18 março, 2011

Psy-ops povoam redes sociais

Militares americanos desenvolvem software para influenciar mídias sociais
Por Redação do IDG Now!
Publicada em 18 de março de 2011 às 12h12

A Intenção é combater blogs com conteúdo extremista violento, em línguas como árabe e farsi; ação em inglês foi descartada por questões legais.
As Forças Armadas dos Estados Unidos estão desenvolvendo um software para manipular, de forma secreta, as redes sociais, com a intenção de influenciar os debates na Internet e divulgar propaganda favorável ao país, informou na quinta-feira (17/3) o The Guardian.

A tarefa de desenvolver um software capaz de influenciar os rumos das discussões na Internet foi confiada pelo Comando Central dos EUA (Centcom) a uma empresa não identificada da Califórnia. O serviço, que foi descrito como um "serviço de gestão de personas online", tem sido projetado para permitir que um militar controle até dez perfis.

Críticos ouvidos pelo jornal apontam que a tecnologia poderá permitir que os militares americanos criem consensos artificiais nos debates online, bem como incentivar outros governos a fazer o mesmo.

Cada persona criada pelo sistema deverá ter um histórico convincente, prevê o contrato de desenvolvimento. Até 50 controladores deverão poder operar falsas identidades "sem medo de serem descobertos por adversários sofisticados", ressalta o Guardian.

Um porta-voz do Centcom afirmou que a tecnologia não será utilizada em inglês e que seria "ilegal" ter como alvo audiências nos EUA. As linguagens nas quais os perfis serão ativos incluem árabe, farsi, urdu e pashto. Tampouco o Facebook ou o Twitter seriam alvos - a meta, disse o porta-voz, são blogs com conteúdo extremista violento.
Fonte: http://idgnow.uol.com.br/internet/2011/03/18/militares-americanos-desenvolvem-software-para-influenciar-midias-sociais/

15 março, 2011

Nao ha resposta simples

26 de novembro de 2010 às 18:32
Luiz Eduardo Soares: A crise no Rio e o pastiche midiático

A crise no Rio e o pastiche midiático

por Luiz Eduardo Soares, em seu blog

Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética –- supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu–, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –- ou sob tanta pressão — quanto os jornalistas.

Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:

(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.

(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –- em uma palavra, banido –, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?

(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –- nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes.

Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.

Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:

(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?

Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?

Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.

A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.

A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.

(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?

Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.

Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –- isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia — teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.

Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.

Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –- mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente.

O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção.

É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.

(c) O Exército deveria participar?

Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.

E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.

(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?

Claro. Mais uma vez.

(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.

Palavras Finais

Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente.

As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo.

A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social –um dos melhores gestores do país–, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.

O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar.

Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –- as bandas podres das polícias — prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.

Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?

As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça.

A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania.

A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.

E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.

Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino “gato orçamentário”, esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada.

Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.

O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.

Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/luiz-eduardo-soares-a-crise-no-rio-e-o-pastiche-midiatico.html

12 março, 2011

A Antipolítica

por Luiz Carlos Azenha
Eu ontem reencontrei o Gilberto Maringoni, um amigo de longa data, dos tempos de Bauru.
E me lembrei do trecho de um livro que ele escreveu sobre a Venezuela (A Venezuela que se inventa), em que Maringoni reproduz trechos do que disse Edgardo Lander sobre o discurso antipolítica. É um discurso comum no Brasil, que aparece disfarçado (“Tiririca foi eleito e o mundo vai desabar”), com os mesmos objetivos: condenar as ações do estado.
Reproduzo:
“Um discurso antipolítica e antipartidos disseminou-se pela mídia, estabelecendo uma oposição maniqueísta entre Estado (caracterizado como corrupto, ineficiente e clientelista) e uma mítica sociedade civil (que inclui a mídia), entendida como uma síntese de todas as virtudes: criativa, cheia de iniciativas, eficaz, honesta e participativa.
O paradigmático novo sujeito dessa democracia de cidadãos, que substituiria a democracia de partidos, era o cidadão-vizinho, concebido com base na experiência das organizações de vizinhança das classes médias e altas urbanas. A preocupação central dessas organizações era a defesa da propriedade e a proteção diante das ameaças representadas pelos setores excluídos da população. O horizonte normativo para esta ideia conservadora de democracia é uma sociedade apolítica, livre de debates ideológicos, na qual a preocupação central dos governantes tem a ver com eficiência e honestidade administrativa, na qual a participação e tomada de decisões democráticas sobre o bem comum está claramente restrita a arenas locais. A economia deve ser vigorosamente protegida das reivindicações demagógicas e irresponsáveis, formuladas em nome da democracia. Todas as políticas sociais e redistributivas por parte do Estado são acusadas de ser populistas.
As organizações sociais e políticas — partidos e sindicatos –, que nas décadas anteriores serviram de canal de expressão para demandas populares, não somente estavam em crise, mas tendiam a ser consideradas, pelo novo discurso, como ilegítimas. A imagem paradigmática deste modelo de cidadania é a vizinhança de classe média e classe média alta, com sua capacitação profissional, acesso à mídia, relações políticas pessoais e uso da internet como instrumento de organização. Com a deslegitimação crescente de todas as políticas públicas distributivas e sociais, os setores não-privilegiados do país têm pouco espaço para a expressão e a articulação de seus interesses. Este modelo político poderia ser chamado de Venezuela imaginária, desconectada da Venezuela profunda, na qual está a vida da maioria da população”.
No Brasil, me parece que uma das formas de expressão do que escreveu Lander está na teledemocracia, na “sensação” de participação que as pessoas derivam de sua relação com a mídia, especialmente no caso dos programas de TV com os quais podem de alguma forma interagir.

Fonte: http://www.viomundo.com.br/politica/o-discurso-antipolitica-e-a-participacao-popular.html
Avança o neonazismo nos Estados Unidos

20/09/10
Pátria Latina - A campanha desatada nos Estados Unidos contra o presidente Barack Obama está muito distante de ser apenas uma briga eleitoral. A campanha é, na verdade, o reflexo do avanço do neonazismo, que sempre tem estado latente e que adquiriu no país do norte novos rumos a partir do ano 2000, quando George W. Bush chegou à Casa Branca.

A derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial e o desaparecimento físico de Hitler não significaram o desaparecimento do nazismo, mas sim implicaram na sua expansão através dos servidores públicos de diferentes níveis desse regime que encontraram acolhida em diversos países.

Figuras destacadas conseguiram passaportes com novas identidades, emitidos por respeitáveis instituições e governos.

Assim, aqueles que haviam sido reconhecidos por suas investigações científicas ou seus avanços em matéria de armamentos encontraram refúgio nos países mais desenvolvidos do Ocidente e na União Soviética.

Outros, que eram perseguidos como criminosos de guerra, usaram como esconderijo países menos desenvolvidos,comprando sua proteção a um preço caríssimo.A estes, então, somaram-se grupos que haviam chegado como colonos e que reproduziram seu modelo de organização nos lugares em que se instalaram.

Foram eficientes colaboradores das ditaduras na América Latina e contaram com o respaldo de figuras políticas nacionais e de grupos simpáticos ao nazismo.

Nos Estados Unidos o racismo surgiu junto com a colonização de seu território. Não só os nativos indígenas foram suas vítimas, também os negros, comprados ou sequestrados na África e levados na qualidade de escravos. O grupo mais representativo do que hoje equivaleria ao neonazismo é a Ku Klux Klan.

Obama e a supremacia branca

Transposos estes antecedentes à atualidade, encontramo-nos com um presidente como Barack Obama, que se encontra sitiado por uma oposição que assume as mesmas características do neonazismo. Com Bush sentiam-se representados, combatiam ao muçulmanos, que haviam sido declarados os novos inimigos e que se somavam à lista de velhos inimigos: negros, latinos, judeus, socialistas e homossexuais.

O movimento neonazi do país do norte deriva do Partido Nazista criado nos anos vinte do século passado, que depois se misturou com a Free Society of Teutonia e formou o German-American Bund, que atingiu notoriedade nos anos 30 do século vinte quando Hitler e Mussolini estavam na cúspide do poder.

A derrota da Alemanha os descolocou e ester vieram a reaparecer em 1959 como Partido Nazista da América do Norte, dirigido por Lincoln Rockwell. Na atualidade há vários grupos, o mais importante deles sendo o Aryan Nations, ao que o FBI considera uma ameaça terrorista e a Corporação Rand qualifica de "a primeira organização verdadeiramente terrorista". Mas foi a Aliança para a Supremacía Branca que declarou a guerra a Barack Obama desde que ganhou a nominação à presidência da república. Neste período dois de seus membros foram detidos quando planejavam matar a 102 afroamericanos, dos quais 14 seriam decapitados.

No entanto, seu objetivo principal era matar Obama e, para fazê-lo, tinham planejado vestir-se de smoking branco e usar chapéus de copa. Não se importavam morrer nesse empenho, mas foram detidos a tempo.

Sara Palin, Fox News e o Tea Party

A ofensiva atual contra o presidente estadounidense tem como figura principal a ex candidata republicana à vicepresidência da república, Sara Palin, e seu financiamento corre por conta da rede televisiva Fox News. Esta empresa havia contratado Palin como "comentarista" política a um salário exorbitante.

Outro comentarista estrela desse canal televisivo é Glenn Beck, o mestre de cerimônias do recente meeting efetuado no mesmo lugar em que Martín Luther King pronunciara seu discurso "I have a dream" em defesa dos direitos civis dos negros.

Este ato, em que se acusou a Obama de socialista e de ser um "muçulmano que odeia os brancos", é considerado um ultraje à memora de Luther King e uma provocação.

Há outros grupos empresariais que contribuem com estas mobilizações e à criação de entidades que se opõem às políticas propostas por Obama e que têm conseguido convencer pelo menos 25 por cento dos estadunidenses de que seu presidente é muçulmano e não cristão. A Casa Branca teve inclusive de desmentir o fato.

Mas a campanha segue, e em vardade trata-se de que a direita e a ultra direita estadounidenses consigam ganhar as próximas eleições parlamentares e atinjam a maioria na Câmara de Representantes, com a finalidade de impedir que se aprovem leis que afetems interesses das grandes corporações.

Tudo isto vai gerando, ao mesmo tempo, mobilizações e leis estatais contra as minorias étnicas e os migrantes.

Paralelamente na rádio e na televisão há comentaristas que agridem tanto à população negra como aos latinoamericanos e agora aos muçulmanos nascidos nos Estados Unidos. Este fustigamento aos muçulmanos tem originado episódios como o do médico que era objeto de discriminação e deboche, o que o levou a protagonizar um tiroteio na base militar onde prestava seus serviços.

Mas dos alcances que está registrando a atitude contra muçulmanos de nacionalidade estadounidense, a única preocupação expressada por alguma entidade de governo é a manifestada pela Agência Central de Inteligência. A CIA teme que os acusem de exportar terroristas, porque ante esta situação há muçulmanos norte-americanos que se somaram aos de outros lugares na contramão de seu país natal.

O correlato europeu

E não é só nos Estados Unidos onde cresce o racismo, que por sua vez engrossa as filas do neonazismo. Também na Europa se estão fortalecendo os grupos desse signo, enquanto os governos aplicam políticas xenófobas que afetam às minorias étnicas e religiosas. França e Itália vão à vanguarda.

Tanto os governos francês como o italiano têm endurecido suas leis contra os ciganos. O mesmo fez Hitler, que eliminou a milhares.

Sobre isto, há um vazio na própria União Européia que "reconhece" os ciganos como cidadãos, mas não lhes outorga direito a circular por todo seu território, também não lhes dá direito ao trabalho.

Para não ser menos, os ingleses anunciam que temem atos terroristas dos muçulmanos e tudo sucede justo quando a imprensa estadounidense adverte que se teme uma nova recessão e há dez bancos que poderiam falir nos próximos meses.

Provocar o racismo para ocultar outros problemas faz crescer ao neonazismo.
Fonte: http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=6825:avanca-o-neonazismo-nos-estados-unidos-&catid=98:antifascismo-e-anti-racismo&Itemid=112