tarde-aos-golpistas.html

10 maio, 2015

Africa - Alem do Estereotipo

A África para além dos jornais (Carta Capital)

por Lino Bocchini — publicado 10/05/2015 08h05, última modificação 10/05/2015 08h17
O secretário-adjunto da ONU Carlos Lopes desmitifica a imagem negativa do continente

A imagem da África ante a opinião pública mundial é baseada em exageros, equívocos e preconceitos. Os principais investidores dos países mais ricos sabem disso há tempos e o Brasil, antes um parceiro privilegiado do continente, vem perdendo espaço para outros emergentes, como a Turquia. Essa é a avaliação de Carlos Lopes, secretário-adjunto da ONU, que em abril esteve no Brasil por uma semana para uma série de compromissos, entre eles a formação do Conselho África, iniciativa do Instituto Lula, congregando historiadores, diplomatas e estudiosos do continente.
Natural da Guiné-Bissau, Lopes é o responsável maior pela África nas Nações Unidas e divide a sede da organização na Etiópia com outros 2 mil funcionários. “Adis-Abeba é a Genebra da África, lá também está a sede da União Africana, com outros 2,5 mil funcionários”, explica.
CartaCapital: Naufrágios como os ocorridos recentemente no Mediterrâneo são a face trágica do fluxo de imigrantes africanos rumo à Europa. Qual a equação possível?
Carlos Lopes: Há quatro aspectos importantes. Primeiro, trata-se de uma tragédia humanitária, e os líderes europeus têm dado sinais contraditórios, não sabem muito bem o que fazer. O segundo ponto é a alteração demográfica. Há um envelhecimento muito grande da população europeia, os partidos de direita pressionam os governos e o debate da imigração acaba no campo da segurança. Mas a própria Comissão Europeia reconhece a situação catastrófica da natalidade. A Europa, na verdade, precisa dos imigrantes.
O terceiro elemento é que a imigração africana é, na verdade, pequena. Se olharmos do ponto de vista macro, cerca de 2 milhões de imigrantes seguem em direção à Europa a cada ano, e isso é muito pouco em relação a 1 bilhão de africanos. Por último, a maior parte desses imigrantes parte de duas zonas em tensão, a Somália e a Eritreia. Seguem em direção à Líbia através do deserto tunisiano. Desses quatro territórios – Líbia, Tunísia, Somália e Eritreia –, três são antigas colônias italianas, e isso não é coincidência, estamos tentando resolver um problema pós-colonial.

O guineense Carlos Lopes chefia a sede da ONU em Adis-Abeba, a ´Genebra africana´
CC: Então, o senhor acredita que a imigração, em vez de um problema, pode ser parte de uma solução de problemas econômicos europeus, como a falta de mão de obra, inclusive a qualificada?

CL: Exatamente. Há uma grande oportunidade na Europa, se for estruturada uma política de imigração voltada para as suas necessidades. A previdência e a proteção social, por exemplo, não podem ser mantidas com esse envelhecimento da população.
CC: Doenças como o ebola causam grande temor e reforçam estigmas negativos do continente e até a xenofobia?
CL: O mundo tem alguma experiência com epidemias. Recentemente, lidamos com epidemias como a Aids, o H1N1 ou a gripe aviária, e em todas essas crises houve certo exagero no impacto econômico e na forma de transmissão. Aos poucos vamos conhecendo-as melhor, e hoje ninguém, por exemplo, é estigmatizado de forma ostensiva porque tem Aids. Mas, no princípio, era, e havia esse pânico. No caso do ebola acontece um pouco isso, a doença não é muito conhecida e imagina-se uma transmissibilidade gigantesca. E essa percepção não se dá por acaso, há muita informação exagerada.
Vejamos: o centro de controle e prevenção de doenças em Atlanta, nos Estados Unidos, um dos principais do mundo, previu há alguns anos que a África teria 1 milhão de casos de ebola em 2015. Temos hoje 19 mil casos. O Banco Mundial também fez uma projeção, a do impacto econômico do ebola para o continente: 32 bilhões de dólares. A entidade reviu sua projeção agora em fevereiro para 3 bilhões de dólares. Esqueceu-se, por exemplo, que a economia dos três países atingidos (Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa) somam 6,4 bilhões de PIB, menos de 1% do total do continente. Portanto, houve aí também um exagero gigantesco. O número de pessoas que chegaram a morrer de ebola, cerca de 2 mil, não é muito diferente do balanço de outras febres hemorrágicas.
CC: O impacto do ebola não é então assim avassalador?
CL: Se em vez de termos exagerado e dramatizado tivéssemos tido uma análise um pouco mais fria, correta e racional sobre o que está se passando, os esforços feitos de uma forma dispersa teriam sido muito mais focados e teriam havido menos mortos. Comparemos, por exemplo, com a dengue. Em São Paulo há hoje mais de 20 mil casos de dengue. Obviamente não vão morrer 20 mil pessoas porque há estruturas sanitárias capazes de absorver boa parte da epidemia. Na África isso não existe em todos os países. Mas existe em alguns.
Quando o ebola chegou ao Senegal, à Nigéria e ao Mali, países com estruturas sanitárias de melhor qualidade, foi imediatamente contido. No Senegal foi só uma pessoa. No Mali, também apenas um contaminado. Na Nigéria, o país mais populoso do continente, foram 19 pessoas. Portanto é preciso dar a correta dimensão das coisas, e a dramatização excessiva não ajuda.
CC: Milícias cristãs realizaram uma limpeza étnica de muçulmanos na República Centro-Africana em janeiro. Ao mesmo tempo, o Boko Haram, o Al-Shabab e o Estado Islâmico protagonizam casos terríveis de violência jihadista. Esses problemas adicionam novos ingredientes a um mosaico de conflitos já bastante complexo?
CL: A sensação de risco aumenta e isso é péssimo para a economia. Mas o pior é para as pessoas. São 100 milhões de africanos afetadas pelos conflitos. É muita gente. Mas a África tem 1 bilhão de habitantes. Há, portanto, 900 milhões não afetados. Ou seja, 90% do continente marcha na boa direção, tem ganhos de governança e está fazendo muito melhor do que se fazia antes. Mas 100 milhões ainda é muito. Por muito tempo havia dois tipos de conflitos no continente: primeiro, aqueles gerados por grupos armados com interesses econômicos em zonas ricas em minérios. Interessava criar desordem para se beneficiar das indústrias extrativas em regiões como a dos grandes lagos – Congo, República Centro-Africana etc.
O outro tipo de conflito vem da má gestão da diversidade. Os africanos tratam mal as minorias, a solidariedade africana é um mito. Quem chega ao poder, mesmo por meio de eleições, quer governar absolutamente. Agora surgiu um terceiro elemento, a filiação de grupos locais com grandes causas mundiais, como o islamismo radical. A mescla desses ingredientes é particularmente forte no Sul do Saara. Nessa faixa, de uma ponta à outra da África, os grupos têm conexões uns com os outros, e alguns estão ligados ao Estado Islâmico, outros à Al-Qaeda... É um coquetel explosivo.
CC: Há ainda as ditaduras longevas, como a da Guiné Equatorial, falada aqui no Brasil este ano pelo patrocínio à escola de samba Beija-Flor. De forma geral, como anda a democracia no continente africano?
CL: Só em 2015, sete países já mudaram de líder de forma pacífica. Até o final do ano teremos mais 20 eleições presidenciais. E, entre esses sete países, está a Nigéria, o mais populoso do continente, que nunca tinha passado por uma mudança pacífica de liderança. Portanto há progressos claros, o número de ditadores longevos é pequeno. Não despareceram como ainda não desapareceram na Ásia, e como podem reaparecer na América Latina dependendo das mudanças em curso em alguns países... De uma maneira geral as constituições africanas impõem limites de mandato, hoje cerca de 90% delas têm esses limites.
CC: Hoje, o mundo todo está de olho no continente...
CL: Há um paradoxo. A imprensa especializada, como o Financial TimesThe Economistou o Wall Street Jornal, diz só coisas positivas, estão muito otimistas. Consultorias importantes, como McKinsey, Boston Consulting Group ou Ernst & Young têm análises extremamente positivas com relação à África. A influência sobre a opinião dos investidores é a mais favorável dos últimos 30 anos. O continente cresce cerca de 5% ao ano há mais de 15 anos, resistiu bem à crise de 2008-2009 e os investimentos privados só fazem aumentar. E neste ano serão aportados 104 bilhões de dólares, o equivalente aos investimentos a serem feitos no mesmo período na China, que tem uma população similar.
Estamos bem nessa fotografia. Mas na grande mídia e na opinião pública internacional a imagem segue muito negativa, baseada em doenças, guerra, corrupção, fome... E agora há a dramatização dos imigrantes, antes havia a pirataria na costa da Somália...
CC: Nessa má imagem, influencia o preconceito racial?
CL: Pode até ter algum preconceito racial, mas há uma questão de fundo ainda pior: o costume de considerar a África um continente para o qual não há muitas esperanças, de crescimento mais débil...
CC: E esses investimentos chegam ao “andar de baixo”, em forma de benefícios à população?
CL: Não chega nem perto do que deve. É um crescimento sem qualidade porque não é includente, não é estruturante. A economia africana está extremamente dependente do consumo interno, e isso não é bom porque não é necessariamente gerador de empregos. A transformação tem que vir de uma maior produtividade agrícola e de uma industrialização. Enquanto isso não acontecer, o “andar de baixo” será algo beneficiado por esses investimentos, mas não muito.
CC: Após a aproximação promovida pelo governo Lula, o Brasil seguiu avançando em sua relação com a África?

CL: Houve muito investimento de empresas brasileiras e algum do BNDES – mas não muito –, e uma relação mais estreita traz consequências boas tanto para o Brasil quanto para os africanos. O interesse crescente pelo continente, entretanto, não está sendo acompanhado pelo Brasil. Parceiros mais recentes como a Turquia ou países do Leste Europeu já fazem mais. Digo isso para o País acordar e não perder o espaço conquistado nos últimos anos.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/848/a-africa-para-alem-dos-jornais-9593.html?utm_content=buffera1101&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer

25 fevereiro, 2015

Nazismo contra o Marxismo

Retirado do livro 'Minha Luta', de Adolph Hitler

A doutrina judaica do marxismo repele o princípio aristocrático na natureza. Contra o privilégio eterno do poder e da força do indivíduo, levanta o poder das massas e o peso-morto do número. Nega o valor do indivíduo, combate a importância das nacionalidades e das raças, anulando assim na humanidade a razão de sua existência e de sua cultura. Por essa maneira de encarar o universo, conduziria a humanidade a abandonar qualquer noção de ordem. E como nesse grande organismo, só o caos poderia resultar da aplicação desses princípios, a ruína seria o desfecho final para todos os habitantes da Terra
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Nos anos de 1913 e 1914 manifestei a opinião, em vários círculos, que, em parte, hoje estão filiados ao movimento nacional-socialista, de que o problema futuro da nação alemã devia ser o aniquilamento do marxismo. Na funesta política de alianças da Alemanha eu via apenas o fruto da ação destruidora dessa doutrina. O pior era que esse veneno destruía quase insensivelmente os fundamentos de uma sadia concepção do Estado e da economia, sem que os por ele atingidos se apercebessem de que a sua maneira de agir, as manifestações da sua vontade já eram uma conseqüência destruidora do marxismo.

Se o programa social do novo movimento consistisse somente em suprimir a personalidade e pôr em seu lugar a autoridade das massas, o Nacional-Socialismo, já ao nascer, estaria contaminado pelo veneno do marxismo, como é o caso dos partidos burgueses. O Estado nacionalista racista tem que cuidar do bem-estar dos seus cidadãos, em tudo em que reconhecer o valor da personalidade, e, assim, introduzir, em todos os campos de atividade, aquela produtiva capacidade de direção que só ao indivíduo é concedida.
O Estado nacionalista deve trabalhar infatigavelmente para libertar o Governo, sobretudo os altos postos de direção, do princípio parlamentar da maioria, para assegurar, em seu lugar, a indiscutível autoridade do indivíduo.

A burguesia mostrava-se horrorizada por nós termos também recorrido à cor vermelha dos bolchevistas, suspeitando, atrás disso, alguma atitude ambígua. Os espíritos nacionalistas da Alemanha cochichavam uns aos outros a mesma suspeita, de que, no fundo, não éramos senão uma espécie de marxistas, talvez simplesmente mascarados marxistas ou, melhor, socialistas. A diferença entre marxismo e socialismo até hoje ainda não entrou nessas cabeças. Especialmente, quando se descobriu, que, nas nossas assembléias, tínhamos por princípio não usar os termos "Senhores e Senhoras" mas "Companheiros e Companheiras", só considerando entre nós o coleguismo de partido, o fantasma marxista surgiu claramente diante de muitos adversários nossos. Quantas boas gargalhadas demos à custa desses idiotas e poltrões burgueses, nas suas tentativas de decifrarem o enigma da nossa origem, nossas intenções e nossa finalidade!

Qualquer que fosse a maneira - de resistir que se escolhesse, a condição indispensável, seria livrar, primeiro, o nosso povo do marxismo corruptor. E, segundo a minha convicção, o primeiro problema em um governo verdadeiramente nacionalista, era, naquela ocasião, procurar e achar as forças que estivessem decididas a declarar guerra de morte ao marxismo e, em seguida, dar liberdade de ação a essas forças.

Não, um governo verdadeiramente nacional tinha de desejar naquela ocasião a desordem e a intranqüilidade, contanto que no meio desse caos finalmente fosse possível realizar-se uma prestação de contas com os inimigos mortais de nosso povo, os marxistas. Deixando-se de fazer isso, qualquer idéia de resistência, fosse de que espécie fosse, não passaria de pura loucura.

Se o Partido Socialista Cristão possuísse, além de sua inteligente
compreensão da grande massa, uma noção certa da importância do problema da
raça, como a tinha apanhado o movimento pangermanista, e tivesse ele também
sido nacionalista ou tivesse o movimento pangermanista adotado, além da sua
compreensão certa do objetivo da questão judaica e da importância do sentimento
nacional, também a inteligência prática do Partido Socialista Cristão, sobretudo
quanto à atitude em relação ao socialismo - ter-se-ia produzido aquele movimento
que, já então - estou convencido - poderia ter influído no destino do germanismo.


Minha Luta – Hitler

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A atual Democracia do ocidente é a precursora do marxismo, que sem ela seria inconcebível Ela oferece um terreno propicio, no qual consegue desenvolver-se a epidemia.

Minha Luta – Hitler


12 fevereiro, 2015

Esquerda vs Odio da classe media

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
O ódio cresceu 550% na América Latina

Por Antonio Lassance, no site Carta Maior:

O que há de comum entre Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador? Entre as inúmeras coincidências, a primeira é que eles são governados por partidos de esquerda.

Segunda coincidência: seus governos têm demonstrado uma inédita longevidade, a maioria com mais de uma década.

Terceira coincidência: seus governos são duramente atacados e constantemente fustigados por oposições agressivas e tentativas golpistas. Em todas essas situações, a mídia tradicional releva-se o principal ou um dos principais partidos golpistas.

Quarta intrigante coincidência: esses países estão entre os que mais reduziram a desigualdade na América Latina, diminuindo a proporção e o contingente de pobres e miseráveis.

Na década de 1990, a América Latina permaneceu estagnada política, econômica e socialmente. Naquela década, os governos neoliberais que sucederam os ditadores, em muitos países do continente, mantiveram a desigualdade de renda nos níveis deixados pela década perdida, os anos 1980, período final das ditaduras, quando a situação social chegou ao fundo do poço.

A partir da década de 2000, uma leva de governos de esquerda chegou ao poder como resultado de um longo processo de acumulação de forças, iniciado primeiro na luta contra as ditaduras e, depois, impulsionado pelo desgaste de governos neoliberais corruptos, incompetentes e de péssimos resultados econômicos (baixo crescimento, desemprego elevado) e sociais (aumento da pobreza).

Os governos de esquerda que sucederam os neoliberais demonstraram fôlego razoável por pelo menos uma década.

Hugo Chávez, que tomou posse em 1999 e governou até 2013, reagiu e sobreviveu a um golpe ainda em 2002, mas atravessou sua primeira crise generalizada em 2009.

O preço do petróleo chegou a menos de US$ 50 e houve problemas sérios no abastecimento de água e de energia elétrica. A popularidade do governo despencou, setores do governo o abandonaram, acusações de corrupção vieram à tona, a oposição fortaleceu-se e radicalizou-se mais amplamente.

No Brasil, uma década separou a posse de Lula, em janeiro de 2003, das manifestações de junho de 2013. O presidente foi ameaçado com a crise política instalada em 2005, a partir das acusações sobre o financiamento de campanha do chamado mensalão. Superou a crise, reelegeu-se e fez sua sucessora, Dilma Rousseff.

Mas a revolta de 2013, embora não dirigida inicialmente de forma direta contra a presidenta e seu partido, acabou sendo paulatinamente reorientada, com um grande esforço da mídia, para que seu governo e seu partido se tornassem o alvo prioritário e passassem a ser ainda mais estigmatizados do que já tinham sido no passado.

Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007 até hoje) também viveram temporalidades críticas coincidentes ao período de uma década e um processo de destruição midiática muito parecido.

Veremos como Evo Morales (presidente desde 2006) e Rafael Correa (empossado em 2007) se sairão quando as maldições de uma década de governo começarem de fato a bater às portas de seus governos.

Projetos cristalizados são ameaçados

A longevidade de uma década, pelo menos, levou a que esses projetos de esquerda se cristalizassem como uma referência política própria, muito associada ao modelo de governança de seus presidentes e às políticas públicas empreendidas.

Com isso, passou-se a falar em chavismo, lulismo e kirchenismo. Idem para Evo Morales e Rafael Correa, cujas presidências passaram a ser vistas, e de fato são, como o início de um novo projeto político e de gestão de políticas públicas.

O que parece comum a todos esses governos e que merece uma reflexão aprofundada é em que medida eles apresentam, além de um novo padrão, cada qual a seu modo, um comportamento cíclico comum - ascensão, sobrevida, crise e ameaças constantes de derrota ou mesmo queda.

Em torno desses ciclos comuns, pode haver elementos explicativos importantes de serem apreendidos pela esquerda latinoamericana. Algo que pode ser relevante a seu aprendizado comum, um elemento decisivo à sua sobrevivência política e um passo crucial para a sua reinvenção.

De comum, esses foram governos de inversão de prioridades, com a elevação dos gastos em políticas públicas diretamente incidentes no combate à pobreza e redução da miséria.

A rápida melhoria nos indicadores de desigualdade mostrou como é relativamente barato para o Estado reduzir desigualdades sem mexer no padrão econômico dominante dessas sociedades. No entanto, mais cedo ou mais tarde, não mexer no padrão econômico dominante dessas sociedades se torna um grande problema.

De 2003 até a crise de 2008, a América Latina teve um bom período de crescimento econômico. Mais exuberante, porém, foi a tendência de diminuição da concentração de renda e, consequentemente, redução da desigualdade nos países governados pela esquerda.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o índice de Gini na região caiu cerca de 5% em relação ao patamar de 2002. Argentina, Bolívia e Venezuela lideraram uma redução de 10% na desigualdade. Brasil e Equador chegaram a reduzir o Gini em cerca de 7%.

Depois dessa importante redução na desigualdade, ocorre agora um estancamento. Manter as políticas sociais já não garante avanços tão rápidos e significativos quanto no passado.

Para seguirem adiante, esses governos deveriam gastar mais e melhor com políticas sociais, reduzindo a prioridade dada aos setores mais ricos - que ocorre seja pelo pagamento de juros, seja pelas desonerações de impostos, seja pela estrutura tributária regressiva, seja pelas práticas de privilégio econômico, algumas delas eivadas de corrupção.

Os gastos sociais puderam até manter uma trajetória crescente, sem incomodar os ricos, quando os governos de esquerda puderam sustentar taxas de crescimento elevadas e inflação baixa, lembrando que a inflação é um dos grandes impostos que pesam contra os mais pobres.

Porém, qualquer desarranjo nesses fatores afeta a equação montada e leva os presidentes ao risco de desgaste, ameaçando inclusive a continuidade de seus mandatos.

Por isso, os que enfrentam crises mais agudas são ainda mais estigmatizados. Dilma, mais do que Lula; Cristina Kirchner, mais do que seu marido, Néstor; Nicolás Maduro, mais do que Chávez.

Ódio dos ricos e de parte da classe média cresceu: por quê?

Governos de esquerda, ao reduzir a desigualdade, mexem com interesses dos ricos e da classe média. Mesmo que não os ameacem, os incomodam.

No Brasil, em uma década (2001-2011, sobretudo a partir de 2003), enquanto a renda per capita dos 10% mais ricos subiu 16,6%, a renda dos mais pobres elevou-se em 91,2% - conforme dados da PNAD analisados pelo IPEA http://goo.gl/WXYSkr .


Os ricos ganham, mas enervam-se com o fato de que os pobres passem a ter ganhos de renda superiores aos seus devido ao fato de que, com a renda mais alta e desemprego em baixa, o custo da mão de obra se eleva.

Se a renda dessa faixa de pessoas mais pobres cresceu 550% mais rápido que a dos 10% mais ricos, o ódio dos mais ricos contra os governos que fizeram isso acontecer também cresceu nessa mesma proporção. Há 550% mais ódio contra os partidos de esquerda e seus governantes.

O ódio cresceu na medida em que esses projetos se cristalizaram, fomentados politicamente por um conjunto de políticas que conquistou a adesão justamente dos setores mais pobres.

A classe média tornou-se o maior contingente de inconformados. Como os governos de esquerda não mexem ou mexem muito pouco com os ricos, é principalmente sobre a classe média que recaem os custos maiores das políticas de benefícios sociais aos mais pobres.

A classe média foi penalizada com impostos mais altos que bancam uma grande proporção dos gastos dos governos. Embora os gastos maiores do Estado seja com os mais ricos, são os programas sociais para as camadas de mais baixa renda que mais irritam a classe média.

Essa classe média se sente passada para trás quando recorda que tinha custos bem mais baixos, por exemplo, com a mão de obra de serviços domésticos, e uma situação de servilhismo dos pobres em relação a ela. Mesmo que não fosse rica, a classe média vivia em uma condição social distinta em que parecia fazer parte do mundo dos ricos, mesmo que em menor escala.

O castelo de ilusões da classe média tradicional ruiu. Está ocupado por uma legião de pessoas que passam a ter bens de consumo e a frequentar espaços públicos em condições similares - ou quase.

O mercado de trabalho está habitado cada vez mais por pessoas que ameaçam a classe média tradicional por estarem brigando, quase que em pé de igualdade, pelo mesmo ambiente rarefeito.

A revolta da classe média é que isso tornou-se possível com o patrocínio de seu dinheiro, usado pelos governos de esquerda em benefício dos mais pobres. Por isso, a radicalização direitista de uma parte dessa classe se volta contra esses governos, e não contra partidos de direita.

Para esse setor da classe média, a ameaça que sofre não vem dos ricos, e sim dos pobres. Eles lhes causam asco, indignação e um sentimento de ódio pela perda da noção de superioridade, na medida em que os pobres que ascenderam já nem acreditam mais nisso.

Essa parcela da classe média, ainda minoritária, mas crescente, aprecia o elitismo radical embalado pelo liberalismo autoritário.

A corrupção "de esquerda": uma aliança política que precisa ser rompida

A corrupção não é apenas comportamento individual. É e sempre foi parte do processo de competição econômica e política em um sistema capitalista.

Desde os barões ladrões da "era dourada" ("Gilded Age"), nos Estados Unidos, século XIX, ao Brasil das privatizações e das empreiteiras, a corrupção é parte do jogo de cartelização capitalista.

Os interesses do capital necessitam de recursos públicos e, ainda mais importante, precisam interferir na regulação estatal, mudando ou mantendo as regras do jogo em seu benefício.

A maneira como isso afeta governos de esquerda precisa ser analisada do ponto de vista político.

Alguns processos corruptivos, seja na América Latina, seja os que estiveram associados ao domínio do Congresso Nacional Africano (o CNA de Nelson Mandela, na África do Sul) têm em comum o fato de representarem uma tática que alguns governos de esquerda usaram para romper o cerco em relação a setores mais ricos - associando-se a alguns deles mais intimamente.

Ao manter relações privilegiadas com esses setores, buscaram não só torná-los sócios majoritários de um projeto político, mas também, no longo prazo, fortalecê-los no interior da classe capitalista.

A ação é, portanto, ao mesmo tempo pragmática e programática. Os setores escolhidos são, em geral, centrais para os eixos tradicionais de desenvolvimento do país. São também grupos econômicos que eram sócios igualmente tradicionais de partidos de direita.

Mas a aproximação de governos de esquerda e tais grupos tende a reforçar a configuração cartelizada ou mesmo monopolista em muitos desses setores.

Como mexer com esse jogo de interesses envolve entrar por meandros nem sempre abertos e institucionalizados, envereda-se por meio de práticas à margem ou contra a lei. Em uma palavra: quem se aventura por esse caminho cai na corrupção.

Além de patrocinar o superenriquecimento de alguns setores, os partidos, sejam de esquerda ou direita, buscam reforçar-se política e financeiramente na disputa de poder.

O jogo é o mesmo, seja ele feito pela direita ou pela esquerda. A diferença é que os cartéis midiáticos e os órgãos judiciais dão tratamento diferenciado aos casos que envolvem governos de esquerda.

O desvendamento dos casos de corrupção em governos de esquerda unificam, sob uma mesma bandeira, os que querem derrotar esses governos e punir exemplarmente todos os que traíram sua classe, pois aliaram-se àqueles que deveriam ser combatidos sem trégua.

A corrupção fornece o elã para que ricos e parte da classe média tradicional disputem os votos dos pobres com um ódio feito sob medida para estigmatizar, cirurgicamente, apenas os governos de esquerda e seus aliados de ocasião, e não as práticas corruptivas em si.

As denúncias de corrupção feitas pela grande mídia, ela própria um setor capitalista cartelizado e com interesses claros nas disputas políticas e econômicas em curso, vêm claramente desacompanhadas de uma denúncia sobre a permanência da corrupção ao longo do tempo.

Jamais se demonstra a conclusão óbvia de que a corrupção é parceira, de longa data, das práticas capitalistas mais usuais, em sua relação com a política e com o Estado. Salvo em países onde a democracia é forte o bastante para torná-la impossível de não estar exposta.

Os pobres reagem ceticamente em relação a esses apelos com a percepção de que, na verdade, são todos iguais, e a diferença está apenas nos resultados que cada governo oferece. A natureza corrupta do jogo de interesses no poder os iguala. As políticas e seus resultados é que os diferenciam.

Aliás, os mais pobres são os únicos que costumam ter uma posição mais realista e menos hipócrita, embora conformista, sobre o jogo sujo da corrupção entre políticos e grandes capitalistas.

O fato é que os governos de esquerda, quando repetem tais práticas, desmoralizam-se politicamente. Não apenas pelos escâdalos, mas quando demonstram que vieram para mudar algumas coisas, mas se mostram incapazes de alterar o essencial nas relações entre Estado e capitalismo.

Continuam com algum crédito e fôlego para se livrar de tentativas golpistas apenas enquanto suas políticas demonstram capacidade de entregar resultados palpáveis, efetivos.

Por sua vez, em momentos de estagnação, elevam-se as chances de adesão aos apelos do golpismo e aumentam as pressões para que os judiciários e legislativos promovam golpes de espada e cortem cabeças.

Conclusão: um modelo que precisa ser mudado

Os governos de esquerda produziram inúmeros e importantes avanços, mas encontram-se fortemente ameaçados.

Depois de uma década, as acusações de que "o modelo esgotou-se" tornam-se comuns.

A pobreza diminuiu significativamente, em grande medida, graças aos programas de transferência de renda, que hoje cobrem 17% da população da América Latina e Caribe (dados da Cepal).

Ao mesmo tempo, os percentuais e os contingentes de pobres ainda são absurdamente altos - quase 170 milhões de pessoas pobres e mais de 70 milhões na pobreza extrema.

Os governos de esquerda precisam fazer os países voltarem a crescer, mas se limitarem a isso seu horizonte estarão afundados na mediocridade e indiferenciados dos partidos de direita.

Deveriam concentrar suas escolhas de crescimento não em setores tradicionais e em poucos grupos econômicos privilegiados, mas em novos setores econômicos dinâmicos, inovadores, e em arranjos produtivos que fortaleçam a economia familiar, as pequenas e médias empresas.

Dariam uma boa sinalização de mudança a uma parcela da classe média que normalmente detesta a esquerda - e com grande parcela de razão, quando são esquecidos por ela.

Os governos de esquerda deveriam dedicar parte importante de seu trabalho de regulação a descartelizar setores que aboliram a competição, deixaram pequenas e médias empresas à míngua e se tornaram grandes demais para falir.

Isso vale para os grupos de mídia, mas também deveria valer para empreiteiras, para os fornecedores do serviço público, os grupos de telefonia, os planos de saúde e tantos outros.

Novos e significativos avanços demandariam uma expansão das políticas de bem-estar social e investimentos muito maiores em educação, saúde, previdência e assistência do que são possíveis diante do atual modelo da maioria desses países, baseado em gastos altíssimos com o sistema financeiro, uma intocável concentração das atividades econômicas e em profunda injustiça tributária.

A necessária e utópica mudança de modelo passaria por romper os laços promíscuos com setores econômicos dominantes, raiz das práticas de corrupção que põem em xeque todo o patrimônio de lutas sociais que deram origem a muitos dos partidos, dos movimentos e das pessoas que hoje governam esses países.

Com a ascenção de setores pobres ao patamar de classe média, uma nova geração de eleitores desgarrou-se da esquerda e já vota contra ela, contrariando justamente quem foi responsável por sua ascensão.

Mobilidade social resulta também em mobilidade política, o que impactará decisivamente a eleição dos futuros presidentes. Os mais pobres ainda são muitos, mas cada vez dividem seu peso em eleições com setores de uma classe média não tradicional.

A esquerda só terá alguma chance eleitoral se reforçar o sentido social de seu projeto. Para tanto, precisa cumprir o papel de formar uma aliança dos setores mais pobres com a classe média em um modelo em que ambos avaliem que ainda vale a pena estarem juntos e governados por partidos progressistas.

Do contrário, a América Latina poderá, dentro em breve, ser novamente governada por partidos elitistas, excludentes, corruptos e que só serão novamente derrotados depois de imporem ao continente toda uma nova década de atraso, com a economia ainda mais concentrada e a pobreza retrocedendo a patamares alarmantes.

Nessa hora, porém, as alternativas podem já não ser mais tão promissoras se a esquerda, linchada, estiver com todas as suas cabeças cortadas e penduradas em praça pública.


* Antonio Lassance é cientista político.http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/02/o-odio-cresceu-550-na-america-latina.html?spref=tw

03 janeiro, 2015

Bancos e Drogas

Os barões da banca e da droga
Na última década, o HSBC colaborou com os cartéis da droga do México e da Colômbia na lavagem de dinheiro num montante de cerca de 880 bilhões de dólares.


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Eric Toussaint



O caso do banco britânico HSBC constitui um exemplo suplementar da doutrina «demasiado grandes para serem encarcerados». Em 2014, o grupo mundial HSBC emprega 260.000 pessoas, está presente em 75 países e declara 54 milhões de clientes.

No decurso do último década, o HSBC colaborou com os cartéis da droga do México e da Colômbia – responsáveis por (dezenas de) milhares de assassinatos com armas de fogo – na lavagem de dinheiro num montante de cerca de 880 bilhões de dólares.

As relações comerciais do banco britânico com os cartéis da droga perduraram, apesar das dezenas de notificações e avisos de diversas agências governamentais dos EUA (entre as quais o OCC - Office of the Comptroller of the Currency).

Os lucros obtidos não só levaram o HSBC a ignorar os avisos, mas, pior ainda, a abrir balcões especiais no México, onde os narcotraficantes podiam depositar caixas cheias de dinheiro líquido, para facilitar o processo de lavagem.

Apesar da atitude abertamente provocatória do HSBC contra a lei, as consequências legais da sua colaboração directa com as organizações criminais foram praticamente nulas. Em Dezembro de 2012, o HSBC teve de pagar uma multa de 1900 milhões de dólares – o que equivale a uma semana de receitas do banco – para fechar o processo de lavagem.

Nem um só dirigente ou empregado foi sujeito a procedimento criminal, embora a colaboração com organizações terroristas ou a participação em actividades ligadas ao narcotráfico sejam passíveis de cinco anos de prisão. Ser dirigente de um grande banco dá direito a carta branca para facilitar, com total impunidade, o tráfico de drogas duras ou outros crimes.

O International Herald Tribune (IHT) fez uma reportagem sobre os debates realizados no departamento de Justiça. Segundo as informações obtidas pelo jornal, vários procuradores pretendiam que o HSBC se declarasse culpado e reconhecesse ter violado a lei que o obriga a informar as autoridades sobre a ocorrência de transações superiores a 10.000 dólares identificados como tendo origem duvidosa. Daí resultaria a cassação da licença bancária e o término das actividades do HSBC nos EUA. Após vários meses de discussão, a maioria dos procuradores tomou outro rumo e decidiu que melhor seria não processar o banco por atividades criminosas, pois era necessário evitar o seu encerramento. Convinha mesmo evitar manchar demasiado a sua imagem.

A modesta multa de 1900 milhões de dólares é acompanhada duma espécie de liberdade condicionada: se, entre 2013 e 2018, concluírem que o HSBC não pôs fim definitivo às práticas que originaram a sanção (não é uma condenação), o Departamento de Justiça poderá reabrir o processo. Em resumo, a medida pode resumir-se assim: «Anda, meu patife, passa para cá uma semana do teu ordenado, e não voltes a repetir a brincadeira nos próximos cinco anos». Aí está um belo exemplo de «demasiado grande para ser condenado».

Em Julho de 2013, numa das reuniões da comissão senatorial que investigou o caso HSBC, Elizabeth Warren, senadora democrata do Estado de Massachusetts, apontou o dedo a David Cohen, representante do Ministério das Finanças e subsecretário responsável pela luta contra o terrorismo e a espionagem financeira.

A senadora disse, grosso modo, o seguinte: «O governo dos EUA leva muito pouco a sério a lavagem de dinheiro (…) É possível encerrar um banco que se dedica ao lavagem de dinheiro, as pessoas envolvidas podem ser interditas de praticar uma profissão ou actividade financeira e toda a gente pode ser mandada para a prisão. Ora, em Dezembro de 2012, o HSBC (…) confessou ter lavado 881 bilhões de dólares dos cartéis mexicanos e colombianos da droga; o banco admitiu igualmente ter violado as sanções. O HSBC não o fez apenas uma vez, é um procedimento recorrente. O HSBC pagou uma multa mas nenhuma pessoa foi banida do comércio bancário e não se ouviu falar dum possível encerramento das actividades do HSBC nos EUA. Gostaria que respondesse à seguinte questão: quantos bilhões de dólares um banco tem de lavar, antes de se considerar a possibilidade de encerrar a prática?»

O representante do Tesouro acusou o golpe, respondendo que o processo era demasiado complexo para permitir uma conclusão. A senadora declarou a seguir que quando um pequeno vendedor de cocaína é apanhado, fica uns quantos anos na prisão, enquanto um banqueiro que lava bilhões de dólares de droga pode regressar tranquilamente a casa, sem receio da Justiça. Esta passagem da audiência está disponível em vídeo e vale a pena vê-la. (ver abaixo)







A biografia de Stephen Green ilustra bem a relação simbiótica entre a finança e a governança. A coisa vai ainda mais longe, pois ele não se contentou em servir os interesses do grande capital, enquanto banqueiro e ministro; é também prior da igreja oficial anglicana e escreveu dois livros sobre ética e negócios, um dos quais intitulado «Servir a Deus? Servir a Mamom?». O título do livro remete para o Novo Testamento. «Ninguém pode servir dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Mamom». Mamom representa a riqueza, a avareza, o lucro, o tesouro. Encontramos esta palavra em aramaico, hebraico e fenício. Por vezes Mamom é usado como sinónimo de Satã. Quanto a Stephan Green, é elogiado pelas mais altas autoridades universitárias e é manifestamente intocável.

Passemos em revista alguns elementos da sua biografia. Começa a sua carreira no ministério britânico do Desenvolvimento Ultramarino, depois passa para o setor privado e trabalha para o consultor internacional McKinsey. Em 1982 é contratado pelo HSBC (Hong Kong Shanghai Banking Corporation), o mais imporrtante banco britânico, onde ascende rapidamente a funções de alta responsabilidade. Finalmente, em 2003, torna-se director executivo do HSBC e em 2006 acede à presidência do grupo, onde permanece até 2010.

As acusações feitas pelas autoridades americanas em matéria de lavagem de 881 bilhões de dólares do dinheiro dos cartéis da droga e de outras organizações criminosas dizem respeito ao período 2003-2010. Segundo o relato das 334 páginas tornadas públicas por uma comissão do Senado norte-americano em 2012, Stephan Green, desde 2005, foi informado por um empregado do banco que o HSBC tinha mecanismos de lavagem no México e levava a cabo múltiplas operações suspeitas. Ainda em 2005, a agência financeira Bloomberg, com sede em Nova Iorque, acusa o HSBC de lavagem de dinheiro da droga.

Stephen Green responde que se trata de um ataque irresponsável e sem fundamento, que põe em causa a reputação dum grande banco internacional acima de todas as suspeitas. Em 2008, uma agência federal norte-americana comunica a Stephen Green que as autoridades mexicanas descobriram a existência de operações de lavagem realizadas pelo HSBC México e uma das suas filiais num paraíso fiscal das Caraíbas («Cayman Islands Branch»). A agência acrescenta que a situação pode implicar uma responsabilidade penal para o HSBC.

A partir desse momento, as autoridades norte-americanas de controle dirigem repetidos avisos à direção do banco, muitas vezes aflorando a gravidade dos fatos. O banco promete alterar os seus comportamentos, mas na realidade prossegue as práticas criminosas. Finalmente os avisos dão lugar em Outubro de 2010 a um aviso para pôr termo às práticas ilegais. Em finais de 2012, após a apresentação pública do relatório da comissão senatorial e meses de debate entre diferentes agências de segurança dos EUA, é aplicada uma multa de 1900 milhões de dólares à HSBC.

Stephen Green está em boa posição para saber o que fazia o banco no México, nos paraísos fiscais, no Médio Oriente e nos Estados Unidos, pois além de dirigir o conjunto do grupo HSBC, dirigiu no passado o HSBC Bermudas (estabelecido num paraíso fiscal), o HSBC México, o HSBC Médio Oriente. Presidiu igualmente o HSBC Private Banking Holdings (Suíça) SA e o HSBC América do Norte Inc.

Quando veio a público, em 2012, que o HSBC teria de pagar uma considerável multa nos EUA por branqueamento de dinheiro dos cartéis da droga, Stephen Green já tinha passado de grande patrão do HSBC a ministro do governo conservador-liberal conduzido por David Cameron.

Voltemos um pouco atrás para descobrir que o timing seguido por Stephen Green foi perfeito. Coisa de artista. Em Fevereiro de 2010, publica o livro O Justo Valor: Reflexões sobre a Moeda, a Moralidade e Um Mundo Incerto. O livro é apresentado ao público nestes termos: «Será que alguém pode ser ao mesmo tempo uma pessoa ética e um homem de negócios eficaz? Stephen Green, simultaneamente sacerdote e presidente do HSBC, acha que sim.» Reparem que a «pessoa ética e o homem de negócios eficaz» são identificados com o «sacerdote e presidente do HSBC». A publicidade é patente. Na mesma época recebe o título de doutor honoris causa, concedido pela School of Oriental and African Studies (SOAS) da Universidade de Londres.

Em Outubro de 2010, pela segunda vez desde 2003, a justiça dos EUA avisa o HSBC para que ponha termo às suas actividades criminosas. O público ainda não está ao corrente. É tempo de Stephen Green abandonar o navio. Em 16 de Novembro de 2010, a pedido de David Cameron, é nobilitado pela rainha de Inglaterra e passa a ser o «barão» Stephen Green de Hurstpierpoint do condado do Sussex ocidental. Nada disto pode acontecer por acaso. Para um homem de negócios que permitiu o branqueamento de dinheiros dos «barões» da droga, trata-se duma bela promoção. À conta disso torna-se membro da Câmara dos Lordes em 22 de Novembro de 2011. Se lessem isto num blog, diriam certamente que o autor estava a exagerar.

Em Dezembro de 2010 demite-se da presidência do HSBC e em Fevereiro de 2011 sobe a ministro do Comércio e Investimento. Depois de empossado no cargo, coloca os seus bons serviços à disposição do patronato britânico, com o qual mantém relações muito frutuosas e estreitas, uma vez que desde Maio de 2010 ocupa o posto de vice-presidente da Confederação da Indústria Britânica.

Desempenha um papel igualmente importante na promoção de Londres, que se prepara para receber os Jogos Olímpicos em Julho de 2012. É durante esse mês que uma comissão norte-americana envia o seu relatório sobre a questão do HSBC. Stephen Green recusa responder às perguntas dos membros da Câmara dos Lordes em relação à sua implicação no escândalo. É protegido pelo presidente do grupo dos lordes conservadores, que diz que um ministro não tem de vir diante do Parlamento dar explicações sobre negócios estranhos ao seu ministério.

David Cameron afirmou em 2013 que lorde Green fez um «soberbo trabalho» ao intensificar os esforços do Governo britânico para reforçar as exportações britânicas, para fazer avançar os tratados comerciais e especialmente o tratado transatlântico entre a União Europeia e os EUA. Lorde Green esforçou-se muito para aumentar as vendas de armas britânicas nos mercados mundiais. Terminou o seu mandato de ministro em Dezembro de 2013 e dedicou o seu precioso tempo a dar conferências (certamente muito bem remuneradas) e a receber os favores propiciados por numerosas autoridades acadêmicas.

A sua carreira certamente não ficará por aqui. A sua hipocrisia não tem limites. Em Março de 2009, quando o HSBC estava metido até ao pescoço na lavagem de dinheiros de organizações criminosas, Green teve o descaramento de declarar, numa conferência de imprensa a propósito das responsabilidades na crise iniciada em 2007-2008: «Estes acontecimentos evocam a questão da ética do sector financeiro. Dá a impressão que, muito frequentemente, os responsáveis não se perguntam se as suas decisões são correctas e apenas se ralam com a sua legalidade e conformidade aos regulamentos. É necessário que este sector retome o sentido da correcção ética como motor das suas actividades.» É assim que Stephen Green, vampiresco tubarão, navegando acima das leis, se dirige aos sabujos que vão pressurosos repercutir as suas belas palavras na grande imprensa.

Green e todos quantos organizaram o branqueamento de dinheiro no seio do HSBC devem responder pelos seus atos perante a justiça e ser condenados severamente, sofrer privação de liberdade e ser obrigados a realizar trabalhos de utilidade pública. O HSBC deveria ser encerrado e a direcção despedida. Em seguida o mastodonte HSBC deveria ser retalhado, sob controlo cidadão, numa série de bancos públicos de média dimensão, cujas missões seriam estritamente definidas e exercidas no quadro dum estatuto de serviço público.

Tradução: Rui Viana Pereira

Revisão: Maria da Liberdade





Créditos da foto: Arquivo
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3 Comentários Insira o seu Comentário !

Mardones da Silva - 28/04/2014
As denúncias datam de 2003, há 11 anos atrás, o banco ganha o direito de lavar dinheiro do tráfico até 2018. Não fosse trágico, seria cômico. Isso se chama fiscalização e justiça? Pausa para rir. Aquele jornal que gosta de dar pitaco nos assuntos do Brasil, poderia dizer algo a esse respeito. E deixar de olhar para as coisas do nosso país.


Marco Aurelio Weissheimer - 28/04/2014
O texto fala de bilhões mesmo, Julio, não milhões, no período de uma década. Somente o valor de uma multa nos EUA foi de 1,9 bi de dólares.


Júlio Pimentel - 28/04/2014
Por favor, corrijam o texto, trocando onde houver 881 BILHÕES por MILHÕES. Isso é o que foi admitido, claro. O valor real muito provavelmente deve chegar em dezenas de BILHÕES de dólares.http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Os-baroes-da-banca-e-da-droga/6/30803

Alerta - Copycat crimes e a mídia

Prezados(as) senhores(as),
Não sei como definir este e-mail – apelo, protesto, alerta, sugestão. Talvez, a melhor denominação seja apelo. Apelo porque vem de um insignificante cidadão brasileiro.
Poderia começar com este e-mail frases batidas e repetidas: “Vivemos um tempo de violência…”, “Devemos combater a violência que assola nosso dia-a-dia…” ou “A escalada da violência nas escolas…”. Mas…
Mas, após o nariz de cera, começarei com um argumento: “Sobre certos temas, já há a autocensura nas redações brasileiras. Há trinta ou quarenta anos não se publicam notícias sobre suicídios, para evitar que desvairados copiem métodos, ou, atualmente, não falamos nomes de facções criminosas para não propagandearmos suas marcas e incentivarmos seguidores.”
Agora, chego ao meu ponto. O massacre de Columbine, nos EUA, não posso afirmar que tenha sido o primeiro (pelo menos tornou-se o mais conhecido – filme de Michael Moore), mas, sua divulgação massiva na mídia provocou uma onda sinistra, sangrenta e brutal de imitadores (em inglês, copycats). Foram tantos que o interesse da mídia diminuiu. E em seguida, os massacres perderam intensidade. Se fizermos uma linha temporal, o crescimento destes acontecimentos são acompanhados pelo incremento da cobertura da mídia, que quando arrefece os diminui. Isto nos Estados Unidos. No Brasil, tivemos nossa primeira infeliz experiência.
Não estou, tolamente, acusando a mídia de incentivar atitudes treslocadas com o destaque dado a estes crimes brutais. Mas, a repetição e a espatacularização deles, com infográficos, reconstituições, entrevistas e vídeos exclusivos, passa com certeza uma mensagem, que mentes perturbadas transformam em modelos. Como defesa, jornalistas podem dizer: “Só escrevi uma reportagem…”, “O público precisa saber…” ou “A concorrência não vai deixar de usar…” Será?
Já tivemos três casos de copycat – ameaça de bomba (trote) e jovem preso com faca no RJ e assissanato no Piauí, Precisamos de mais? Precisamos de ideias idiotas como colocar caríssimos detectores de metais na porta de escolas, enquanto alunos não tem carteira e professores ganham salário mínimo? Podemos fazer alguma coisa?
Enquanto, cidadãos podemos valorizar a cortesia, a paciência, a tolerância. E vocês como jornalistas, poderiam evitar a divulgação diária de fotos, textos, vídeos e áudios quando acontecerem outros massacres?
Por isso, peço, sugiro, protesto e alerto: por favor, não publiquem matérias sobre massacres escolares.
Atenciosamente, Cristiano Abud.
Nota do Viomundo: O caso de Realengo já mobilizou todas as taras ideológicas existentes na praça. Uma delas diz que o atirador é terrorista islâmico, por ter copiado métodos do terrorismo islâmico. Como assim? Só se for o bin Laden do bulying, armado com um 32 e um 38. Nunca se escreveu tanto as palavras “extremismo”, “islâmico”, “muçulmano”, “mesquita”ou “Alcorão” num contexto a que elas mal pertenciam, já que o atirador, de acordo com a própria família, cresceu frequentando uma igreja cristã. Ou seja, o caso foi usado num contexto de profundo preconceito. De factual, temos que o atirador era solitário, frequentava muito a internet, tinha algum distúrbio mental (dificilmente saberemos exatamente qual, já que o diagnóstico depende de avaliação em pessoa), tinha a percepção de ter sofrido bulying e teve acesso razoavelmente fácil a armas. Talvez a gente consiga tomar medidas quanto a estes cinco pontos. Com certeza, o leitor Cristiano Abud toca num ponto importante: o próprio atirador, num dos vídeos divulgados, elenca como “heróis” outros atiradores que atacaram em escolas. Mas quanto ao ponto levantado por ele, duvido que a mídia será menos irresponsável se a própria polícia se dispõe a alimentá-la.
Artigo:
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/o-alerta-do-leitor-sobre-os-crimes-copycat.html

A manipulação narrativa, e o vacuo da ideologia

A manipulação narrativa, e o vacuo da ideologia

No bairro Orwell aconteceram 50 assaltos. Chomsky mora no bairro Orwell. Não é coincidência que este fulano more no bairro onde aconteceram todos esses assaltos? E que nenhum tenha acontecido na casa dele?

Neste caso, estamos fornecendo uma série de insinuações e suposições. Não dizemos abertamente que o "fulano" é o culpado ou o assaltante, mas damos os elementos e o enquadramento para levar as pessoas a chegar nesta conclusão. Este vácuo contextual permite que, sem enquadramento mai completo, a imaginação humana seja "dirigida", ou "sugerido" um caminho que leva à conclusão desejada. isto é o vácuo que chamamos de ideologia na comunicação.