06 agosto, 2011

Racismo teórico do control v


Terrorista critica mistura de raças do Brasil
500 páginas, atirador norueguês diz que miscigenação é responsável pela ”falta de coesão” do País, uma nação ”de segunda classe”
26 de julho de 2011 | 0h 00
José Roberto de Toledo – O Estado de S.Paulo
O Brasil recebe 12 menções no manifesto de exatas 1.516 páginas deixado na internet pelo extremista norueguês Anders Behring Breivik, que matou 76 pessoas na sexta-feira.
Primeiro, o País aparece como exemplo negativo de “mistura de raças”, responsável pela suposta falta de coesão interna, que transformaria o Brasil em um país de segunda classe. Para o terrorista, a variedade de “subtribos” sabota qualquer esperança de se atingir no Brasil “o mesmo grau de produtividade e harmonia” de Escandinávia, Alemanha, Coreia do Sul e Japão.
Em seguida, Breivik diz que o “modelo brasileiro” foi estabelecido após a “Revolução Marxista Brasileira”, responsável pela “mistura de europeus, asiáticos e africanos”. A nuvem de 778 mil palavras do texto (veja ao lado) mostra como o ele é repetitivo. Os termos mais citados (em inglês) são “europeu”, “Europa”, “muçulmano(s)”, “Islã/islâmicos”, “cristão(s)” e “ocidental”.
O manifesto impressiona pelo tamanho, mas não pelo conteúdo. Grande parte foi produzida seguindo os preceitos da escola tecno-filosófica do CTRL+C e CTRL+V. Plágio puro e simples. Do manifesto do Unabomber a blogs de extrema direita, de páginas de malucos em geral à Wikipédia, trechos inteiros foram copiados e colados.
Quanto ao conteúdo, trata-se de um caso radical do que o crítico Roberto Schwarz certa vez chamou de “ideias fora do lugar”. Citações desconexas de autores marxistas misturadas com trechos da revista Economist, estatísticas inventadas e passagens do Alcorão. Tudo para “provar” que a Europa está sob ataque do Islã (uma nova onda de ataque, na sua versão) e precisa se defender militarmente – usando todas as armas que tiver à mão, incluindo o terrorismo.
Antes de atacar os muçulmanos, o terrorista defende ser preciso combater adversários internos que facilitam a penetração do “inimigo” no território europeu. A saber: políticos liberais, marxistas, feministas, defensores do politicamente correto, a academia e todo mundo que discordar de suas convicções racistas. Daí os alvos de Breivik terem sido o governo liberal norueguês e os filhos de seus líderes.
Breivik, que assina Andrew Berwick, tenta valorizar seu esforço intelectual escrevendo logo no começo que a elaboração do documento lhe tomou nove anos e 317 mil. Difícil imaginar como um trabalho de copiar e colar pode ter demorado e custado tanto. Parece ser mais um autoelogio para alcançar reconhecimento entre seus colegas racistas internet afora.
Artigo:
http://www.viomundo.com.br/politica/as-criticas-do-terrorista-noruegues-ao-brasil.html
Reacionarios e o politicamente correto

...mirar no politicamente correto, acertar na dignidade humana....
Ficou moderno combater o ‘politicamente correto’; mas na toada, vão debulhar a dignidade humana






A entrevista que segue foi concedida ao Portal Sul 21, após a publicação do artigo "Moderno reacionário é porta de entrada para o velho fascismo", aceitando a sugestão da Vivian Virissimo, para explicitar certos pontos:





Vivian Virissimo

Juiz de Direito em São Paulo e ex-presidente da Associação de Juízes para a Democracia (AJD), Marcelo Semer vem alertando que a incorporação de direitos civis no Brasil, como a recente aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo, vem sendo acompanhada pelo aumento do preconceito. Ele alerta para uma aparente tendência, entre colunistas de jornal, humoristas e políticos, de combater o chamado “politicamente correto”.

“Ficou moderninho combater o ‘politicamente correto’; mas na toada, vão debulhar a dignidade humana”, afirma.

Semer concedeu uma entrevista por e-mail ao Sul21, na qual amplia a discussão trazida em seu artigo publicado nesta semana pelo Terra Magazine, com o título “O moderno reacionário é a porta de entrada do velho fascismo”. “A ideia de que sou livre em pensamento, quando não devo tributo a nada, é perigosa. Em alguns casos, por imprudência, fazem a defesa do racismo; em outros por má-fé assentam o caminho para o autoritarismo”, diz o juiz.

Semer também é escritor e blogueiro. Além da coluna no Terra Magazine, ele atualiza o blog Sem Juízo.

Sul21 – Em artigo de sua autoria, o senhor aborda a tendência crescente de reacionarismo e fascismo na sociedade brasileira. Poderia exemplificar e comentar fatos que se tornaram públicos recentemente e que atestam sua tese?

Marcelo Semer – O que se tem percebido é o aumento do preconceito, em resposta à incorporação de direitos civis (exemplo típico da homofobia), como uma forma de reação. O mesmo ocorre com a ascensão social: a reação de quem quer ser o porta-voz da classe média. Então vem essa conversa de que aeroportos são como rodoviárias, o trânsito aumentou porque pobres compram carro fácil e etc. No limite, é o mesmo reclamo da xenofobia europeia: os imigrantes querem tomar nossos empregos. Em São Paulo, um movimento chamado “São Paulo para os Paulistas” lançou documento que poderia, em quase tudo, ser atribuído à pregação hitlerista. Nas depressões aumenta o preconceito, na ascensão social idem. A reação do sul-sudeste aos resultados da eleição, como se nordestinos fossem “culpados”, é um exemplo claro.

Sul21 – Esses traços estão sendo apropriados por alguns políticos que parecem ter encontrado um “nicho” de eleitores conservadores e têm propagado preconceitos que desrespeitam preceitos constitucionais. Como o senhor avalia esta questão?

Marcelo Semer – A intromissão da questão religiosa no debate eleitoral foi uma senha. Como nos Estados Unidos, setores ultraconservadores abrem mão de discutir política para discutir moral, com o que é mais fácil disseminar o medo. A porta foi aberta e dentro dela navegam os extremistas, que flutuam melhor no arcaico debate moral. Abrir espaço para o extremista, como se ele fosse um folclórico (desejo de audiência) ou garantir a todos o direito ao racismo é um equívoco brutal. A Constituição não é feita de um único artigo e não se restringe à liberdade de expressão. O ministro Celso de Mello explicou muito bem isso no voto do julgamento da Marcha da Maconha: estimular o ódio e o racismo não está garantido pela Constituição.

Sul21 - Na sua avaliação, quais seriam as conseqüências para o Estado laico quando ocorre a instrumentalização do discurso religioso por políticos?

Marcelo Semer – A instrumentalização do debate religioso na política é um duro golpe ao Estado laico. É dizer que as pessoas devem fazer suas escolhas políticas baseadas nas crenças (sobre as ações de governo); no limite, tende ao preconceito (não aceito quem não tem a mesma crença) e depois a perseguição. É algo que certamente não precisamos em um país com histórico de tolerância religiosa. Digo mais: é um caminho sem volta.

Sul21 – Qual sua opinião a respeito dessa tendência de que a liberdade de expressão fique acima do respeito ao outro, autorizando qualquer tipo de desrespeito aos direitos humanos? Quais seriam as conseqüências desta postura para a banalização da violência?

Marcelo Semer – Um erro sem precedentes. Liberdade de expressão não é ilimitada. O respeito à dignidade humana e o princípio da igualdade não podem ser fulminados. Democracia não é só governo da maioria; é também respeito irrestrito às minorias, ao ser humano, enfim.

Sul21 - No artigo o senhor comenta rapidamente sobre os “neo-machistas intelectuais”, que traços são reconhecidos nestes tipos?

Marcelo Semer – O combate à ideia da igualdade que duramente vem sendo conquistada. Ficou moderninho combater o ‘politicamente correto’; mas na toada, vão debulhar a dignidade humana. Dizer que amamentar em público é como defecar; ou que a mulher precisa ser tratada como objeto, dito por intelectuais representa o quê?

Sul21 - Gostaria também que o senhor falasse mais sobre o “intelectual sem amarras”. Que tipo de comportamento teria esse intelectual?

Marcelo Semer – Tipo que está virando tendência: fulmina o que afirma ser o senso comum, como pretexto de liberdade e serve à destruição dos patamares mínimos de convivência e dignidade. Se tudo é permitido, nada deve ser preservado, tampouco a democracia vai se mostrar imprescindível. A ideia de que sou livre em pensamento, quando não devo tributo a nada, é perigosa. Em alguns casos, por imprudência, fazem a defesa do racismo; em outros por má-fé assentam o caminho para o autoritarismo.
Fonte: http://blog-sem-juizo.blogspot.com/2011/07/mirar-no-politicamente-correto-acertar.html
Igualdade entre desiguais e farsa

Publicado em 05/08/2011

Jean Wyllys e Kassab: tratar os diferentes de forma igual



O Conversa Afiada recebeu a seguinte carta aberta do deputado Jean Wyllys:

Exmo. Sr. Prefeito Gilberto Kassab


Eu, Jean Wyllys, como cidadão brasileiro homossexual e deputado federal que defende a causa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (LGBT), entre outras venho por meio desta dizer que me sinto afrontado com o projeto de lei 294/2005, do vereador Carlos Apolinário (DEM), que institui o Dia do Orgulho e, nessa condição de parlamentar que tem como função representar os interesses da comunidade LGBT argumentar em favor do veto dessa Lei, que deturpa, e, por que não, viola o princípio constitucional da igualdade.


O senhor sabe, prefeito, que é objetivo fundamental da República Federativa do Brasil reduzir as desigualdades sociais, conforme está expresso no inciso III do artigo 3º da Constituição Federal. Sabe também que, entre os brasileiros, é garantida a plena igualdade (artigo 5º, caput, da mesma Constituição).


Ocorre que a igualdade não é concebida apenas do ponto de vista formal, senão também do ponto de vista material. Já vem de Aristóteles a idéia de igualdade associada à de justiça. Por isso, ensina o constitucionalista José Afonso da Silva, a equidade só é concebida junto com a outra desigualdade que lhe é e que deve lhe ser complementar: aquela que só será “satisfeita se o legislador tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais”. Por isso se diferencia a igualdade formal, segundo a qual os seres da mesma categoria devem ser tratados da mesma forma, da igualdade material, que significa que cada um deve ser tratado de acordo com suas necessidades, méritos e peculiaridades. Nesse sentido, estimado Kassab, o Supremo Tribunal Federal veda a discriminação baseada em critérios arbitrários, mas considera legítimo e necessário o tratamento desigual dos desiguais.


Ou seja, com a igualdade material se busca equalizar condições desiguais. Para tanto, além de superar as injustiças socioeconômicas entre as diferentes classes sociais, é necessário romper com estigmas que pesam contra determinados grupos culturais e de identidade que compõem a sociedade brasileira, que por vezes padecem de exclusão simbólica. Como tal desiderato demanda políticas públicas para sua efetivação, a proposição em comento não pode ser aceita.


O sistema global de proteção dos direitos humanos corrobora a necessidade de proteção específica a grupos peculiares.


A primeira fase do desenvolvimento desse sistema foi a da afirmação da igualdade entre todos os indivíduos. Foi marcada pela promulgação do que se chama de Carta Internacional de Direitos Humanos, composta pela Declaração Universal de 1948, pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e pelo Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966. Pesava aqui o trauma da experiência de diferenciação do nazismo.


A segunda fase foi aquela da “multiplicação dos direitos”, na expressão do filósofo do Direito Norberto Bobbio.Trata-se de um processo em que a noção abstrata de indivíduo dá lugar aos indivíduos concretos, de carne e osso, com posições sociais, identidades e necessidades específicas. Por isso se construiu o sistema especial de proteção dos direitos humanos, que dá tutelas especiais aos diferentes grupos econômicos, sociais e identitários, que culminou nas convenções dos direitos das mulheres, das crianças, contra a discriminação racial, etc.


Assim, na expressão da jurista Flávia Piovesan, o reconhecimento e proteção do indivíduo social e historicamente situado faz com que, ao lado do direito à igualdade, nasça o direito à diferença: importa “assegurar igualdade com respeito à diversidade”. A igualdade material, assim, passa pela busca de justiça social e distributiva, orientada por critérios socioeconômicos, e também pelo reconhecimento de identidades, tratando-se, nesse último caso, de igualdade orientada pelos critérios de gênero, orientação sexual, idade, raça, etnia, etc.


Não é por outro motivo que o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou, em 15 de junho deste ano, Resolução sobre direitos humanos, orientação sexual e identidade de gênero. O Conselho, na Resolução, recorda que a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos os seres humanos são iguais em dignidade e direitos, sem distinção de qualquer natureza, como raça, cor, sexo, língua, religião, política, nascimento ou outro status. A Resolução expressou, ainda, grave preocupação com atos de violência e discriminação contra indivíduos devido à sua orientação sexual e identidade de gênero.


Diante de tal conjuntura internacional, caro prefeito Gilberto Kassab, qual não seria o retrocesso brasileiro caso vossa excelência sancione a lei aprovada pela Câmara de São Paulo. O Dia do Orgulho LGBT (assim como o Dia da Consciência Negra ou o Dia da Mulher) correspondem a políticas públicas que visam construir a equidade por meio de um tratamento desigual para os desiguais e, ao mesmo tempo, contrapor os discursos que historicamente posicionam os homossexuais (assim como os negros ou as mulheres) como subalternos e descartáveis, destruindo sua autoestima. Sem mais, agradeço sua gentileza em receber esta minha carta já que uma conversa entre nós não foi possível por motivos de agenda.


Jean Wyllys
Deputado Federal PSOL-RJ
Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/08/05/jean-wyllys-enfrenta-kassab-sobre-orgulho-hetero/